Putin justifica guerra ao alegar existência de "enclave antirrusso"
No exclave de Kaliningrado, líder russo volta a 2014 e culpa "golpe de Estado" de então. Sergei Lavrov ameaça Moldávia.
O líder russo voltou a falar publicamente sobre a decisão de lançar a invasão da Ucrânia. Desta vez perante jovens que se distinguiram em competições escolares de Kaliningrado, Vladimir Putin justificou a "operação militar especial": "A Ucrânia começou a criar um enclave antirrusso que ameaça o nosso país". Já o chefe da diplomacia russo assestou baterias contra a Moldávia, ao dizer que qualquer ação vista como potencialmente perigosa para as tropas russas estacionadas naquele país será vista como um ataque à Rússia.
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De visita a uma escola do exclave de Kaliningrado (rodeado pela Polónia e Lituânia) para marcar o início do ano letivo, o presidente da Rússia protagonizou uma sessão de perguntas e respostas sobre vários temas, intervenção militar de Moscovo na Ucrânia incluído.

Putin foi falar com jovens em Kaliningrado numa iniciativa transmitida pela televisão estatal russa.
© EPA/GAVRIIL GRIGOROV / SPUTNIK
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Depois de afirmar, sem explicar, em que sentido é que Kiev estaria a criar um "enclave antirrusso" - referir-se-ia a toda a Ucrânia exceto os territórios ocupados da Crimeia e do Donbass? -, disse: "Na verdade, iniciaram uma guerra contra nós que durou oito anos. A nossa tarefa, a missão dos nossos soldados, é acabar com esta guerra, defender o povo e, claro, proteger a própria Rússia".
Não só acusou a Ucrânia de iniciar a guerra, como voltou a ver na revolta popular que depôs o pró-russo Yanukovich um golpe de Estado que justifica as ações de Moscovo. "Todos consideram que há agressão da Rússia, mas ninguém sabe ou compreende que após o golpe de Estado de 2014 na Ucrânia os habitantes de Donetsk e Lugansk, na sua maioria, e os da Crimeia não quiseram reconhecer os resultados do golpe de Estado."
"Na verdade, iniciaram uma guerra contra nós que durou oito anos", afirmou Putin sobre o conflito no Donbass.
O território fortemente militarizado de Kaliningrado foi notícia em junho, depois de a Lituânia ter aplicado as sanções europeias de uma forma mais dura, e proibido o trânsito ferroviário de mercadorias entre o restante território russo e o exclave. Vilnius acabou por ceder depois de Bruxelas indicar que se devia permitir o trânsito de mercadorias russas, à exceção de armas. No entanto, estas acabam por chegar ao território. Há duas semanas, a Rússia disse ter destacado três aviões com mísseis hipersónicos para Kaliningrado.
No dia em que Ravil Maganov, presidente da petrolífera Lukoil e crítico da guerra, foi dado como morto por suicídio, aumentando a lista de pessoas que morrem em resultado de quedas de edifícios naquele país, o ministro dos Negócios Estrangeiros voltou a pôr no tabuleiro a hipótese de o conflito se espalhar para um território vizinho da Ucrânia.
"Todos devem compreender que qualquer tipo de ações que constituam uma ameaça à segurança dos nossos militares será considerado, de acordo com o direito internacional, como um ataque à Federação Russa", disse Sergei Lavrov em referência ao contingente estacionado na Transnístria, território de facto independente da Moldávia.
O diplomata acreditado em Chisinau foi convocado para prestar "esclarecimentos" sobre esta ameaça velada.
Na Ucrânia, depois de a equipa de 14 peritos da Agência Internacional de Energia Atómica ter visitado a central nuclear de Zaporíjia, cinco ficaram nas instalações para prosseguir o trabalho. Segundo o diretor da agência, Rafael Grossi, a "integridade física da central foi violada em várias ocasiões" e reiterou que o objetivo é manter uma equipa no local.
cesar.avo@dn.pt
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