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Quando, há 35 anos - 9 de Novembro de 1989 -, os europeus, e o mundo, se viram a transpor o Muro de Berlim, precipitaram-se a concluir que tudo tinha mudado definitivamente e que a humanidade iria caminhar de mão dadas, numa fraternidade universal como nunca tínhamos conhecido.
Achámos todos que o fim da “cortina de ferro” iria acabar com um mundo dividido entre “bons e maus”, os recursos passariam a ser comprometidos com o bem-estar, e as dimensões imperais que a história foi conhecendo eram isso mesmo, história.
Infelizmente o decurso do tempo veio rapidamente demonstrar que nos enganámos, TODOS!
Velhas alianças reconstituiram-se, novas surgiram. Antigas potências retomaram sonhos e dimensões imperiais de que verdadeiramente nunca abdicaram.
E o mundo volta a conhecer o flagelo da guerra, das guerras.
E a guerra, as guerras, assumem hoje, como sempre assumiram, pelo menos desde o Iluminismo, o confronto essencial entre a liberdade e um modelo democrático de sociedade, e a ditadura, a ausência de liberdade individual e colectiva e modelos de estado autocrático.
E nós, europeus, só realizámos a verdadeira dimensão do que se foi passando quando vimos a Ucrânia a ser invadida.
Os vários sinais que foram sendo dados foram grosseiramente negligenciados. Por mais de uma vez países livres identificaram espiões soviéticos, perdão, russos. Agentes que actuaram, por muitos anos, de forma encoberta. Parece, também, não haver dúvidas que as eleições livres e democráticas em que participamos são cibercondicionadas por outros. E, até, a extrema-direita europeia parece ser um Cavalo de Tróia nos nossos parlamentos. Basta recordar as fotos de Marine Le Pen, ou Viktor Orban com Vladimir Putin.
Agora sabemos todos que as forças que estão nas fronteiras europeias da nossa aliança defensiva são adversárias da liberdade. Sabemos, também, que a partir de Janeiro o nosso principal aliado não só não é um cultor dos princípios essenciais do estado de direito, como entende que a Europa deve pagar a sua própria defesa.
Não será tempo de agir?
Agir é, antes de mais, criar uma cultura de segurança e defesa que deixe claro que o que estamos a proteger são os nossos valores e o nosso modelo de sociedade.
Agir é, também, antes que seja demasiado tarde, cumprir a nossa obrigação de afectar à defesa 2% do PIB.
É, por uma vez, ter forças armadas capazes, equipadas e com capacidade autónoma de se projectarem, bem como serviços de informações estratégicas bem dotados.
Se todos nós, europeus, não agirmos a tempo corremos o sério risco de os 2% que hoje não conseguimos realizar, se transformarem em muito mais e sem garantia de alcançarmos o resultado que todos queremos: nascer, viver e morrer como homens livres, numa sociedade livre e organizada com base no primado do direito.