Internacional
31 março 2023 às 16h06

Rússia adota nova doutrina diplomática sobre o Ocidente

China e Índia são vistos como parceiros fundamentais na nova ordem mundial desenhada por Putin, enquanto os países ocidentais são "uma ameaça"

DN/AFP

A Rússia adotou nesta sexta-feira (31) uma nova doutrina diplomática que descreve o Ocidente como uma "ameaça existencial", cuja "domínio" deve ser combatido.

Esta doutrina formaliza a profunda rutura entre a Rússia e os países ocidentais desde o início da ofensiva contra a Ucrânia em fevereiro de 2022, que levou a NATO a consolidar-se e a expandir-se, e Moscovo, por outro lado, a olhar para China e Índia como parceiros prioritários.

O documento de mais 40 páginas, que, pelo conteúdo e tom, se assemelha à doutrina soviética na Guerra Fria, substitui a versão de 2016 e apresenta a Rússia como defensora do mundo de língua russa.

"A Rússia pretende dar atenção prioritária à eliminação dos vestígios do domínio dos Estados Unidos e de outros Estados hostis nos assuntos globais", determina o documento publicado no site do Kremlin.

Numa reunião do seu Conselho de Segurança Nacional, o presidente russo, Vladimir Putin, justificou esta alteração com base nas "grandes transformações no cenário internacional", que obrigam a Rússia a "adaptar os seus documentos de planeamento estratégico".

A nova doutrina destaca "a natureza existencial das ameaças (...) criadas por ações de países hostis" e classifica os Estados Unidos como o "principal provocador e líder da orquestra da linha antirrussa", resumiu o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.

"De forma geral, a política do Ocidente destinada a enfraquecer a Rússia por todos os meios configura-se como um novo tipo de guerra híbrida", acrescentou.

Os EUA e os seus aliados implementaram uma série de sanções económicas contra a Rússia, que os acusa, por sua vez, de travar uma guerra paralela na Ucrânia, ao entregarem armas a Kiev.

Cada vez mais isolado do Ocidente, o governo de Putin tem tentado aproximar-se política e economicamente da Ásia, em especial da China, que considera como uma prioridade nesta nova doutrina.

Com essa estratégia, Moscovo enfatiza a importância de "aprofundar as relações e a coordenação com centros globais soberanos de poder e os desenvolvimentos amistosos situados no continente euro-asiático".

Putin mostrou uma relação de cumplicidade com seu homólogo chinês, Xi Jinping, durante a recente cimeira na capital russa, e destacou a "natureza especial" das relações entre os dois países.

O vínculo parece, no entanto, cada vez mais desequilibrado a favor da China, devido à crescente dependência da Rússia.

A nova doutrina também dá um lugar importante às relações com África, onde Moscovo reforçou a sua presença, entre outros, através do grupo paramilitar Wagner.

Por fim, o documento reforça a Rússia como uma "civilização" que reúne os povos do "mundo russo", conceito que tem sido utilizado pelo Kremlin para justificar a ofensiva na Ucrânia.

De acordo com o documento, é preciso "neutralizar as tentativas de impor princípios ideológicos pseudo-humanistas e neoliberais, que levam à perda da espiritualidade tradicional e dos princípios morais".