Internacional
27 maio 2022 às 14h54

OMS avisa que varíola-dos-macacos pode ser a "ponta do icebergue"

Sylvie Briand, chefe de prevenção e preparação para epidemias e pandemias da OMS, diz que não há razão para pânico, mas admite que os casos vão aumentar.

DN/AFP

A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou esta sexta-feira que os cerca de 200 casos de varíola dos macacos registados nas últimas semanas fora dos países onde o vírus geralmente circula podem ser apenas o começo.

"Não sabemos se estamos a ver apenas a ponta do icebergue", reconheceu Sylvie Briand, chefe de prevenção e preparação para epidemias e pandemias da OMS, num briefing sobre a propagação "fora do comum" do vírus.

Desde que a Grã-Bretanha anunciou, pela primeira vez, um caso confirmado de varíola, a 7 de maio, quase 200 casos já foram reportados à OMS em países distantes dos estados onde o vírus é endémico. O Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) colocou o número desses casos em 219.

Uma doença endémica em vários países da África Ocidental e Central, casos de varíola-dos-macacos foram subitamente detetados em mais de 20 países em todo o mundo, incluindo Estados Unidos, Austrália, Emirados Árabes Unidos e quase uma dúzia de países da UE.

O ministério da saúde espanhol disse esta sexta-feira que foram confirmados 98 casos até agora, enquanto a Grã-Bretanha conta atualmente com 90 infeções confirmadas. Portugal registou entretanto 74 casos, informaram as autoridades de saúde, acrescentando que todas as ocorrências são maioritariamente em homens com menos de 40 anos.

"Ainda estamos no início deste evento", disse Sylvie Briand aos representantes dos estados membros presentes na Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra. "Sabemos que teremos mais casos nos próximos dias", disse, ressaltando que não há necessidade de "pânico". "Esta não é uma doença com a qual o público em geral se deve preocupar. Não é a covid ou outras doenças que se espalham rapidamente."

A varíola-dos-macacos está relacionada com a varíola que matou milhões em todo o mundo antes de ser erradicada em 1980. Mas esta doença é muito menos grave, com uma taxa de mortalidade de três a seis por cento. A maioria das pessoas recupera em três a quatro semanas.

Os sintomas iniciais incluem febre alta, nódulos inchados e erupções cutâneas semelhantes à varicela.

Embora muitos dos casos tenham sido associados a homens que fazem sexo com outros homens, os especialistas enfatizam que não há evidências de que seja uma doença sexualmente transmissível. Em vez disso, parece ser transmitida por contacto próximo com uma pessoa infetada que tem bolhas na pele.

Não há, para já, um tratamento, mas existem alguns antivirais desenvolvidos contra a varíola, incluindo um que foi recentemente aprovado pela Agência Europeia do Medicamento, destacou Sylvie Briand. As vacinas desenvolvidas para a varíola também mostraram ser cerca de 85% eficazes na prevenção da varíola.

No entanto, como a varíola não representa uma ameaça há mais de quatro décadas, a maioria das pessoas com menos de 45 anos não recebeu uma vacina, e os fornecimentos das vacinas são hoje muito limitados.

Sylvie Briand disse que os especialistas estão a tentar determinar o que estimulou esta "situação pouco comum", ao dizer que as investigações preliminares não parecem indicar que o vírus que causa a varíola dos macacos mudou ou sofreu alguma mutação. Ela expressou a esperança de que a propagação possa ser interrompida.

"Temos uma boa janela de oportunidade para interromper a transmissão agora", disse ela. "Se implementarmos as medidas certas agora, provavelmente podemos conter isto facilmente".