Internacional
05 junho 2023 às 22h41

Campo republicano mais povoado para gáudio de Donald Trump

Mais três candidatos às primárias republicanas, ex-vice-presidente incluído, servem as pretensões do favorito à nomeação. Mas o amigo tornado inimigo Chris Christie promete ser uma dor de cabeça.

Chris Christie, Mike Pence e Doug Burgum são mais três nomes a juntar a outros sete nas primárias republicanas para escolher o candidato a bater-se com o campo democrata nas eleições de 2024. O antigo governador de Nova Jérsia anuncia hoje a candidatura, enquanto as comunicações formais do antigo vice-presidente e do governador do Dakota do Norte estão previstas para amanhã. Com o número de candidaturas a aumentar, os analistas acreditam que o maior beneficiado será Donald Trump. O ex-presidente lidera as sondagens por larga margem e poderá repetir a estratégia vitoriosa nas primárias de 2016.

Chris Christie vai hoje tornar oficial a sua candidatura durante um encontro com apoiantes no Instituto de Política de New Hampshire. Entre 2002 e 2008, o candidato foi procurador de Nova Jérsia e nos oito anos seguintes governador do mesmo estado. Em 2016 tentou a sua sorte na corrida presidencial, mas desistiu ao fim da segunda eleição primária, tendo de imediato apoiado Donald Trump. Esse apoio traduziu-se, anos depois, em aconselhamento e na preparação para os debates do então presidente com Joe Biden.

Do lado de Trump, e ao contrário do que Christie terá ambicionado, nunca chegou o convite para ser o seu número dois ou procurador-geral. Já como comentador político da estação ABC, não perdoou ao empresário nova-iorquino não ter reconhecido a derrota eleitoral de 2020 e de ter impulsionado a turba a invadir o Capitólio. Para trás ficou uma amizade de duas décadas.

DestaquedestaqueO ex-governador de Nova Jérsia vai confrontar Trump. No espaço de dias, Christie acusou-o de ser um "fantoche de Putin" e de ter medo de debates.

Também Mike Pence, fidelíssimo vice de Trump, entrou em rota de colisão com este desde a invasão do Capitólio, quando os extremistas gritavam pelo seu enforcamento por ter recusado subverter a ordem constitucional ao certificar os votos do colégio eleitoral que atribuíram a vitória ao candidato democrata. Ao contrário de Christie, Pence optou pelo silêncio durante meses. Só mais recentemente é que responsabilizou Trump "pelas ações irresponsáveis" que o colocaram a si e à sua família em perigo e disse que a "história vai responsabilizar Trump".

Mas se Christie vai transpor para a campanha o seu estilo combativo - durante um debate em 2016 foi responsável pelo fim da candidatura de Marco Rubio -, não é de esperar que Pence faça das críticas a Trump o cerne da campanha. Vai apresentar-se como a solução de continuidade da equipa Trump-Pence sem as gorduras do extremismo trumpista. O homem que se define como "cristão, conservador e republicano, por esta ordem" vai lançar a campanha no dia do seu 64.º aniversário com um vídeo, um encontro com apoiantes em Des Moines, no estado do Iowa, e com uma entrevista da CNN com a participação do público.

Por fim, no mesmo dia mas em Fargo, no seu estado natal, entra na corrida Doug Burgum, governador do Dakota do Norte, que está longe de ser uma figura nacional, mas tem um currículo apelativo. Chegou a vice-presidente da Microsoft depois de ter vendido uma pequena empresa de software (que transformou em grande) à gigante de Bill Gates.

Depois de outros investimentos bem-sucedidos enquanto empresário, já como governador orgulha-se de ter um estado com as melhores estatísticas económicas. De baixo perfil, não irá entrar em confronto com os adversários, mas tentar levar algumas ideias para o debate. Uma delas é exportar para o resto do país a sua abordagem à política de energia. O seu estado tem como meta atingir a neutralidade de carbono até 2030 não pela troca dos combustíveis fósseis pelas energias renováveis - é o terceiro produtor de petróleo a seguir ao Texas e ao Novo México - mas na aposta para acelerar a tecnologia de captura das emissões de carbono no solo.

Até agora, Donald Trump e a sua equipa devem olhar para estas movimentações de ânimo leve. Em 2016 as primárias republicanas foram as mais abertas e concorridas de sempre, com 17 candidaturas anunciadas e 12 concretizadas. E enquanto Ted Cruz, Marco Rubio, Jeb Bush e John Kasich gastaram tempo de antena e milhões a combaterem-se entre si, Trump apresentava-se como o único candidato contra o sistema. Tendo partido por baixo nas sondagens, acabou como líder. Um cenário de dividir para conquistar que, com as devidas adaptações, poderá repetir-se.

De acordo com o site FiveThirtyEight, a média das sondagens atribui ao empresário da hotelaria e de campos de golfe 53,9%, a enorme distância do governador da Florida Ron DeSantis (21,1%) e ainda maior de Mike Pence (5,4%), Nikki Haley (4,5%) ou Vivek Ramaswamy (3,5%).

Quer para os conselheiros de Trump quer para os de DeSantis, quanto mais povoado estiver o campo, maiores as dificuldades para quem está atrás. "Qualquer que seja a percentagem que obtenham, é difícil para o segundo classificado ganhar porque não há votos disponíveis", comentou o estratega republicano Dave Carney ao New York Times. O mesmo jornal revelou que Ryan Tyson, conselheiro de DeSantis, disse aos doadores que o eleitorado republicano está dividido em três: os eleitores "apenas Trump" valem 35%, os "nunca Trump" 20% e os restantes são 45%, o espaço que DeSantis ambiciona.

Convidados a participar numa feira em Des Moines, os oito candidatos e pré-candidatos presentes - Trump recusou - não mencionaram o nome do principal adversário. Se Chris Christie estivesse presente destoaria. Nos últimos dias disse que Trump tem medo de debates e chamou-o de "fantoche de Putin". Há dias deu a receita do que vai fazer: "Querem derrotar alguém na política americana? É preciso enfrentá-lo."

Mike Pence

Quer protagonizar a candidatura do campo conservador e religioso, onde terá de competir com DeSantis. Mas contrasta com o governador da Florida e com Trump no apoio à Ucrânia e no corte aos apoios sociais.

Doug Burgum

O homem que fez fortuna no software apresenta-se com meios próprios para defender a política energética, económica e fiscal que aplica ao nível estadual como modelo para todo o país.

cesar.avo@dn.pt