Internacional
22 outubro 2021 às 22h04

JLo: "Angola e Portugal condenados a viver eternamente abraçados"

O presidente angolano e o português conversaram online sobre a pandemia de covid-19, a recuperação económica e os laços de amizade entre os dois países.

"Angola e Portugal estão condenados a viver eternamente abraçados. Nada pode abalar as relações que queremos sempre boas entre os nossos dois países", disse ontem o presidente angolano, João Lourenço (conhecido como JLo), numa conversa com o homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, no Fórum EurAfrican. "Há relações excelentes entre os Estados, que só melhoraram ao longo dos últimos anos", disse por seu lado Marcelo no evento onde se falou de pandemia e recuperação económica, chamando a atenção para a boa relação pessoal entre ambos.

"Temos a mesma compreensão quanto à urgência na ultrapassagem da pandemia e temos a mesma compreensão quanto à urgência na recuperação económica e social", afirmou Marcelo, explicando que estamos diante de uma "ocasião única para dar saltos qualitativos" no cenário pós-pandémico. "Se pudermos dar os saltos qualitativos em conjunto, isso é formidável", acrescentou o Chefe de Estado, que apelidou João Lourenço de "meu presidente", por Angola ter assumido em setembro a liderança da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

O debate entre os dois, por videoconferência, decorreu no final do 4.º Fórum EurAfrican, uma iniciativa do Conselho da Diáspora Portuguesa. O foco da conversa, mediada pela jornalista Cristina Esteves, foi contudo a covid-19. "Há uma questão prévia fundamental quando se fala de desenvolvimento económico e social e recuperação das economias. Boa parte do mundo está em pandemia", disse Marcelo. Apesar de estar mos a passar da "pandemia para a endemia", esta ainda está presente e deixa marcas, avisou: "A pandemia existe e condiciona o arranque económico e social, a capacidade de enfrentar os próximos anos."

Apesar de lembrar que a vacina "não resolve o problema como uma varinha mágica", o Presidente português lembrou que é "a solução possível para o controlo da pandemia". E considerou que o esforço internacional para a partilha de vacinas, seja através de mecanismos de cooperação bilaterais ou do mecanismo global COVAX, "ainda é insuficiente" e deve acelerar. Portugal já prometeu três milhões de doses, tendo já enviado pelo menos metade - a maioria para países parceiros da CPLP.

Do outro lado do debate, enquanto líder de um país que tem recebido as vacinas doadas, João Lourenço agradeceu publicamente a solidariedade internacional. Mas defendeu que é preciso fazer mais. "A solidariedade manifestada até aqui tem-se limitado apenas à doação de vacinas. É insuficiente. Outra forma de manifestação da solidariedade seria abrir a capacidade aos nossos países de adquirir, com os nossos recursos, as vacinas que necessitamos", disse, falando das "imensas dificuldades" em ter acesso ao mercado das vacinas.

O presidente do Fórum EurAfrican, Durão Barroso, é também o presidente da Aliança Global para as Vacinas, um dos eixos por detrás do mecanismo COVAX. No encerramento do fórum, o ex-primeiro-ministro português chamou também a atenção para a "desigualdade vergonhosa" que ainda existe no acesso às vacinas. No mundo desenvolvido, indicou, 70% dos cidadãos estão vacinados, enquanto em África esse número é de apenas 8% com uma dose, sendo que com o esquema completo são 5,2% .

Ambos os presidentes lembraram que a pandemia só pode ser ultrapassada a nível global. "Uma vez que hoje vivemos num mundo globalizado, a pandemia é global e a solução para esta pandemia e outras que virão também deve ser global", indicou João Lourenço. "A economia mundial não vai retomar tão facilmente caso existam países que não consigam superar o problema desta pandemia. É preciso que nos preocupemos com uma solução global, que saiamos todos desta crise, porque caso contrário a recuperação da economia global será muito difícil", referiu.

Marcelo lembrou que "é preciso superar bem a pandemia", avisando que "não podemos ter recaídas" e destacando a importância de começar já a planear para a próxima que irá aparecer. Nesse sentido, indicou que já está a ser preparado um tratado global neste âmbito. "Temos que estar prontos para a próxima pandemia", defendeu Durão Barroso, alertando que a de covid-19 serviu de exemplo das consequências do eventual uso das doenças infecciosas como arma.

O antigo presidente da Comissão Europeia alegou, noutro eixo do seu discurso de encerramento, que África é crucial para os desafios globais, como a transição para uma economia verde e digital. E defendeu que na próxima cimeira União Europeia-África, prevista para fevereiro de 2022, as duas regiões devem dar "um salto em frente" e "selar uma nova parceria". Também o chefe da diplomacia portuguesa, Augusto Santos, Silva, falou da importância desta "parceria entre iguais" que tem vindo a ser desenhada, que vai além da ideia da ideia da ajuda ao desenvolvimento ou da ajuda humanitária.

susana.f.salvador@dn.pt