Costa alerta que é preciso prevenir consequências indesejadas de sanções

Para o chefe do Governo português, deve-se preservar as condições para que países africanos e da América Latina "não sofram consequências colaterais indesejadas" devido às sanções contra a Rússia e a Bielorrússia.

O primeiro-ministro, António Costa, defendeu esta quinta-feira que é fundamental manter as sanções à Rússia e Bielorrússia mas advertiu que é preciso assegurar que os países africanos e da América Latina não sofram "consequências colaterais indesejadas".

"Não podemos, nunca, ignorar que nestas sanções à Rússia e nas sanções à Bielorrússia temos de preservar as condições para que todos os outros países terceiros, nomeadamente os países africanos e os países da América Latina, não sofram consequências colaterais indesejadas", disse António Costa, pouco antes do início da reunião do Conselho Europeu, em Bruxelas, na Bélgica.

O primeiro-ministro português acrescentou que a UE tem de considerar a possibilidade de bloqueio da produção agrícola "por via destas sanções" e que isso tem influência na união entre os países -- e que a UE quer alargar a mais Estados - que estão a pressionar a Rússia para acabar com o conflito na Ucrânia.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o português António Guterres, está presente na reunião de hoje do Conselho Europeu. Quando chegou disse que ia "partilhar visões" com os Estados-membros da UE sobre as sanções.

António Costa considerou que é importante que "a União Europeia saiba ouvir a voz avisada e de bom senso do secretário-geral da ONU para que as sanções atinjam os objetivos pretendidos", mas "sem que isso afete outros países, outros povos, e, muito menos, ponha em risco a segurança alimentar à escala global".

O líder do executivo português recordou que desde o início do conflito, em fevereiro do ano passado, a "Rússia perdeu todas as votações importantes" na Assembleia-Geral das ONU.

Contudo, para continuar a exercer pressão sobre Moscovo "é fundamental que não sejam só os países europeus" a fazê-lo.

António Costa enalteceu o papel de António Guterres na construção da "Iniciativa de Grãos de Mar Negro", que permitiu a exportação de mais de 23 milhões de cereais ucranianos, contribuindo para conter a subida dos preços dos bens alimentares.

A exportação destes cereais da Ucrânia -- um dos maiores exportadores do mundo, tem especial relevância para os países africanos, onde há escassez.

Apesar do compromisso da UE com a Ucrânia, António Costa lembrou que essa é apenas "uma dimensão das relações internacionais" e "não se pode desvalorizar os compromissos que a União Europeia assumiu, por exemplo, com a União Africana, na cimeira de há um ano".

O primeiro-ministro também alertou para a crescente tensão entre Washington e Pequim: "Não queremos viver num mundo onde depois de décadas de bipolarização entre a antiga União Soviética e os Estados Unidos temos um novo mundo fragmentado entre a China e os Estados Unidos. Há um papel que a Europa, África e a América Latina podem e devem desempenhar, juntamente com outros parceiros asiáticos, para termos um mundo mais justo, mais equilibrado e onde a paz se consolida."

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