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06 outubro 2022 às 14h19

Legionella detetada no polo de Higiene Urbana nos Olivais. Funcionários revoltados com a Câmara de Lisboa

Bactéria foi detetada no balneário masculino do Centro Operacional de Remoção. Trabalhadores queixam-se de falta de informação e de se verem impossibilitados de tomarem duche no final do turno. Autarquia refuta as acusações.

O primeiro sinal de alerta surgiu na semana passada, quando vários funcionários do Centro Operacional de Remoção, o polo dos Olivais dos serviços de Higiene Urbana da Câmara Municipal de Lisboa, começaram a sentir-se indispostos. Inicialmente, muitos deles pensaram que poderia ser uma virose, mas análises feitas no início desta semana confirmaram a existência de Legionella pneumophila no balneário masculino, que foi encerrado, conforme foi anunciado através de um aviso escrito com a data de terça-feira. Os trabalhadores daquelas instalações queixam-se de falta de informação e acusam a autarquia de não pagar os exames médicos necessários para o despiste da bactéria.

"Durante a semana passada, muitos colegas, incluindo eu, estivemos indispostos, só que pensámos que era uma virose que andasse aí agora com o início da escola. Mas há uns três dias vieram fazer análises porque havia muitas queixas de pessoas indispostas e detetaram que havia a bactéria da Legionella", conta ao DN um funcionário do Centro Operacional de Remoção, que pediu anonimato. "Fizeram os testes, descobriram qual era a fonte, que seria só no balneário masculino e depois fecharam-no. O balneário, as casas de banho, o bebedouro, a máquina de café, fecharam essas coisas todas, o que impossibilita os funcionários de tomarem banho quando acabam o trabalho. O que causou uma pequena revolta entre alguns funcionários", acrescenta a mesma fonte, referindo ainda que o foco de Legionella foi detetado num chuveiro.

Esta revolta - que se verificou principalmente entre os funcionários do turno noturno, aqueles que fazem a recolha dos resíduos urbanos durante a noite - não se prende só com o facto de se verem impedidos de tomar duche no balneário no final do turno. "Havia muitos com alguns sintomas e não se preocuparam nem em avisar os que já tinham trabalhado nesse dia. Avisaram apenas com um papel quando nos apresentámos ao trabalho, e não se preocuparam em mandar aqueles que estavam indispostos já há uma semana fazer exames ao hospital. Disseram que quem estivesse com sintomas para ir ao hospital por nossa conta", prossegue o mesmo funcionário. "Nós é que temos ido à net ver o que era, os sintomas que tínhamos".

O tal papel é um aviso assinado pelo diretor municipal da Higiene Urbana da Câmara Municipal de Lisboa, com a data de 4 de outubro, esta terça-feira, em que é dito que "na sequência de análises de rotina em contexto de procedimento preventivo foi detetada Legionella pneumophila no balneário masculino do Centro Operacional de Remoção, pelo que nos termos da Lei n.º 52/2018 de 20 de agosto, estas instalações estarão temporariamente fechadas para desinfeção".

José Vítor Reis, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML), diz que foi informado pela direção dos Recursos Humanos da autarquia da existência de Legionella no Centro Operacional de Remoção, onde trabalham quase 400 pessoas, na terça-feira à noite. "A informação que tenho é que eles detetaram que há lá um caso, daí o encerramento do dito balneário, e que iam repetir as análises hoje".

Sobre as queixas dos funcionários relativamente aos banhos no final dos turnos, José Vítor Reis refere que a autarquia também o informou logo na terça-feira à noite de que os funcionários afetados poderiam usar outras instalações, num edifício diferente, a cerca de 150 metros. "Podem mudar de roupa no sítio que usam habitualmente e tomar banho no balneário que há dentro do complexo e que é usado pelo pessoal das oficinas", explica o líder do STML.

Contactada pelo DN, a Câmara de Lisboa garante que "de imediato, para os trabalhadores que o pretendessem, foram asseguradas as condições para que os mesmos pudessem efetuar a sua higiene após o turno", no caso, o balneário referido pelo presidente do STML.

Sobre o facto de vários funcionários estarem com sintomas de indisposição desde a passada semana, José Vítor Reis preferiu não comentar, alegando que, até ao momento, o sindicato não tinha conhecimento destas situações. Já a autarquia refere que "até à data não houve nenhum contacto, pelo que desconhecemos que haja quaisquer trabalhadores indispostos ou com sintomas respiratórios". A Câmara de Lisboa classifica ainda como não sendo verdadeira a informação prestada ao DN por parte dos funcionários relativa aos exames médicos. "É falso que seja pedido aos trabalhadores da CML o pagamento de quaisquer exames. Todos os dias o Departamento de Saúde, Higiene e Segurança tem exames ocasionais de Medicina no Trabalho, marcadas no próprio dia".

Uma outra queixa é a falta de informação prestada aos funcionários sobre esta bactéria. José Vítor Reis adianta que sugeriu à autarquia que fosse disponibilizada informação, por exemplo, sobre os sintomas, enquanto que a CML refere ao DN ter sido "elaborada uma ficha informativa para os trabalhadores sobre a Legionella pneumophila".

dnot@dn.pt