Musk compra Twitter e faz limpeza. Trump elogia, mas não diz se volta

Negócio multimilionário, que chegou a estar em dúvida, acabou por concretizar-se na véspera do último dia do prazo legal. A primeira decisão do novo dono foi despedir a direção.

Estou muito feliz. O Twitter está agora nas mãos de uma pessoa sã, em vez dos doidos da esquerda radical que odeiam o nosso país." Foi desta forma que, esta tarde, o ex-presidente americano Donald Trump celebrou a compra daquela que foi a sua rede social favorita pelo multimilionário Elon Musk, num negócio de 44 mil milhões de dólares concretizado horas antes.

Mas apesar de Musk ter já indicado que tenciona, em nome da liberdade de expressão, levantar a proibição imposta a Trump por más práticas e divulgação de fake news, o anterior inquilino da Casa Branca não revelou se vai regressar ao Twitter. Aliás, continuou a usar exclusivamente a sua nova rede social, a Truth.

Até porque permanece uma incógnita: o que, de facto, vai mudar no Twitter após esta aquisição. Depois de assumir o controlo da empresa, Musk publicou apenas na própria rede social: "O pássaro foi libertado", numa referência ao logótipo da companhia.

Antes tinha escrito: "A razão pela qual [adquiri] o Twitter é porque é importante para o futuro da civilização ter um fórum na cidade digital onde uma vasta gama de crenças pode ser debatida de forma saudável, sem recorrer à violência. Existe hoje um grande perigo de os meios de comunicação social se dividirem em câmaras de eco da extrema-direita e da extrema-esquerda, que geram mais ódio e dividem a sociedade."

O CEO do Twitter, Parag Agrawal, lutou para que Musk fosse o seu novo patrão só para que ele o despedisse como sua primeira medida de gestão.

Depois disto, Musk entrou pela sede da empresa, em São Francisco, carregando uma pia. Fez, obviamente, questão de publicar o momento, em vídeo, no Twitter (imagem no topo desta página), com o comentário: "Entering Twitter HQ - let that sink in!" - fazendo o trocadilho sink = pia ou sink in = metam na cabeça.

A pia, neste meme que Musk quis criar com o referido tweet, teve também um significado mais literal, uma vez que a primeira decisão do novo proprietário foi fazer uma limpeza nos quadros executivos da empresa. Musk despediu de imediato o CEO, Parag Agrawal, bem como o diretor financeiro e o conselho geral do Twitter.

Agrawal viu-se mesmo na irónica situação de ter sido a pessoa que representou a empresa na justiça no processo judicial para obrigar Musk a honrar o compromisso de comprar a rede social, após o empresário ter anunciado que pretendia anular este acordo (um processo que acabou por não chegar à barra do tribunal devido ao facto de o negócio se ter concretizado na véspera do último dia do prazo legal).

Ou seja, Parag Agrawal lutou para que Musk fosse o seu novo patrão só para que ele o despedisse como sua primeira medida de gestão.

Muito barulho por...

Além de Trump, mais algumas figuras públicas reagiram à notícia da concretização do negócio que se esperava já há mais de seis meses.

O multimilionário Mark Cuban, figura conhecida por fazer parte do júri do reality show Shark Tank, disse à AFP que espera mudanças positivas: "Ele é um empresário que está pronto, dispara e depois mira, que vai insistir na sua independência para mostrar a toda a gente quem é que manda."

Já o crítico de media Jeff Jarvis tem uma abordagem mais cautelosa e critica os despedimentos. "Ele está a afastar adultos responsáveis, com especialidade e experiência. É preciso ter cuidado com isso", afirmou.

Ainda mais crítica foi a ativista e escritora Amy Siskind, que afirmou temer que Musk destrua a rede social, gerindo-a ao seu estilo. "Agora estamos à mercê de um homem-bebé narcisista, cujo ego é inchado por ditadores. O que é que pode correr mal?", interroga ironicamente.

Esta atitude é refletida por uma quantidade de pessoas - muitas ligadas às artes ou aos meios académicos -, que veem na prometida abordagem para o futuro da rede social um verdadeiro faroeste promotor do discurso de ódio.

E as garantias dadas por Musk, de que "o Twitter, obviamente, não pode ser um lugar infernal, aberto a todos, onde qualquer coisa pode ser dita sem consequências" não serão suficientes.

Isto porque, na realidade, não se percebe bem como pretende o novo patrão conciliar o seu princípio de máxima liberdade de expressão com estas suas mais recentes palavras. Isto sem, basicamente, fazer mais ou menos o mesmo que o Twitter já faz atualmente.

Negócio com altos e baixos

O compromisso de compra do Twitter por 44 mil milhões de dólares (o mesmo valor em euros) fora assinado entre Musk e o Twitter a 25 de abril deste ano. Para angariar o dinheiro necessário, o multimilionário vendeu então 8,4 mil milhões em ações da produtora automóvel Tesla e prometeu usar até 21 mil milhões da sua fortuna pessoal, tendo conseguido mais alguns milhões em contribuições de amigos.

Mas em poucas semanas as coisas azedaram, porque Musk começou a duvidar dos dados que lhe estavam a ser apresentados pela empresa, nomeadamente os relativos ao número de utilizadores reais ativos da rede. Para o empresário, a quantidade de contas falsas ou de bots (sistemas automáticos) em funcionamento no Twitter era bem maior do que a direção reconhecia, o que desvalorizava muito a empresa.

A situação caiu em aparente rotura completa dois meses depois, quando o empresário anunciou querer anular o negócio. A organização reagiu rapidamente, com uma ação em tribunal para o obrigar a honrar o contrato-promessa assinado, mas o processo acabou por não ser necessário, com Twitter e Musk a reconciliarem-se e o "casamento" a acontecer mesmo nesta madrugada.

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