Eleições/RDCongo: Kabila despede-se dos congoleses e pede apoio a Tshisekedi
O Presidente cessante da República Democrática do Congo (RDCongo), Joseph Kabila, despediu-se da nação, elogiando a alternância pacífica do poder e pediu apoio para o seu sucessor, o opositor Felix Tshisekedi, que hoje toma posse.
"Peço-vos que apoiem o Presidente eleito de forma esmagadora, da mesma forma que me fizerem durante os meus 18 anos no comando do país. O novo chefe de Estado poderá contar comigo", afirmou Kabila, num discurso emitido pela televisão estatal da RDCongo no final do dia de quarta-feira.
Na sua última mensagem dirigida à nação como chefe de Estado, Kabila convidou o até agora opositor Tshisekedi a "preservar os valores provenientes dos pais da independência e a proteger o país dos seus predadores".
O Presidente cessante defendeu ainda a vantagem de uma criação de uma "grande coligação de todas as forças progressistas do país, para o bem do mesmo".
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Kabila sublinhou a herança política que deixa, afirmando ter "feito muito, sem pretender fazer tudo" e nunca ter traído o seu "juramento".
A tomada de posse de Tshisekedi, prevista para as 12:00 locais (11:00 TMG) de hoje, numa cerimónia no palácio presidencial em Kinshasa, representa a primeira transição de poder pacífica de um Presidente para o seu sucessor na RDCongo desde a independência da Bélgica, em 1960, ano em que tomou posse Patrice Lumumba, primeiro mandatário eleito do novo país independente, assassinado um ano depois.
O Presidente eleito, de 55 anos e filho do histórico opositor Étienne Tshisekedi, será o quinto Presidente da República do país, ao suceder a Joseph Kabila, que prestou juramento em 26 de janeiro de 2001, dez dias depois do homicídio do seu pai e antecessor, Laurent-Désiré Kabila, por um guarda-costas.
Tshisekedi venceu as eleições do passado dia 30 de dezembro, com 38,57% dos votos, seguido do também opositor Martin Fayulu, com 34,86%, um resultado divulgado pela Comissão Eleitoral Independente (CENI) e validado pelo Tribunal Constitucional.
A vitória de Tshisekedi tem, porém, sido alvo de contestação por Fayulu, que se assume como "Presidente eleito" e acusa Kabila de ter levado a cabo uma "fraude eleitoral", com a conivência de Tshisekedi.
A versão de Fayulu é apoiada por várias entidades, entre elas a Conferência Episcopal Congolesa, que deslocou mais de 40 mil observadores para várias estações de voto em todo o país.
Uma investigação divulgada pelo diário britânico Financial Times aponta que os dados das estações de voto eletrónico utilizadas nas eleições, correspondentes a 86% dos votos escrutinados em todo o país, mostram a vitória de Fayulu, com 59,4% dos votos, contra 19% dos boletins escrutinados a favor de Tshisekedi e 18% dos votos recebidos por Emmanuel Shadary, o terceiro candidato mais votado, delfim de Kabila.
Depois de várias hesitações - e após a validação pelo Tribunal Constitucional da RDCongo dos resultados divulgados pela Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI) --, a União Africana e a União Europeia indicaram através de um comunicado conjunto que estavam disponíveis para "trabalhar com o Presidente Tshisekedi e com todos os partidos congoleses".
Tshisekedi deverá escolher um chefe de Governo entre os deputados pertencentes à maioria parlamentar, apoiante de Joseph Kabila.