Internacional
23 setembro 2021 às 07h07

La Palma. Lava perde velocidade mas mantém capacidade de destruição

Os reis de Espanha visitam esta sexta-feira a ilha de La Palma, onde a população vive dias de angústia e dor. "Ouvir quem perdeu tudo e quem sabe que vai perder é frustrante", diz autarca local.

DN

A lava do vulcão Cumbre Vieja, na ilha espanhola de La Palma, perdeu velocidade, mas manteve a capacidade destruidora. Desde domingo, que a ilha das Canárias vive entre o sobressalto e a impotência.

A erupção, que começou no domingo, já arrasou 166 hectares e destruiu 350 edificações, diz a imprensa espanhola na manhã desta quinta-feira, dia em que os reis de Espanha vão visitar a ilha e inteirar-se da situação e das necessidades da população. Desde a erupção, mais de seis mil pessoas já foram retiradas das suas casas.

"Têm sido dias realmente duros", escreveu no Twitter o presidente da Câmara Municipal de La Palma, Mariano Hernández Zapata. "Ouvir quem perdeu tudo e quem sabe que vai perder é frustrante", desabafou. "O que se vive em La Palma é angústia e dor", rematou.

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A lava "diminuiu o ritmo, mas segue o seu caminho inexorável", alertou o presidente regional das Ilhas Canárias, Ángel Víctor Torres, numa conferência de imprensa realizada na quarta-feira à tarde, em que aconselhava os moradores a não tentarem nada contra ela e a evitarem manobras que os coloquem em perigo. "Diante do avanço da lava, nada pode ser feito", reconheceu. "Nem uma barricada, nem um fosso, nem um parapeito, de forma alguma, vão deter o avanço da lava. Quem me dera fosse assim, mas não é, é impossível", insistiu, apesar de os bombeiros terem tentado fazer um caminho que, de alguma forma, guiasse a lava até ao mar, que dista 2,5 quilómetros.

A chegada da lava ao mar já não é certa, porque a descida do magma perdeu velocidade. "O fluxo avança muito lentamente. Doze metros avançaram em 12 horas", relatou o presidente regional.

Neste momento, "não temos certeza de que o avanço culminará no mar", destacou o diretor técnico do Plano de Emergências Vulcânicas das Canárias (Pevolca), Miguel Ángel Morcuende.

O vulcão "continua a expelir lava. O fluxo continua a avançar lentamente, o que corresponde a um aumento claro da viscosidade e, principalmente, do preenchimento de determinados buracos naturais no terreno. Estamos a falar de uma cavidade", disse Morcuende.

A chegada da lava ao mar preocupa as autoridades, particularmente, porque pode gerar explosões, ondas de água a ferver, ou nuvens tóxicas.
"Estamos em uma minizona de estabilidade agora, que não sabemos quanto tempo vai durar, porque já fomos avisados de novos episódios explosivos", acrescentou Morcuende.

Neste momento, o fluxo de lava está a ganhar altura. "Há áreas, onde já apresenta 15 metros de espessura", afirmou o porta-voz do Instituto Vulcanológico das Canárias (Involcan), David Calvo. Estima-se que a erupção pode durar "entre 24 e 84 dias, com uma média geométrica da ordem de 55 dias.

A erupção vulcânica em La Palma está a emitir uma elevada quantidade de dióxido de enxofre para a atmosfera, que deverá atingir sexta-feira boa parte do território de Espanha, bem como a costa mediterrânica, alertou esta quarta-feira o sistema europeu de satélites Copernicus. O gás vai atingir a totalidade de Marrocos, bem como a Tunísia e a costa mediterrânica de Espanha, França, Itália, Argélia e Líbia.

O dióxido de enxofre é um gás incolor, denso, não inflamável, bastante solúvel na água e é considerado tóxico e prejudicial tanto para a saúde humana como para o meio ambiente.