Indecisão sobre tanques mostra "nervosismo" dos aliados, diz Rússia
Polónia vai pedir autorização à Alemanha para enviar os seus Leopard para a Ucrânia, mas está disposta a cedê-los mesmo sem o acordo de Berlim.
A Polónia anunciou esta segunda-feira que vai pedir autorização à Alemanha para enviar os seus tanques Leopard, de fabrico alemão, para a Ucrânia. Mas deixou claro que, mesmo sem essa autorização, estava disponível para os fornecer a Kiev, considerando que ao negar-se a enviar os seus próprios tanques, Berlim "cai no isolamento internacional". O Kremlin parece congratular-se com esta discussão, alegando que a indecisão mostra o "nervosismo" dos aliados. Mas avisa que serão os ucranianos a "pagar o preço" desta "pseudo ajuda".
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A um mês do primeiro aniversário da invasão russa - e numa altura em que se teme uma nova investida de larga escala das forças de Moscovo -, o debate tem estado centrado no envio dos Leopard 2. Uma análise recente do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), de Londres, concluiu que "para terem um efeito significativo" nos combates, seria preciso fornecer a Kiev "cerca de cem" destes tanques pesados. Os ucranianos querem 300 e há países europeus dispostos a fornecê-los, mas precisam da autorização da Alemanha para o fazer.
A Polónia está disponível para enviar 14 dos seus Leopard, com o primeiro-ministro Mateusz Morawiecki a dizer que estava à espera de uma "declaração clara" da parte de Berlim sobre se os podia transferir. A Alemanha tem-se mostrado reticente em enviar os que tem no seu arsenal, dizendo que é necessário analisar os prós e os contra de tal decisão - temendo por um lado uma escalada do conflito da parte da Rússia. "O argumento da escalada do conflito não funciona, porque a Rússia continua essa escalada", alegou o chefe da diplomacia da Letónia, Edgars Rinkevics.
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Na sexta-feira, numa reunião do Grupo de Contacto de Defesa da Ucrânia em Ramstein, a Alemanha recusou tomar uma decisão, dizendo que esta poderia ainda demorar dias. Mas entretanto, parece ter aberto a porta a autorizar que países terceiros forneçam os seus a Kiev. "Se nos fizerem a pergunta, então não nos iremos meter no caminho", disse no domingo à noite, a chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock, alegando que não tinha sido feito ainda qualquer pedido. Mas o porta-voz do executivo, Steffen Hebestreit, foi menos claro, dizendo que se o pedido for feito, então o governo vai seguir "os procedimentos bem estabelecidos" para tomar uma decisão.
Diante destas declarações, Morawiecki anunciou que irá pedir então essa autorização. Mas também deixou claro que esta seria secundária. "Mesmo que não consigamos o acordo deles, daremos os nossos tanques à Ucrânia, juntamente com outros países, no âmbito de uma pequena coligação, mesmo que a Alemanha não faça parte dela", indicou o primeiro-ministro polaco.
Há 16 países da NATO que têm tanques Leopard 2 (de diferentes modelos), estimando-se que só os alemães tenham 200 em armazéns, além de mais de 300 em ação. Os polacos têm cerca de 250, os gregos mais de 300, tal como os espanhóis. Portugal tem 37. A Finlândia, que tal como a Polónia também já se mostrou disponível para fornecer à Ucrânia, tem 200 (100 deles armazenados). O relatório do IISS indicava que os tanques destes dois países seriam os que mais rapidamente poderiam ser colocados no terreno.
Além de fornecer os tanques, será necessário garantir a formação dos militares ucranianos - habituados aos veículos de fabrico soviético. Portugal já se ofereceu para dar formação e manifestou disponibilidade para "identificar, de forma coordenada com os seus parceiros, formas de apoiar a Ucrânia com esta capacidade", não sendo claro se está disponível para fornecer os próprios tanques. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, coloca Portugal no leque dos países disponíveis para o fazer.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, falou nestes "malabarismos jurídicos" e "troca de declarações entre as capitais europeias", dizendo que tudo isto ameaça "isolar Berlim internacionalmente". Considerou, por isso, que isto mostra como cresce "o nervosismo entre os membros da Aliança Atlântica". E deixou o aviso: "Todos os países, que de um modo ou outro participam no envio de armamento e no aumento do nível tecnológico das forças ucranianas, vão ser responsabilizados". E quem vai pagar são os ucranianos.
Entretanto, a União Europeia anunciou que vai disponibilizar mais 500 milhões de euros do mecanismo europeu de apoio à paz na Ucrânia, além de mais 45 milhões para a "missão de assistência militar", isto é, para treino de militares na Polónia e Alemanha. O acordo foi alcançado na reunião de chefes da diplomacia, em Bruxelas.
susana.f.salvador@dn.pt
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