02 fevereiro 2016 às 00h18

Adeus Iowa, olá New Hampshire: campanha segue para costa leste

Um rural e um liberal, ambos atípicos, os primeiros estados a organizar primárias favorecem candidatos antissistema.

Helena Tecedeiro

Quando esta madrugada (em Lisboa, final do dia de ontem nos EUA) forem revelados os resultados dos caucus do Iowa, vários candidatos republicanos já estarão no New Hampshire. Os governadores Chris Christie, de New Jersey, e John Kasich, do Ohio, e o ex-governador Jeb Bush, da Florida, quiseram ser os primeiros a chegar ao pequeno estado da costa leste, o segundo a realizar primárias para escolher o nomeado de cada partido às presidenciais de 8 de novembro.

A explicação é simples: nenhum deles acredita ter hipóteses de vencer no Iowa, onde as sondagens mostravam ontem, horas antes do início da votação, Hillary Clinton a ganhar vantagem sobre Bernie Sanders do lado democrata (51% para a ex-primeira-dama contra 43% para o senador, no último estudo Emerson). Do lado republicano, as coisas estão ainda mais renhidas, com a mesma sondagem Emerson a dar Donald Trump, com 27% das intenções de voto, e Ted Cruz, com 26%, quase empatados. Mas a verdadeira surpresa era Marco Rubio. O senador da Florida estava com 22% das intenções de voto, e sempre a subir.

Centro das atenções

Com apenas três milhões de habitantes, o Iowa transforma-se, de quatro em quatro anos, no centro das atenções. Tudo porque, ao lançar as primárias, a sua escolha ganha uma importância desproporcionada. Mesmo este estado do Midwest está longe de representar os Estados Unidos. Ali, os latinos representam apenas 5% da população, quando a nível nacional são mais de 17% dos americanos. Também os negros - 13% da população americana - são apenas 3% no Iowa.

Com uma população rural e os mais velhos (+ de 65 anos) sobrerrepresentados, uma das esperanças de Bernie Sanders - ele próprio com 74 anos - é que a sua mensagem de mudança atraia os jovens a uns caucus em que os cabelos brancos costumam dominar.

Quase tão pouco diverso é o New Hampshire. O estado que fica entalado entre o Massachusetts e o Vermont (sim, o estado de Sanders) partilha com estes vizinhos a matriz liberal. Com uma população mais de 90% branca, esta é uma terra mais rica, mais educada e menos religiosa do que o resto dos EUA. Terreno fértil para candidatos antissistema, portanto, como Trump, do lado republicano, ou Sanders, do lado democrata.

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Mas quanto vale a escolha do Iowa e do New Hampshire? Na verdade, não muito. Se na corrida democrata o Iowa até tem acertado - Barack Obama, John Kerry, Al Gore, Bill Clinton -, os eleitores republicanos têm errado mais - só em 1996, com Bob Dole, e em 2000, com George Bush filho, acertaram no futuro nomeado. O New Hampshire revela melhor pontaria. Foi ali que Bill Clinton se declarou um comeback kid em 1992, depois de obter um segundo lugar que o levaria à presidência, mas sobretudo foi ali que a mulher dele, Hillary, em 2008 obteve a vitória sobre Obama que a manteve mais cinco meses numa corrida. Que acabou por perder para Obama.

Mais do que definir vencedores, tanto o Iowa como o New Hampshire acabam por ajudar a eliminar algumas das candidaturas. É que se uma vitória nas primeiras primárias pode lançar um candidato, ficar abaixo dos dois dígitos é praticamente o fim de qualquer sonho presidencial. Uma exceção? John McCain. Em 2008, o senador do Arizona foi penúltimo no Iowa, com 0,71% dos votos, e no New Hampshire ficou abaixo dos 7%. Mas conseguiu recuperar e obter a nomeação republicana.

Últimos minutos de campanha

No Iowa, a campanha dura até às 19.00 (01.00 de hoje em Lisboa), quando abrem os caucus. Os candidatos, que durante todo o fim de semana percorreram as ruas das principais cidades daquele estado, bateram a portas, conversaram com pessoas nas ruas, aproveitaram as últimas horas antes de os eleitores tomarem a sua decisão numas assembleias populares que decorrem em escolas, ginásios, caves ou até bares.

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As últimas horas antes da votação ficaram ainda marcadas por um episódio insólito: a cantora britânica Adele proibiu Donald Trump de usar as suas músicas em ações de campanha.

O magnata do imobiliário, cujo slogan é "Vamos tornar a América grande de novo", tem recorrido a Rolling in the Deep nos seus comícios. "Adele não deu autorização para que a sua música seja utilizada em qualquer campanha política", garantiu aos media britânicos o porta-voz da cantora.