Internacional
10 maio 2021 às 20h50

Padres alemães desafiam Vaticano com bênção de casais do mesmo sexo

Um movimento liderado pelos párocos de Würzenburg e Paderborn protesta contra a intransigência da Igreja Católica em não reconhecer casais homossexuais.

"O amor vence." É este o slogan adotado por padres da igreja católica um pouco por toda a Alemanha, que decidiram iniciar cerimónias públicas em massa para casais do mesmo sexo.

Trata-se de uma espécie de rebelião contra o Papa Francisco, depois de o Vaticano ter declarado que a união homossexual "é um pecado" e que Deus "não pode abençoá-la".

Esta rebelião nasceu em março quando mais de 230 professores alemães de teologia, liderados pelos párocos Burkhard Hose, de Würzenburg (Baviera), e Bernd Mönkebüscher, de Paderborn (Renânia do Norte-Vestfália), assinaram uma declaração conjunta, para protestarem contra o pronunciamento do Vaticano, já este mês, que proibia a bênção a casamentos de pessoas do mesmo sexo. Os párocos consideravam que a medida estava "marcada por um ar paternalista de superioridade que discrimina as pessoas homossexuais e os seus projetos de vida".

O protesto foi reforçado com várias transmissões em direto na internet de bênçãos a casais do mesmo sexo. "Perante a recusa da Congregação para a Doutrina da Fé em abençoar os casais homossexuais, levantamos nossa voz e dizemos: continuaremos acompanhando as pessoas que firmarem uma relação de vínculo no futuro e abençoaremos os seus relacionamentos", assumiu este grupo de padres em protesto através de um comunicado.

Este plano de protesto incluiu uma série de serviços religiosos que começaram a ser realizados de forma coordenada desde domingo e continuaram esta segunda-feira em cerca de 100 igrejas católicas na Alemanha, incluindo a Catedral de Essen, onde os padres dissidentes abençoaram publicamente os casamentos do mesmo sexo.

No domingo, os padres da paróquia de Santa Maria, na localidade de Ahlen, penduraram uma faixa na entrada principal da igreja onde se lia: "Vocês amam-se? Nós abençoamo-vos". "É assim que deve ser: queremos celebrar e abençoar o dom do amor com todos aqueles que se amam, todos os casais, amigos, relações amorosas. Todos aqueles que refletem o colorido do amor de Deus nas suas vidas."

A Congregação para a Doutrina da Fé publicou a 15 de março a carta Responsum ad dubium (resposta a uma dúvida), sobre a questão: "A Igreja tem o poder de conceder a bênção às uniões de pessoas do mesmo sexo?" A opinião do Vaticano foi negativa e esclareceu que só o casamento entre um homem e uma mulher faz parte do plano de Deus e está destinado a criar uma nova vida. O mesmo documento frisava que o casamento entre pessoas do mesmo sexo é um pecado.

Os principais bispos da Alemanha não apoiaram este protesto que se iniciou em cerca de 100 igrejas do país. O bispo Georg Bätzing, presidente da Conferência Nacional dos Bispos, disse que as pessoas com orientação homossexual têm lugar na Igreja, mas rejeitou as bênçãos públicas.

Contudo, o Comité Central dos Católicos Alemães (ZdK), uma influente organização secular, reiterou o apoio à iniciativa. "Estas são celebrações de oração em que as pessoas expressam a Deus o que as move", disse Birgit Mock, porta-voz do ZdK para assuntos familiares. "O facto de pedirem a bênção de Deus e agradecerem-lhe todas as coisas boas da vida - também as relações vividas com respeito mútuo e cheias de amor - tem raízes profundas no Evangelho", acrescentou.