Internacional
24 janeiro 2022 às 16h30

TCE reconhece atrasos do 5G e lembra que Bruxelas pode levar Portugal à Justiça

Bruxelas ameaça avançar para o Tribunal Europeu de Justiça devido ao incumprimento de Portugal em transpor integralmente para lei nacional as normas europeias de 5G.

DN/Lusa

Portugal teve atrasos nas redes de quinta geração (5G) ao demorar a atribuir frequências e não transpor as regras europeias de comunicações eletrónicas, considera o Tribunal de Contas Europeu (TCE), admitindo que Bruxelas leve o país à Justiça.

"A situação está a evoluir rapidamente, mas Portugal teve, de facto, atrasos e foi um dos Estados-membros que não transpôs o código de comunicações eletrónicas e não incluiu estes objetivos [de cobertura 5G] nas suas estratégias nacionais", afirma à agência Lusa o auditor principal do TCE para o relatório sobre o lançamento da tecnologia 5G ao nível comunitário, Paolo Pesce.

No dia em que o TCE divulga este relatório sobre implantação de redes 5G seguras nos Estados-membros da União Europeia (UE), Paolo Pesce acrescenta que o país também "não estava atribuir frequências, mas, no final de novembro, a atribuição destas frequências aconteceu e Portugal oferece agora serviços comerciais de 5G".

Além disso, "em Portugal, no plano nacional de banda larga, não existiam objetivos referentes ao 5G e é por isso que uma das nossas recomendações para a Comissão Europeia - que é a nossa principal entidade auditada - é a de incentivar os Estados-membros a aumentar estes objetivos estratégicos nos seus planos", assinala o auditor à Lusa.

Lembrando o incumprimento dos prazos para a transposição para a legislação nacional das novas regras europeias sobre comunicações eletrónicas, a membro do TCE responsável pelo relatório, Annemie Turtelboom, diz à Lusa que, "se essa transposição demorar, [...] é possível que a Comissão possa ter de recorrer ao Tribunal Europeu de Justiça [contra Portugal]".

"Se [o país] não o fizer, se não atingir esse objetivo, isso é perfeitamente possível neste momento", insiste a responsável.

Em causa está o Código Europeu de Comunicações Eletrónicas, de dezembro de 2018 e que deveria ter sido transposto para a legislação de cada país até final de 2020, prevendo aposta nas redes 5G e prazos para a atribuição de faixas pioneiras.

Em setembro passado, a Comissão Europeia instou Portugal e 17 outros países da UE a transporem integralmente para lei nacional estas normas europeias, dando-lhes dois meses para o fazerem, sob ameaça de avançar para o Tribunal Europeu de Justiça.

Paolo Pesce adianta à Lusa que, "mesmo com atrasos", Portugal "está a aproximar-se dos objetivos" estipulados pelo executivo comunitário para cobertura do 5G, pelo que "a probabilidade de o país atingir o objetivo até 2025 é média-alta".

Em Portugal, a atribuição das licenças 5G foi mais demorada que previsto e marcada pelo conflito entre os operadores e a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom).

A licitação principal do leilão do 5G terminou no final de outubro, mais de nove meses após ter arrancado e depois de 1.727 rondas, num montante total atingido de 566,802 milhões de euros, anunciou a Anacom.

A quinta geração de sistemas de telecomunicações móveis e sem fios permite ligações ultrarrápidas e a conexão de um elevado número de dispositivos.

O desenvolvimento das redes de quinta geração (5G) na União Europeia (UE) está atrasado e não estão salvaguardados requisitos de qualidade e de segurança na proteção dos dados, revela um relatório do Tribunal de Contas Europeu (TCE).

"Há atrasos e em vários aspetos. Em primeiro lugar, há atrasos na transposição do Código Europeu de Comunicações Eletrónicas e que, na verdade, deveria ter sido transposto pelos Estados-membros até 21 de dezembro a 2020, mas, na realidade, não foram muitos os que o transpuseram, mas apenas alguns, e não foi o caso de Portugal", afirma à agência Lusa a membro do TCE responsável pelo relatório, Annemie Turtelboom.

No dia em que o TCE divulga este relatório sobre implantação de redes 5G seguras nos Estados-membros da UE, a auditora frisa que "há também atrasos na atribuição de faixas pioneiras para as frequências".

"Na realidade, estas faixas ainda não estão todas atribuídas ou só estavam atribuídas em 40% do total. No final de outubro de 2021, a taxa de atribuição destas bandas aumentou para 53%, mas, honestamente, é necessário chegar aos 100%, caso contrário, o sistema não está realmente a funcionar", vinca Annemie Turtelboom, nestas declarações à Lusa.

No que toca às metas comunitárias, a responsável aponta que a auditoria do TCE admite que "apenas 11 Estados-membros deverão alcançar o prazo estabelecido pela Comissão de ter cobertura 5G nas áreas urbanas até 2025 [...] e Portugal não é um deles", já que a previsão para o país é só média-alta.

Assumido como uma prioridade europeia desde 2016, o desenvolvimento do 5G na UE tem vindo a ser mais demorado do que previsto, o que levou os 27 a falharem a meta intermediária conjunta estipulada pela Comissão Europeia, que previa que, até final de 2020, esta tecnologia estivesse presente em pelo menos uma cidade por Estado-membro.

Da lista de países que não atingiram este objetivo constam Portugal, Chipre, Lituânia e Malta.

No plano de ação lançado em 2016, Bruxelas estipulou ainda que, até 2025, haja uma cobertura mais abrangente de 5G, incluindo todas as áreas urbanas e vias terrestres principais.

Neste relatório, o TCE destaca também "problemas com a qualidade" das redes 5G, já que "não existe uma definição clara de qualidade" entre os 27 e poderá levar a desigualdades, de acordo com Annemie Turtelboom.

"Para dar um exemplo muito concreto, quando se precisa de 5G para fazer uma cirurgia à distância, [...] é preciso velocidade muito alta e baixa latência, mas neste momento, apenas dois Estados-membros - Alemanha e Grécia - definiram ou introduziram estes requisitos", exemplifica.

Annemie Turtelboom afirma ainda existirem "algumas questões relativas à segurança" das redes 5G, já que, em termos de regulamentação, apenas há na UE "uma caixa de ferramentas que é um instrumento não vinculativo" e, por isso, voluntário, e ainda porque os principais fornecedores estão sediados em países terceiros -- como a Huawei (China) e a Samsung (Coreia do Sul) --, cuja legislação "pode variar ou divergir consideravelmente das normas da UE, principalmente na proteção de dados pessoais".

A Comissão Europeia aconselhou, em janeiro de 2020, os Estados-membros da UE a aplicarem "restrições relevantes" como a exclusão aos fornecedores considerados de "alto risco" para a segurança no 5G, embora rejeitando referir-se à Huawei, fabricante chinesa que tem vindo a ser acusada de espionagem pelos Estados Unidos.