30 março 2019 às 05h00

Idai: Família, amigos e comunidades devem dar amparo psicológico às vítimas - psicóloga

A psicóloga moçambicana Dália Matsinhe defendeu que a família, amigos e comunidades vão ser fundamentais para o amparo psicológico das vítimas do ciclone Idai, suscetíveis de desenvolver stress pós-traumático.

Lusa

"Quando as pessoas se veem envolvidas pelas tarefas e assuntos normais pós desastre, podem ficar stressadas. Este stress depende muito do apoio e ajuda que as vítimas sobreviventes possam ter de outros, como família, amigos e comunidades", frisou a psicóloga, mestre do ISCTE, em Portugal.

Assim, "o trauma sentido não permanece apenas nas vítimas", mas pode incluir "as pessoas que assistem e se preocupam com elas e suas situações, como familiares, pessoas que assistem ou ouvem as noticias, técnicos ou assistentes de auxilio em estados de emergência".

A perda de uma base segura, como casa e comunidade, por motivos de desastres naturais, pode ter impactos psicológicos significativos, não só pelo impacto na altura da perda, mas pelo que acontece 'a posteriori', como a reconstrução.

Nas crianças, a ansiedade, depressão e stress devem merecer uma atenção redobrada, apesar de esse grupo etário poder mostrar uma capacidade de resiliência surpreendente.

"A boa notícia é que a maior parte das crianças são resilientes, mesmo depois de um desastre natural ou outro evento traumatizante", comentou.

A duração dos efeitos psicológicos nas vítimas será relativa, dependendo de indivíduo para indivíduo e do apoio recebido, mas "os desastres naturais deixam sempre sequelas potencialmente traumáticas ao nível experiencial, bem como vivencial".

Para lidar com o impacto psicológico do ciclone, as instituições do Estado, sociedade civil e a família devem mobilizar-se no amparo material e afetivo das vítimas.

"Sei de colegas que foram para os locais afetados pelo ciclone e não considero que o apoio psicológico esteja a ser negligenciado, mas poderia ser maior, se houvesse no país formação e preparação para tal", sublinhou Dália Matsinhe.

O número de mortos provocados pelo ciclone Idai e as cheias que se seguiram subiu para 493 em Moçambique, anunciaram esta sexta-feura as autoridades moçambicanas.

O último balanço aponta ainda para 1.523 feridos e 839.748 pessoas afetadas pelo desastre natural de 14 de março em diante.

Tópicos: internacional