Biden olha para dentro de casa e refuta apupos num discurso de "pré-campanha"
Presidente dos EUA destacou a economia numa intervenção que parece preparar a recandidatura em 2024.
Um forte mas breve alerta à China após um balão chinês ter sobrevoado território americano - "como deixámos claro na semana passada, se a China ameaçar a nossa soberania, agiremos para proteger o país. Foi o que fizemos"; as boas vindas ao embaixador da Ucrânia e um compromisso com a paz; e nem uma referência ao sismo que abalou Turquia e Síria. No seu segundo discurso do Estado da União, Joe Biden preferiu focar-se na política interna dos EUA, destacando a economia e desafiando os republicanos a alinharem com ele para "terminar a tarefa" - mesmo quando a reação do outro lado foi de apupos, abanar de cabeças e gritos de "mentiroso". Aos 80 anos, o mais velho presidente da história dos EUA não se deixou abalar, não hesitando mesmo a fugir ao guião para rebater as vozes hostis na audiência. Um show de força política, a lançar outro desafio: àqueles que não acreditam que ele possa ser o candidato democrata às presidenciais de 2024.
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"Se não foi o lançamento de uma campanha para a reeleição, foi o mais próximo disso que um discurso do Estado da União pode ser", escreveu o The Washington Post. E se dúvidas houvesse, de Washington, onde falou diante das duas Câmara do Congresso reunidas, Biden seguiu para o Wisconsin e Florida, levando a mensagem de união a estados essenciais para garantir a vitória em 2024. E com Donald Trump à espreita de uma oportunidade de voltar à Casa Branca e Ron DeSantis disposto a desafiar o ex-presidente para a nomeação republicana, a verdade é que as sondagens não são animadoras para o atual chefe do Estado americano, com a popularidade pouco acima dos 40% e dois terços dos democratas a dizerem que preferiam outro candidato.
Diante de uma plateia que juntou membros da Câmara do Representantes e do Senado, mas também as chefias militares e os nove juízes do Supremo Tribunal e ainda um grupo de convidados presidenciais onde não faltavam o cantor e ativista Bono ou a mãe e o padrasto de Tyre Nichols, o jovem de 29 anos espancado por agentes da polícia em Memphis e cujo vídeo da agressão veio relançar a polémica sobre a violência policial nos EUA, Biden focou-se na economia. Destacando o desemprego baixo e a descida da inflação e dos preços dos combustíveis após meses de instabilidade agravada pela guerra na Ucrânia, o presidente repetiu a ideia de que chegou a hora de agir em nome dos trabalhadores.
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Atrás de Biden, um rosto familiar - o da vice-presidente Kamala Harris, também líder do Senado - e um novo - o do speaker da Câmara, o republicano Kevin McCarthy, cuja eleição em janeiro gerou uma novela política que se arrastou vários dias, com a ala direita do partido a bloqueá-lo.

A congressista republicana da Geórgia Marjorie Taylor Greene foi das mais vocais nos protestos contra Biden.
© EPA/JIM LO SCALZO
Foi precisamente aos republicanos que o presidente se dirigiu para o ajudarem a "terminar a tarefa". E se ainda arrancou aplausos e até um sorriso a McCarthy quando destacou a cooperação nos seus dois primeiros anos de mandato, o ambiente gelou quando Biden se focou no aumento da dívida. Falando das exigências republicanas para vincular esse aumento a cortes na despesa, o presidente lembrou que ninguém contribuiu mais para a subida do tecto da dívida do que Trump. Os apupos subiram ainda mais de tom quando Biden atacou os republicanos que pretendem cortar o financiamento ao Medicare e à Segurança Social. E aos gritos de "mentiroso" respondeu com um irónico: "Muito bem, gente! Uma vez que todos concordamos, podemos tirar o Medicare e a Segurança Social de cima da mesa. Temos unanimidade".
helena.r.tecedeiro@dn.pt
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