08 novembro 2018 às 18h28

Líder da CES pede a Costa para pôr direitos sociais no centro da campanha europeia

O secretário-geral da Confederação Europeia dos Sindicatos (CES), o italiano Luca Visentini, apelou hoje ao primeiro-ministro para que coloque as questões dos direitos sociais e do crescimento sustentável no centro do debate nas eleições europeias.

Lusa

Esta posição foi transmitida pelo líder da CES no final de uma reunião de cerca de uma hora com o primeiro-ministro, António Costa, em São Bento, na qual também estiveram presentes os secretários-gerais da CGTP-IN, Arménio Carlos, da UGT, Carlos Silva, e o ministro do Trabalho, Vieira da Silva.

"Penso que os partidos progressistas de esquerda devem pôr os assuntos dos direitos sociais e do crescimento sustentável no coração do debate, em alternativa às questões da imigração ou da segurança. Temos de colocar em marcha as respostas às preocupações da população trabalhadora", declarou Luca Visentini.

Luca Visentini disse, depois, que esse foi precisamente o tópico nuclear da conversa que manteve com o primeiro-ministro português e com o seu ministro do Trabalho.

Perante os jornalistas, tendo ao seu lado os líderes das confederações sindicais portuguesas, o secretário-geral da CES advertiu para os perigos inerentes ao crescimento de correntes populistas no continente europeu e defendeu a criação de uma Autoridade Europeia para o Trabalho, como forma de prevenir abusos e situações de exploração, e a aplicação da diretiva europeia para o estabelecimento de direitos mínimos em empregos precários.

Já sobre a escolha do Partido Popular Europeu (PPE) para que o alemão Manfred Weber seja o seu candidato a presidente da Comissão Europeia, o italiano considerou que se evitou a opção pior que seria a do ex-primeiro-ministro finlandês Alexander Stubb.

"O PPE não é o meu partido, não cabe à CES dizer o que o PPE deve fazer, mas tenho de referir que quando Alexander Stubb foi primeiro-ministro não teve o diálogo social como prioridade, sendo, claro, um neoliberal. Não posso dizer que Manfred Weber seja um campeão da Europa social, mas, certamente, pelo seu passado, terá uma maior abertura ao diálogo", sustentou.

Para o secretário-geral da CES, Manfred Weber, caso seja presidente da Comissão Europeia, poderá "provavelmente dar melhor continuidade" ao trabalho desenvolvido por Jean-Claude Juncker.

O secretário-geral da CGTP-IN recusou o binómio político entre conservadores e sociais-democratas e defendeu que, ao longo dos últimos anos, tem-se verificado que as políticas destes dois blocos políticos "foram idênticas".

"Não foram muito diferentes nas conclusões e, sobretudo, nas suas consequências. O que de pior em Portugal foi implementado está agora a ser alargado a países da Europa Central e do Norte. Promove-se um ataque muito significativo contra a contratação coletiva, procurando substitui-la pela relação individual do trabalho, com precarização das relações laborais, com uma injustíssima distribuição da riqueza e com maior desregulação dos horários em prejuízo da articulação com a vida familiar. É preciso romper e mudar de políticas", sustentou Arménio Carlos.

Para Arménio Carlos, verifica-se uma subida significativa da extrema-direita "porque, em termos europeus, não se apostou na resposta às necessidades e anseios dos trabalhadores, dos povos e dos países".

Já o secretário-geral da UGT manifestou-se apreensivo com o crescimento de fenómenos de racismo, xenofobia e populismo na Europa e responsabilizou neste ponto a sua família política.

"Esta onda de xenofobia e de populismo que tem aparecido na Europa também é em parte responsabilidade de governos de centro-esquerda e sociais-democratas quando estiveram no poder, porque as expectativas geradas não foram devidamente correspondidas. Depois de políticas de austeridade tremendas, temos hoje vários altos quadros das União Europeia a pedirem desculpa a Portugal", observou Carlos Silva.

Tal como o líder da CES, Carlos Silva afirmou ter também apelado a António Costa para que ajude a colocar no centro da agenda europeia as questões do pilar europeu dos direitos sociais, a par do combate à xenofobia e ao racismo.

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