Internacional
08 maio 2021 às 21h29

Nova variante está a acelerar o colapso na Índia, diz cientista-chefe da OMS

Este sábado, o país registou pela primeira vez mais de 4 mil mortes e 400 mil novos casos em apenas 24 horas.

DN

Mais contagiosa e resistente a anticorpos e às vacinas. Assim é a variante da covid-19 que se está a espalhar na Índia contribuindo para o surto explosivo do país, segundo a Organização Mundial de Saúde.

Nova Déli tem lutado para conter o surto, mas o sistema de saúde colapsou e muitos especialistas suspeitam que as mortes oficiais e os números de casos são "grosseiramente" subestimados e possam ser cinco vezes superiores aos reportados oficialmente. Este sábado, o país registou pela primeira vez mais de 4 mil mortes e 400 mil novos casos em apenas 24 horas.

A pediatra e investigadora indiana Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS, alertou este sábado, numa entrevista à AFP, que "as características epidemiológicas registadas na Índia indicam que "esta é uma variante de disseminação extremamente rápida".

Segundo a especialista da OMS, a variante B.1.617 da covid-19 - com várias sub-linhagens e mutações -, detetada pela primeira vez na Índia em outubro passado, contribuiu "claramente para a catástrofe".

Para já a OMS classificou-a como " variante de interesse", pois não conseguiu dados científicos suficientes para a classificar como "variante de preocupação".

O rótulo de que é mais perigosa do que a versão original do vírus, por ser mais transmissível, mortal ou capaz de ultrapassar as proteções vacinais carece de dados científicos, mas várias autoridades nacionais de saúde, incluindo a dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, consideram a B.1.617 como "variante de preocupação".

E a especialista indiana espera que a OMS "faça o mesmo" em breve: "B 1.617 é provavelmente uma variante de preocupação porque tem algumas mutações que aumentam a transmissão e que também podem torná-la resistente a anticorpos que são gerados por vacinação ou por infeção natural."

De resto, Soumya Swaminathan lembra que "quanto mais o vírus se replica, se espalha e se transmite, maiores são as probabilidades de se desenvolverem mutações" e se as variantes "acumularem muitas mutações podem tornar-se resistentes às vacinas existentes, o que será um problema para todo o mundo".

Ressalvando que a variante por si só não pode ser responsabilizada pelo aumento dramático de casos e mortes na Índia, a médica indiana lamentou que o país tenha baixado a guarda, permitindo "grandes eventos sociais, religiosos e políticos".

Os comícios eleitorais realizados pelo primeiro-ministro Narendra Modi - este sábado falhou a Cimeira do Porto e participou virtualmente - e outros políticos foram parcialmente responsabilizados pelo aumento de casos de covid-19.

O uso de máscara também foi colocado para segundo plano e assim "o vírus espalhou-se silenciosamente". E nem a vacinação massiva parece ser solução. A Índia é o maior produtor de vacinas do mundo e vacinou totalmente apenas cerca de 2% da população (1,3 mil milhões).