Putin diz-se recetivo a desbloqueio marítimo enquanto se luta por Severodonetsk

Enquanto as tropas russas estão a ponto de começar o assalto à última cidade de Lugansk nas mãos ucranianas, o seu líder sugere iniciativa diplomática com a Turquia para se abrir o comércio marítimo de cereais.

As tropas russas chegaram às portas de Severodonetsk, a última cidade na região de Lugansk ainda sob controlo ucraniano. Enquanto os Estados Unidos, pela voz do seu presidente, põem entraves ao tipo de armamento a enviar para a Ucrânia, o Estado-Maior do país sob invasão alerta para futuros ataques em três outros pontos. No campo político, Vladimir Putin tomou a iniciativa de propor Ancara como mediador entre Rússia e Ucrânia com o objetivo de proporcionar o transporte marítimo no Mar Negro, "incluída a exportação de cereais a partir dos portos ucranianos". Moscovo responsabiliza as sanções do Ocidente pelo bloqueio que os seus navios estão a exercer.

Em entrevista à francesa TF1, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, que voltou a alegar que a operação militar russa é para proteger a Ucrânia da "nazificação", afirmou que "a "libertação" das regiões de Donetsk e Lugansk" é a "prioridade absoluta". A segunda região está a um passo de cair para a Rússia e as milícias pró-russas. Os "Os russos usam a mesma tática vezes sem conta. Bombardeiam durante várias horas e depois atacam", disse o governador Serhi Gaiday.

As tropas russas avançaram através de dois pontos, a sudeste e nordeste da cidade, embora a ofensiva esteja a ser repelida pelas forças ucranianas, segundo o governador. As forças armadas ucranianas estão em alerta para outras frentes. Segundo o comando militar de Kiev, a Rússia prepara-se para atacar a Ucrânia a partir de três direções, ao reagruparem-se perto da cidade de Lyman (região de Donetsk), Isyum (Kharkiv) e na região de Sumy, enquanto a sul os ucranianos recuperam algum terreno na região de Kherson.

Os países ocidentais foram respondendo aos pedidos insistentes de armamento pesado por parte da Ucrânia, mas há um que para já, parece riscado da lista. Kiev pediu aos Estados Unidos lançadores de foguetes múltiplos com um alcance de até 300 quilómetros (MLRS), mas o presidente Joe Biden disse que não enviará armas que "possam atingir a Rússia".

Como tem acontecido com recentes declarações de política externa do democrata, um funcionário em Washington modulou as afirmações, ao dizer que não foi tomada uma decisão. "O MLRS está a ser considerado, mas nada está em cima da mesa com capacidades de ataque de longo alcance", disse o funcionário sob anonimato. Ou seja, fica em aberto a hipótese de serem enviados MLRS com foguetes de menor alcance (70 quilómetros), o que, ainda assim, mais do que duplicaria a capacidade de atingir alvos à distância. Os obuses enviados pelos EUA têm menos de 30 quilómetros de alcance. Horas antes, o ministro da Defesa ucraniano Oleksiy Reznikov disse que o país começou a receber mísseis antinavio Harpoon provenientes da Dinamarca, e que irão estar em operação em Odessa.

Este reforço das defesas costeiras acontece horas antes de o líder russo ter proposto ao homólogo turco que Ancara sirva como mediador para se resolver o bloqueio - da iniciativa da Rússia - ao trânsito de navios da e para a Ucrânia. No comunicado que resultou da conversa entre Putin e Erdogan destacou-se a importância de "garantir uma navegação segura e eliminar a ameaça das minas". Desta vez não foi explicitado que a Rússia só permitiria a abertura dos portos ucranianos aos navios comerciais em troca do levantamento das sanções, mas Putin voltou a culpar o Ocidente pela possível crise alimentar. Do diálogo entre o russo e o turco ficou também a oferta de Ancara para uma nova ronda de negociações, à qual se juntaria a ONU.

Em Bruxelas, no primeiro dia de trabalhos da cimeira extraordinária do Conselho Europeu, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky apelou para o fim das "querelas" entre os estados-membros e que os 27 cheguem a um consenso para adotar o sexto pacote de sanções à Rússia o quanto antes, lembrando que quando foi aprovado o quinto pacote tinham morrido 169 crianças e agora o número vai em 243. Mas o embargo ao petróleo não está garantido, tendo o principal opositor, o húngaro Viktor Orbán, publicado nas redes sociais: "Bruxelas, a batalha começa."

Defesa é prioridade em Madrid e Berlim

No espaço de horas os governos da Alemanha e de Espanha sinalizaram - em graus diferentes - o compromisso em aumentar o investimento em defesa. O financiamento adicional ao exército alemão foi anunciado pelo chanceler Olaf Scholz três dias depois do início da invasão russa, mas só agora a coligação de social-democratas, verdes e liberais chegou a acordo. Serão cem mil milhões de euros adicionais para reequipar as forças armadas. "Um passo urgentemente necessário", disse a ministra da Defesa Christine Lambrecht.

Já o primeiro-ministro espanhol, ao discursar numa cerimónia dos 40 anos da adesão de Madrid à NATO, disse que o governo se comprometeu em duplicar o gasto em defesa (de 1,03% do PIB para 2%) até 2030. "Hoje, a nossa sociedade está ameaçada pelo regime de Putin", disse Pedro Sánchez.

cesar.avo@dn.pt

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