Internacional
23 setembro 2022 às 14h21

Manifestantes russos detidos devem decidir entre a frente de batalha ou a prisão

Os detidos nas recentes manifestações na Rússia contra a mobilização para a guerra na Ucrânia têm agora de escolher entre ir para a frente de batalha ou serem presos durante dez anos.

DN/AFP

Horas depois de o presidente Vladimir Putin anunciar a decisão da mobilizar 300 mil homens e mulheres, Mikhail, músico de 29 anos, foi protestar na avenida Arbat, em Moscovo. Mikhail Suetin sabia que era possível ser detido na manifestação, no entanto, não previu que lhe entregariam uma ordem de mobilização para ir para a frente de batalha.

Tal como outras 1300 pessoas de todo o país, o músico foi detido. "Esperava os procedimentos habituais: prisão, esquadra da polícia e tribunal", conta o jovem entrevistado pela AFP. "Mas dizerem-me: 'Amanhã vais para a guerra', foi uma surpresa", acrescentou.

Segundo a ONG especializada independente OVD-Info, Mikhail Suetin não é o único manifestante que recebeu ordem de mobilização na esquadra da polícia, depois de ter sido detido.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que não havia nada de "ilegal" nesta decisão.

Suetin conta que, após sua prisão, os polícias levaram-no para uma sala onde queriam que ele assinasse um documento para ir para um centro de mobilização do exército. "Ou assinas isto ou passas dez anos na prisão", ameaçaram.

Durante a última terça-feira, na véspera da mobilização, o parlamento aprovou duras penas de prisão para os desertores e para quem recusar juntar-se ao exército. Contudo, esta medida ainda não entrou em vigor.

Suetin recusou-se a assinar a convocação, seguindo as indicações do seu advogado, e foi libertado na manhã desta quinta-feira.

Entretanto, os agentes avisaram que o Comité de Investigação da Rússia, encarregado das investigações criminais mais importantes, seria informado sobre a rejeição, o que lhe traria "grandes problemas".

Andrei, que completou 19 anos na semana passada, também foi detido nas manifestações em Moscovo. Tal como Mikhail, foi preso e recebeu a mesma ordem para se deslocar até à Ucrânia.

Ao contrário de Suetin, o adolescente assinou sob "ameaça" o documento, o qual a AFP teve acesso a uma cópia digital.

"Claramente eu não poderia escapar. Olhei ao meu redor e decidi que não poderia resistir", disse por telefone à AFP. "Infelizmente, assinei", conta o adolescente.

Andrei tinha acabado de iniciar os seus estudos na Universidade. Apesar de o Kremlin e o ministro da Defesa, Serguei Shoigou, assegurarem que nenhum estudante seria convocado e que as forças russas privilegiariam pessoas com habilidades específicas ou experiência militar, o jovem foi recrutado.

"Mas como se diz aqui, a Rússia é um país onde a expansão do possível é infinita", desabafa com amargura.

Andrei, que ainda procura um advogado, acabou por decidir não ir ao centro de mobilização no horário previsto - quinta-feira às 10.00 horas - apesar de não saber quais serão as consequências.

"Não disse nada aos meus pais, porque eles vão preocupar-se", explica. "Vou contar quando tiver uma ideia mais evidente do que vai acontecer comigo", acrescenta o rapaz.