Clã Bolsonaro comprou 50 imóveis com dinheiro vivo

Família negociou 107 unidades desde o início dos anos 90. Senado vem discutindo proibição de compras por este meio para evitar lavagem de dinheiro. "Qual o problema?" reagiu o presidente do Brasil.

Jair Bolsonaro e o clã familiar negociaram, desde o início dos anos 1990, um total de 107 imóveis, dos quais pelo menos 51 foram adquiridos total ou parcialmente com uso de dinheiro vivo, segundo registo em cartório dos próprios membros da família. A informação é resultado de uma extensa reportagem do portal UOL, publicada na manhã desta terça-feira, e surge quando o Senado discute projeto de lei que sugere a proibição do uso de dinheiro em espécie para transações imobiliárias, como forma de prevenir operações de lavagem de dinheiro ou ocultação de património.

"Qual é o problema de comprar com dinheiro vivo algum imóvel, eu não sei o que está escrito na matéria... Qual é o problema?", perguntou o presidente horas depois da publicação para a qual se recusara a comentar. "O que eu tenho a ver com o negócio deles?", afirmou sobre os filhos. "Então tudo bem. Investiga, meu Deus do céu. Quantos imóveis são? Mais de cem imóveis... Quem comprou? Eu? A minha família? Meus filhos já foram investigados. Desde quando eu assumi, quatro anos de pancada em cima do Flávio, do Carlos, Eduardo menos... Familiares meus do Vale do Ribeira. Eu tenho cinco irmãos no Vale do Ribeira".

As compras registadas nos cartórios com o modo de pagamento "em moeda corrente nacional", expressão para transferências em espécie, totalizaram 25,6 milhões de reais [cerca de 5,1 milhões de euros], já corrigida a inflação. Não foi possível à reportagem em causa saber a forma de pagamento de 26 imóveis, que somaram dois milhões de reais [400 mil euros] porque esta informação não consta nos documentos de compra e venda. Transações por meio de cheque ou transferência bancária envolveram 30 imóveis, totalizando 18 milhões de reais [3,5 milhões de euros].

Do total dos imóveis, comprados com ou sem dinheiro vivo, 25 suscitaram investigações do Ministério Público do Rio de e do Distrito Federal por envolvimento no caso das "rachadinhas", o desvio do salário dos funcionários protagonizado por Bolsonaro e família.

Para a elaboração da reportagem, o UOL consultou 1.105 páginas de 270 documentos requeridos a cartórios de imóveis e registos de escritura em 16 municípios, 14 deles no estado de São Paulo. Percorreu 12 cidades para conferir moradas e o destino dado aos imóveis, além de consultar processos judiciais. O levantamento considera o património construído no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Brasília pelo presidente, os seus três filhos mais velhos, cinco irmãos, duas ex-mulheres e até a mãe de Bolsonaro, dona Olinda, falecida em janeiro deste ano. Aos 94 anos, ela teve os dois únicos imóveis adquiridos em seu nome comprados em espécie, em 2008 e 2009, em Miracatu, no interior de São Paulo.

Desde a chegada de Bolsonaro à política como parlamentar, no início dos anos 90, o património familiar multiplicou-se em seus diferentes núcleos, tanto o que abarca os seus filhos, no Rio e em Brasília, como aquele que envolve os seus irmãos, no interior de São Paulo, em especial em cidades do Vale do Ribeira, região mais pobre do estado, afirma a reportagem do UOL.

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