23 fevereiro 2019 às 08h44

Guiné-Bissau/Eleições: Campanha sem barulho é sinal de "medo ou fraqueza"

O barulho é uma das características das campanhas eleitorais na Guiné-Bissau e fazê-lo é sinal da força dos partidos políticos, até porque a ausência de ruído é sinal de "medo ou fraqueza".

Lusa

Por estes dias, a cerca de duas semanas das eleições legislativas, os apitos, os tambores, os megafones e os carros com colunas em volume máximo ouvem-se por toda a parte, principalmente na capital, Bissau.

Todos os partidos guineenses têm de ter na sua campanha o maior barulho possível para chamar a atenção, mas também para "chatear a concorrência", como explicam os militantes. Para um candidato ou um partido entrar num bairro tem que ser antecedido de uma ação de 'batedores' com megafones, comprados no mercado do Bandim ou importados da China, a anunciar um comício.

Assim, estar em casa e ouvir, aos berros, apelos em nome de um partido ou de um candidato é normal em qualquer bairro ou terra da Guiné-Bissau, por estes dias.

"O barulho faz parte da festa, porque é uma atração", disse à Lusa Mário da Silva Monteiro, habitante de Kupilon de Cima, um dos bairros de Bissau.

Um outro habitante daquele bairro explicou que é "carnaval e até anima" as pessoas, que convivem, e "até se bebem umas cervejas", salientando que o "barulho é normal no período da campanha".

A chegada de um candidato ou de uma delegação de um partido é que não pode ser em silêncio.

Entrar num bairro ou chegar a uma terra para uma ação de campanha sem fazer barulho é sinal de "medo ou fraqueza", explicaram vários animadores partidários.

A juntar aos apelos do megafone, está, sempre, o rufar dos tambores, para animar as mulheres e raparigas que seguem na caravana.

O rufar dos tambores, pelo vigor que os 'djidius' (tocadores e cantores) emprestam à ação, convida logo as mulheres para um "pezinho de dança" do lendjô, mbelebeletchô ou apenas sarbedeu (danças guineenses).

A concorrência ou os apoiantes têm que sentir a presença do candidato ou do partido naquela zona da campanha.

Já com os candidatos ou os elementos do partido instalados no lugar do comício entram em cena os apitos.

Fazer soar os apitos de todas as cores, de plástico e pendurados ao pescoço, é uma tarefa que mobiliza todos os que se juntam à campanha eleitoral.

Parece um concerto de apitos. Todos têm que soprar com força. É preciso fazer muito barulho, que só para quando começa o comício.

Na Guiné-Bissau, é difícil assistir a um comício sem encontrar uma pessoa com um megafone em riste ou aos berros, sem ouvir o rufar dos tambores e sem ser surpreendido com um sonoro sopro de um apito nos ouvidos.

A juntar à campanha eleitoral para as legislativas de 10 de março na Guiné-Bissau, alguns bairros de Bissau recebem também as manifestações de apoio de senegaleses aos candidatos às eleições presidenciais do Senegal, que se realizam domingo.

"Sem barulho não há campanha", disse à Lusa uma habitante de Kupilon de Baixo.

A campanha eleitoral termina a 08 de março. Concorrem às legislativas, 21 partidos políticos.