Elizabeth Holmes: uma gota de sangue que pode levar a 20 anos de prisão
A jovem fundadora da Theranos era vista como a próxima Steve Jobs, mas afinal era tudo uma fraude. Julgamento começou nesta semana.
Aos 19 anos, depois de ter deixado o curso de Engenharia Química da Universidade de Stanford, Elizabeth Holmes usou o fundo que os pais tinham destinado para a sua educação e criou a empresa de biotecnologia Theranos - nome que conjugava as palavras terapia e diagnóstico. A sua tecnologia prometia realizar centenas de exames laboratoriais com apenas uma gota de sangue e atraiu apoios e investimentos milionários, desde o ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger ao magnata dos media Rupert Murdoch.
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Aos 30 anos, Holmes era apontada como a próxima Steve Jobs (o fundador da Apple) e tinha uma companhia que valia quase 10 mil milhões de dólares. A sua fortuna pessoal era cerca de metade, sendo reconhecida em 2014, pela revista Forbes, como a mais jovem empreendedora a tornar-se bilionária. Mas, um ano depois, uma investigação jornalística mudou tudo - e a Forbes atribuiu-lhe uma fortuna de zero dólares. E a queda de Holmes seria ainda mais rápida do que a sua ascensão. A empresária seria detida e acusada de fraude em 2018 e agora começa a ser julgada em San José, na Califórnia, arriscando uma pena de 20 anos de prisão.
A queda começou em 2015, quando o jornalista John Carreyrou, do The Wall Street Journal, começou a revelar a verdade que se escondia por detrás da Theranos, com a ajuda de um informador, um trabalhador da empresa. Afinal, Holmes não tinha a tecnologia que dizia ter - que apelidou de Edison - e estava a recorrer a equipamento de outras empresas para realizar os seus testes. Estava também a enganar os investidores. Pior, os resultados de pacientes verdadeiros eram imprecisos. Seguiram-se os processos judiciais, a proibição pelo regulador de a empresa fazer testes sanguíneos e a dissolução, em 2018.
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Carreyrou viria a escrever um livro - Bad Blood: Secrets and Lies in a Silicon Valley Startup - tendo a história também também dado origem a um documentário na HBO (The Inventor: Out for Blood in Silicon Valley) além de um podcast da ABC News que será em breve uma minissérie da Hulu (The Dropout), com Amanda Seyfried no papel de Holmes.
No ano em que a Theranos foi dissolvida, a empresária e o seu parceiro, Ramesh Balwani, que era também presidente e diretor de operações da empresa, foram detidos por fraude. Foram acusados de criar um esquema milionário para enganar investidores, médicos e pacientes que pagavam pelos testes. Ambosse declaram inocentes e estão a ser julgados em separado - Balwani, de 56 anos, vai a tribunal para o ano. Holmes responde por dez crimes de fraude eletrónica e duas acusações de conspiração para cometer fraude eletrónica.
O julgamento foi inicialmente adiado por causa da pandemia de covid-19 e depois devido à gravidez da arguida - o filho nasceu em julho deste ano. Holmes saiu em liberdade sob caução e casou-se, em 2019, com Billy Evans, de 27 anos, herdeiro de uma cadeia de hotéis - a Evans Hotel Group. Na terça-feira, começou a seleção dos jurados, que deverá ficar concluída nesta quinta-feira, estando previsto que os argumentos iniciais da acusação e da defesa sejam ouvidos para a semana. O julgamento deverá durar três meses.
Segundo os peritos, nos julgamentos de fraude, o problema é demonstrar que havia intenção da arguida de enganar os investidores e clientes. Os documentos já apresentados, citados pela imprensa norte-americana, mostram que a defesa pretende culpar o ex-companheiro de Holmes, alegando que ele era "controlador" - controlava o que vestia, comia e com quem falava - e "apagava a sua capacidade de tomar decisões". Na lista de testemunhas está um psicólogo especialista em vítimas de abuso sexual.
susana.f.salvador@dn.pt
(Notícia corrigida às 12.40 para alterar uma referência a "investidores, doentes e pacientes" por "investidores, médicos e pacientes")
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