5 lições que nos mostram que nem tudo parece o que é nas eleições espanholas

Há um novo partido de extrema-direita, mas a direita cai a pique. Os partidos separatistas estão cada vez mais fortes. E o bipartidarismo arrumou definitivamente as botas. Há um novo cenário político em Espanha depois das eleições de domingo.

Baralhar e voltar a dar. Foi isso que aconteceu em grande medida nas eleições gerais deste domingo em Espanha. O PSOE, humilhado nas eleições de 2016, reverteu o tabuleiro a seu favor e agora é a vez de Pedro Sánchez falar. O PP cai a pique, perde votos para Ciudadanos, que cresce, assume-se definitivamente como ator relevante, e morde os calcanhares à direita. A extrema-direita entra na política espanhola com um décimo do eleitorado. O Podemos cai de pé.

Para poder governar, os socialistas vão ter de negociar - provavelmente à esquerda e provavelmente com alguns deputados independentistas. A partir de agora, o xadrez complica-se - e algumas coisas não são o que parecem. Aqui ficam 5 lições relevantes das eleições gerais espanholas. Para perceber o que pode acontecer no futuro.

1. O Vox cria alarme mas, por enquanto, fica longe das decisões

As sondagens davam mais deputados ao partido da extrema-direita, que ainda assim entra a pés juntos nas Cortes Espanholas com 10,3% dos votos e 24 deputados. Mas, sendo certo que o PSOE não quer qualquer tipo de acordo com a formação anti-imigração, o Vox fica por agora condenado a uma oposição que dificilmente fará vingar as suas ideias no parlamento. Ainda assim, com a hecatombe do PP e o fim definitivo do bipartidarismo entre PSOE e PP (que já se anunciava nas últimas eleições após a chegada de Podemos e Ciudadanos), o resultado serve de alerta para o futuro.

2. Espanha mobilizou-se contra os extremos

Quando se pensa que na ponta direita da barricada está o Vox e na esquerda o Unidas Podemos, é legítimo dizer que os partidos mais ao centro reforçaram as suas posições. Em 2016 tinham votado 24 161 083 de cidadãos, quando em 2019 votaram 26 361 051. Os socialistas tiveram mais dois milhões de votos e o Ciudadanos mais um milhão. Pode argumentar-se que o PP desceu, sim, mas a maioria dos analistas aponta um motivo para isso acontecer: ter-se situado mais à direita que ao centro.

3. Toda a direita junta tem em 2019 menos votos que o PP em 2016

Da derrota do PP não há grandes dúvidas: passou de 137 a 66 deputados e de 33,03% dos votos a 16,7. Mesmo que a parte dos eleitores mais à direita se tenha transferido para o Vox, o novo ator partidário espanhol, a verdade é que o PP sozinho tinha em 2016 merecido a confiança de 7 906 185. Agora, não obteve mais de 4 356 023. Se lhe juntarmos os votos do Vox (2 677 173), a direita junta consegue 7 033 196. São menos 900 mil votos do que há três anos, apesar de este domingo ter havido mais 2,2 milhões de eleitores.

4. Os partidos nacionalistas cresceram e não foi pouco

A Esquerda Republicana da Catalunha passou de 9 a 15 deputados, o Partido Nacionalista Basco tinha 6 e passa a 7, e o EH Bildu, da esquerda radical basca, duplicou o grupo parlamentar (de 2 para 4). Há 2 deputados da Coligação Canária, 2 do Navarra Suma, 1 do valenciano Compromìs e outro (uma estreia) do Partido Regionalista da Cantábria. Só o Junts per Catalunya, do antigo primeiro-ministro catalão, Carles Puigdemont contrariou a tendência - passou de 8 para 7. Sánchez terá de negociar com as formações regionais se quiser ver o orçamento de Estado aprovado no parlamento.

5. O Podemos cai, mas ganha poder

Se fossem apenas os votos a contar, o Podemos teria tido uma noite de pesadelo. Passou afinal de 5 049 734 para 3 732 929 votos - e de 71 para 42 deputados. Mas a fraqueza pode não ser tanta quanto seria de esperar. Pedro Sánchez já disse que ia tentar governar sozinho, até porque há linhas vermelhas entre socialistas e Pablo Iglesias - nomeadamente nas questões europeias e na integridade territorial de Espanha. Mas, com os Ciudadanos a recusarem ainda na campanha qualquer acordo com o PSOE, o novo primeiro-ministro vai ter de negociar acordos parlamentares à esquerda para poder governar. E ceder a alguns pontos da agenda do Podemos.

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