13 dezembro 2017 às 16h02

Voluntários reabilitam casa em 'ilha' de Campanhã ao abrigo do 'Porto Amigo'

Cerca de 100 voluntários reabilitaram em quatro meses a casa de Mário Lapa localizada numa 'ilha' perto de Campanhã, ao abrigo do programa 'Porto Amigo', cuja nova meta é intervir em mais uma centena de habitações em quatro anos.

Lusa

"Este Natal já vai ser melhor. A casa está muito diferente e estou muito feliz", disse hoje o morador da casa 1 do n.º 127 da rua Justino Teixeira quando recebia a visita de jornalistas e dos promotores do 'Porto Amigo', incluindo a do presidente da câmara, Rui Moreira.

O projeto não é novo, tem oito anos, mas esta foi a primeira, de um total de 20 casas já reabilitadas, que levou os jovens estudantes universitários da iniciativa 'Just a Change' para o terreno.

Ao todo passaram pela casa de Mário Lapa, padeiro de 55 anos, em turnos de cinco pessoas, mais de uma centena de voluntários cuja formação pode ser de arquitetura ou engenharia, mas também de artes ou medicina. Receberam instruções de um mestre de obras e construíram uma casa de banho, arranjaram chão, telhado, paredes, canos, "praticamente tudo" como descreveu Simão Oom da 'Just a Change'.

"Isto não muda só a habitação, muda a vida das pessoas. Notámos, por exemplo, um antes e um depois. Um senhor Mário introvertido passou a almoçar diariamente com os voluntários que agora até cá passam para o visitar e dar um beijinho", descreveu o diretor de operações.

Com o apoio de uma intérprete de língua gestual, Mário Lapa, que é surdo e vive há 52 anos na casa intervencionada, sendo beneficiário do Rendimento Social de Inserção (RSI), confirma a versão de Simão Oom ao correr à sala para mostrar a imagem onde ele e a namorada Lurdes surgem rodeados de jovens e vizinhos, uma foto tirada quando a obra na casa foi concluída e se fez uma festa.

"É tão bom ter a casa de banho dentro de casa. Antes tinha medo de ir de noite porque era fora. Agora é tudo diferente", repetiu o morador sinalizado pela Junta de Freguesia de Campanhã por, contou o técnico da autarquia José António Pinto, "viver numa casa muito degradada, mas num local onde encontrou um carinho muito especial por parte da comunidade".

"Além do conforto e da segurança, consideramos importante manter as pessoas onde estas se sentem bem", apontou o responsável que estima que Campanhã tenha, "pelo menos, mais 20 famílias a necessitar de usufruir de um programa semelhante".

As obras nesta casa custaram cerca de 9.000 euros e demoraram cerca de quatro meses. Os voluntários recorreram aos cafés dos arredores para irem à casa de banho. Já se fossem precisas extensões de energia ou uma pinga de água, os vizinhos "estavam sempre prontos a ajudar".

O 'Porto Amigo' está atualmente a ser implementado numa outra casa em Lordelo, tratando-se de um programa que junta as instituições públicas, com a tarefa de sinalizar possíveis beneficiários, e instituições privadas como a Fundação Manuel António da Mota que financia parte das intervenções.

Soma-se a parceria da Portugal Inovação Social que aloca ao 'Porto Amigo' fundos comunitários e tem atualmente no terreno 35 projetos "de impacto social", no total de 10 milhões de euros espalhados pelo Norte, Centro e Alentejo, como descreveu o presidente Filipe Almeida.

Além do trabalho dos voluntários da 'Just a Change', que opera em Lisboa desde 2010, também é novidade a alteração ao regulamento para possíveis beneficiários, que agora permite candidaturas de pessoas com mais de 60 anos ou com incapacidade superior a 60%.

"A entrada da 'Just a Change' permite alargar o projeto. E também valorizamos muito o envolvimento dos jovens no projeto. Os objetivos futuros são ambiciosos: nos próximos quatro anos acreditamos que será possível reabilitar 100 casas", disse o presidente da comissão executiva da Fundação Manuel António da Mota, Rui Pedroto.

Também o vereador da Habitação e Coesão Social do Município, Fernando Paulo, valorizou o empenho dos voluntários e o facto de as pessoas não serem desenraizadas ao recorrerem a estes programas e admitiu: "o Porto tem um grave problema ao nível da habitação".

"Este 'Porto Amigo' é também um 'Porto Seguro'. Mais do que ter um empreiteiro a fazer a obra, tivemos cidadania. A câmara está a rever o programa de emergência social e a tentar encontrar novas parcerias e estamos a trabalhar para que existam comissões sociais em todas as freguesias com reuniões mensais", revelou Fernando Paulo, segundo o qual existem cerca de 1.000 famílias em lista de espera para habitação social.

Tópicos: economia