Anotações da mulher de Bárcenas implicam Rajoy na corrupção do PP
Rosalía Bárcenas escreveu um "completo catálogo de irregularidades" do PP, hoje revelado pelo jornal 'El Español'
A mulher do ex-tesoureiro do PP Luis Bárcenas, Rosalía Bárcenas, tem anotações que apontam para o envolvimento do chefe do governo espanhol, Mariano Rajoy, no esquema de pagamentos irregulares aos dirigentes do partido.
Barcénas, que geriu as contas do Partido Popular (PP) espanhol durante cerca de 18 anos, está acusado de delitos contra as finanças espanholas, nomeadamente branqueamento de capitais e falsificação de documentos, no chamado caso Gürtel.
Segundo o El Español, que teve acesso aos registos de Rosalía Bárcenas, a mulher do ex-tesoureiro do PP fez por escrito um inventário de toda a documentação detida pelo casal. Nestas anotações, estarão informações comprometedoras para Rajoy.
Esta lista foi elaborada em junho de 2013, depois da detenção de Bárcenas, que manteve com a mulher longas conversas enquanto esteve, no início, sob custódia das autoridades. Trata-se de um "completo catálogo de irregularidades" do PP vinculadas com o financiamento ilegal do partido, remetendo, por exemplo, para pagamento de obras "em casa de Mariano", adianta o jornal. Os manuscritos de Rosalía fazem referência aos pagamentos para trabalhos no domicílio de Rajoy mas detalham igualmente de que modo eram feitas as entregas de dinheiro ao atual governante.
Estes documentos, segundo o El Español, nunca foram entregues a um juiz, devido à guerra interna entre os agentes da Polícia Nacional, nomeadamente entre o ex-comissário dos Assuntos Internos, Marcelino Martín Blas, e o comissário José Manuel Villarejo, que se acusam de ter levado ilegalmente documentos que estavam na posse do ex-tesoureiro do PP durante operações policiais para descobrir a alegada fortuna que Bárcenas escondia, e que ainda não foi encontrada. Seriam usados pelo casal como estratégia de defesa no julgamento.
Bárcenas disse perante a Audiência Nacional espanhola, que julga matérias de especial importância como o terrorismo ou crime organizado, que todos os presidentes, secretários-gerais e vice-secretários do PP recebiam pagamentos por fora e que as verbas eram entregues em mão, dentro de envelopes, uma vez que, legalmente, os cargos que ocupavam não lhes permitiam obter qualquer outra remuneração senão aquela que resultava dos postos na hierarquia da administração pública. Sobre Rajoy, Bárcenas chegou a precisar que as entregas do dinheiro eram feitas por Álvaro Lapuerta, antigo tesoureiro do PP, que se encarregava de lhe fazer chegar as verbas.
No que diz respeito às obras em casa de Rajoy, conforme as anotações da mulher de Bárcenas, chegaram a circular duas versões diferentes, conta o El Español. Na primeira, os trabalhos serviram para reforçar a segurança na casa do presidente do partido e terão sido autorizados pelo PP, podendo mesmo ser oferecidas pelo arquiteto Gonzalo Urquijo - a quem o PP atribuiu a renovação do edifício da sede em Madrid. A segunda versão, refere que terão sido obras de maior envergadura e que foram pagas com o dinheiro da "caixa B" do partido.