Local
16 maio 2022 às 05h00

Super-quarteirões pedonais e mais Carreiras de Bairro. Algumas das propostas do Conselho de Cidadãos 

Este fim de semana realizou-se a primeira edição da iniciativa que reúne 50 pessoas com idades entre os 17 e os 82 anos, uma experiência que Carlos Moedas classifica como "extraordinária". Representantes do grupo vão agora trabalhar nas propostas diretamente com a câmara.

Um grupo de 50 pessoas, com idades entre os 17 e os 82 anos, esteve reunida este fim de semana no Salão Nobre dos Paços do Concelho naquele que foi o primeiro Conselho de Cidadãos de Lisboa e no qual o tema em discussão eram as alterações climáticas. No final dos dois dias de trabalho foram apresentadas várias ideias e que vão desde o alargamento da gratuitidade dos transportes públicos na capital, à criação de super-quarteirões pedonais, ao alargamento do serviço Carreiras de Bairro da Carris, entre outras, num total de sete grandes propostas.

"As pessoas querem realmente trabalhar nas soluções com os políticos, não querem apenas dar uma opinião, querem trabalhar. E durante dois dias, pessoas que não se conheciam estiveram aqui a trabalhar em conjunto e a trabalhar no desenvolvimento das ideias e foi realmente extraordinário. Acho que foi um momento muito bom, e foi um início extraordinário. Isto é apenas o início de um processo e estamos muito entusiasmados", disse o presidente da Câmara de Lisboa ao DN no final dos trabalhos.

Carlos Moedas fez uma intervenção no sábado de manhã, uma espécie de pontapé de saída dos trabalhos, e voltou a contactar com o painel sorteado de 50 pessoas no domingo, para ouvir as propostas que tinham saído deste Conselho de Cidadãos. "Não havia influência política, foi o Fórum dos Cidadãos e a Universidade de Lisboa, com o ICS, que fizeram, no fundo, todo o trabalho de estar com as pessoas, de avaliar o que se estava a passar, de trabalhar com elas, para não haver interferência política e, portanto, foi totalmente aberto", garantiu o autarca. "É realmente uma experiência extraordinária. Eu estava ali agora a despedir-me das pessoas e as pessoas estavam a sentir isto como uma experiência muito única e saem daqui muito contentes no sentido em que participaram, que fizeram, que participaram nas políticas públicas. E é esse o passo que a política tem de dar. E, portanto, é esse primeiro grande passo que estamos a dar com o Conselho de Cidadãos".

Os participantes desta reunião trabalharam em sete grandes propostas, sendo que cada uma delas tem várias outras. Segundo Carlos Moedas, " [eles] tiveram aqui coisas muito interessantes". Um dos temas em cima da mesa foi o alargamento da gratuitidade dos transportes públicos em Lisboa, uma medida recentemente aprovada pela autarquia, mas também a criação de mais Carreiras de Bairro, linhas da Carris que servem pequenas zonas da cidade.

"Tiveram uma ideia que eu penso que é fantástica, que é ter um jardim em cada esquina, ou seja, ter árvores nas esquinas, que é um conceito diferente", enumera o autarca lisboeta. "Depois tiveram a ideia dos super-quarteirões, em que nós podemos pensar nestes super-quarteirões, fazê-los pedonais, mas trabalhar com as pessoas. Por exemplo, se nesse quarteirão há uma rua em que vivem pessoas mais de idade que têm de ter acesso a um carro então aí não se fecha à circulação, mas pode-se fechar noutra parte do quarteirão".

A questão da literacia no âmbito das alterações climáticas também foi proposta e houve duas ideias que Carlos Moedas diz terem-no tocado particularmente. "Uma que tem a ver com aquilo que agora se chama a gamification, ou seja, utilizar aplicações na internet para que as crianças tenham mais vontade de fazer coisas elas próprias pelo planeta, utilizar um jogo em que, se os miúdos naquele dia fazem mais pelo planeta, ou reciclam mais, ganham pontos, e, no final da semana, podem comparar com os amigos: ver que uns fizeram mais pelo planeta do que os outros e, portanto, torna-se dinâmico", refere.

A outra proposta é usar meios como a televisão ou plataformas de streaming, como a Netflix, para exibir minisséries ou até telenovelas sobre as cidades e como é que as pessoas podem mudar as coisas nas cidades. "Eu ouvi esse exemplo na Europa agora com uma nova série que se fez sobre o Parlamento Europeu e que está a ter um efeito enorme, porque as pessoas não conhecem o Parlamento Europeu e agora estão a ver como é que aquilo funciona", declara o autarca.

O passo seguinte, e que deveria ser feito ainda este domingo, era cada um dos grupos de trabalho deste Conselho de Cidadãos eleger um representante que irá trabalhar nas suas propostas junto dos serviços da Câmara de Lisboa e em reuniões.

As inscrições para o segundo Conselho de Cidadãos abrem já esta segunda-feira, mas aqueles que se inscreveram para a primeira edição - foram recebidas 2351 inscrições - ficaram na base de dados. Ou seja, os sorteios são sempre cumulativos, quem lá está pode ser sorteado.

Carlos Moedas garantiu ao DN que a segunda reunião se vai realizar ainda este ano, mas que ainda não há uma data, nem tema, definidos. "Já há planos e estamos a trabalhar isso. Aho que temos temas muito importantes para continuar a discutir, vamos ainda defini-los, mas podemos falar desde temas da digitalização, temas que têm a ver com os grandes projetos para cidade, tudo isso são temas que nós vamos tratar nos Conselhos de Cidadãos futuros. Mas agora vamos avaliar qual é o melhor tema para o próximo. Vamos também aprender com este, com a avaliação que vai ser feita pela Universidade de Lisboa, e ver como é que podemos fazer melhor".

ana.meireles@dn.pt