Internacional
28 dezembro 2022 às 10h37

Ex-secretária de campo de concentração nazi apresenta recurso à sua condenação aos 97 anos

Irmgard Furchner foi a primeira mulher em décadas a ser julgada na Alemanha por crimes da era nazi.

DN/AFP

Uma ex-secretária de campo de concentração nazi de 97 anos entrou com um recurso contra a sua condenação por cumplicidade no assassinato de mais de 10 mil pessoas, informou esta quarta-feira um tribunal alemão.

Irmgard Furchner foi a primeira mulher em décadas a ser julgada na Alemanha por crimes da era nazi.

Na semana passada, Furchner recebeu uma pena suspensa de dois anos pelo seu papel no que os promotores chamaram de "assassinato cruel e malicioso" de prisioneiros no campo de concentração de Stutthof, na Polónia.

Mas a sua defesa, assim como um coautor, desde logo "apresentaram um recurso ao Supremo Tribunal Federal contra o julgamento do tribunal regional de Itzehoe", disse uma porta-voz do tribunal em comunicado.

A contestação legal só poderia questionar se a sentença foi baseada em violação da lei, disse a porta-voz.

O Supremo Tribunal vai examinar se "os processos foram conduzidos adequadamente e a lei substantiva foi aplicada corretamente", afirmou a porta-voz do tribunal, acrescentando que as provas não seriam recolhidas novamente. Enquanto se aguarda o recurso, o veredicto não é juridicamente vinculativo, acrescentou.

Furchner pediu desculpa quando o julgamento chegou ao fim, dizendo ao tribunal que "lamentava tudo o que aconteceu".

Entre junho de 1943 e abril de 1945, Furchner tomou conta da correspondência do comandante do campo de concentração, Paul Werner Hoppe, enquanto o seu marido era um colega oficial da SS no campo de concentração.

Estima-se que 65 mil pessoas morreram no campo perto da atual Gdansk, incluindo "prisioneiros judeus, guerrilheiros polacos e prisioneiros de guerra soviéticos", disseram os promotores.

Proferindo o veredicto, o juiz presidente Dominik Gross disse que "nada do que aconteceu em Stutthof foi escondido" de Fruchner e que a ré estava ciente das "condições extremamente más para os prisioneiros".

Embora as péssimas condições do campo de concentração e o trabalho duro tenham ceifado o maior número de vidas, os nazis também operavam câmaras de gás e instalações de fuzilamento para exterminar centenas de pessoas consideradas inaptas para o trabalho.

Furchner tentou fugir da casa de repouso onde reside para escapar ao processo, que estava agendado para começar em setembro do ano passado, mas após algumas horas foi detida pela polícia na cidade vizinha de Hamburgo.

A ré era adolescente quando cometeu seus crimes e, portanto, foi julgada em um tribunal de menores.

77 depois, o tempo está a esgotar-se para levar à justiça criminosos ligados ao Holocausto. Nos últimos anos, vários casos foram abandonados porque o acusado morreu ou ficou fisicamente incapaz de ser julgado.

A condenação em 2011 do ex-guarda John Demjanjuk, com base no fato de este ter servido como parte da máquina de matar de Hitler, estabeleceu um precedente legal e abriu caminho para vários julgamentos.