Internacional
30 janeiro 2023 às 22h31

Zelensky quer "fazer do tempo uma arma" e até a Coreia é pressionada

Líder ucraniano não baixa a guarda para tentar obter mais armamento e de forma mais rápida para contrariar os planos de Moscovo. NATO pede para Seul levantar restrições.

Perante mais uma ronda de ataques a civis, que inclui a morte de três e ferimentos em dez em Kherson, no sul, e outra vítima mortal e três feridos em Kharkiv, no nordeste, o presidente ucraniano voltou a apelar para que os países aliados e parceiros ajudem o quanto antes o seu país. Horas depois do apelo de Volodymyr Zelensky, o secretário-geral da NATO pediu à Coreia do Sul para elevar a assistência à Ucrânia para outro patamar, e o primeiro-ministro polaco mostrou abertura para enviar aviões F-16 para Kiev.

"É muito importante manter a dinâmica de apoio de defesa dos nossos parceiros. A rapidez do fornecimento tem sido e será um dos fatores chave nesta guerra. A Rússia espera prolongar a guerra para esgotar as nossas forças", disse Zelensky no seu habitual discurso noturno. "Por isso, temos de fazer do tempo a nossa arma. Temos de acelerar os acontecimentos, acelerar o fornecimento e a abertura de novas opções de armamento necessárias para a Ucrânia", prosseguiu, tendo particularizado os apoios obtidos nos últimos dias dos EUA, Alemanha, Polónia, Canadá, Bélgica, Noruega e Itália.

Entre os países destacados pelo presidente ucraniano, o governo norueguês fez saber pelo ministro da Defesa que pretende enviar "o quanto antes" os tanques Leopard 2, apontando para o final de março, embora sem saber ainda ao certo o número de carros de combate a ceder entre os 36 que Oslo possui. Já a Polónia anunciou na segunda-feira que o orçamento da defesa vai atingir os 4% do Produto Interno Bruto (PIB), quando na semana passada o parlamento havia aprovado uma despesa equivalente a 3% do PIB. "A guerra na Ucrânia faz com que nos armemos ainda mais depressa. É por isso que este ano faremos um esforço sem precedentes", disse o primeiro-ministro Mateusz Morawiecki.

Questionado sobre o apelo de Zelensky para entregas mais rápidas das armas prometidas e decisões mais rápidas sobre o envio de armas adicionais, o que inclui aviões de caça, Morawiecki respondeu como antes em relação aos tanques Leopard 2, ao dizer que tal será feito apenas em "plena coordenação" com os aliados da NATO. "Tal como aconteceu há alguns meses com aviões MiG-29, qualquer outra assistência aeronáutica será coordenada, aplicada e transferida juntamente com outros estados membros da NATO." Varsóvia tem sido um dos principais aliados da Ucrânia, tendo assinado várias aquisições, entre tanques aos EUA, a aviões, obuses e tanques à Coreia do Sul.

E foi em Seul que o secretário-geral da Aliança Atlântica fez também um apelo para que a Coreia do Sul deixe cair a sua política restritiva quanto à exportação de armamento e munições para países em conflito. Jens Stoltenberg instou os sul-coreanos a fazerem mais, uma vez que há uma "necessidade urgente" de munições na Ucrânia e lembrando que países como a Alemanha, Suécia e Noruega tinham políticas semelhantes a Seul, mas acabaram por mudar. "Se não queremos que a autocracia e a tirania ganhem, então eles [ucranianos] precisam de armas, essa é a realidade", disse Stoltenberg, que se reuniu com o presidente Yoon Suk-yeol.

Depois do norueguês, aterrou na capital sul-coreana o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin. Embora o objetivo da visita esteja relacionado com a segurança na península coreana e da região, o tema da assistência à Ucrânia não pode deixar de estar na agenda.

Ao apelo de Zelensky, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, voltou a advertir que novos fornecimentos de armamento à Ucrânia levariam a uma "escalada significativa" do conflito. Os serviços de informações do Ministério da Defesa britânico disseram que Moscovo estará "provavelmente a manter aberta a opção" de anunciar outra "mobilização parcial".

Peskov também se pronunciou sobre as declarações de Boris Johnson num documentário da BBC, na quais o ex-primeiro-ministro britânico disse que o presidente russo o ameaçou com um ataque dias antes de iniciar a ofensiva na Ucrânia. "A certa altura ele [Putin] como que me ameaçou e disse: "Boris, não te quero magoar, mas com um míssil só levaria um minuto", ou algo do género", contou o britânico.

"O que o sr. Johnson disse é uma mentira. Além disso, ou isto é uma mentira deliberada - e então é preciso perguntar ao sr. Johnson com que objetivo escolheu esta versão dos acontecimentos - ou foi involuntário e de facto não compreendeu o que o presidente Putin lhe estava a dizer", reagiu o porta-voz do Kremlin.

cesar.avo@dn.pt