Internacional
19 agosto 2022 às 09h49

General brasileiro escolhido por Guterres já atuou na ONU e foi ministro de Bolsonaro

Guterres afirmou que o general da reserva brasileiro é "um respeitado oficial com mais de 40 anos de experiência militar e em segurança pública nacional e internacional.

DN/Lusa

Escolhido para liderar a investigação sobre o ataque contra a prisão ucraniana de Olenivka, o general Santos Cruz comandou missões de paz da ONU no Haiti e RDCongo e foi ministro do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, com quem se incompatibilizou.

Na quinta-feira, o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, anunciou que pretende nomear Carlos Alberto dos Santos Cruz para liderar uma missão de investigação ao ataque contra uma prisão em Olenivka, onde morreram 50 prisioneiros ucranianos.

Numa conferência de imprensa em Lviv, Guterres afirmou que o general da reserva brasileiro é "um respeitado oficial com mais de 40 anos de experiência militar e em segurança pública nacional e internacional, inclusive como comandante de operações de paz da ONU".

Nascido em 1952 na cidade de Rio Grande, localizada no estado brasileiro do Rio Grande do Sul, Santos Cruz iniciou a carreira militar em 1968 ao ingressar na Escola Preparatória de Cadetes do Exército brasileiro.

Formado em engenharia civil, nas décadas seguintes fez cursos preparatórios em instituições militares de elite como a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), os Comandos e Guerra na Selva, a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) e a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME).

Entre 2001 e 2003 atuou como adido militar junto à Embaixada do Brasil em Moscovo, na Rússia, experiência internacional que pode ter favorecido a sua escolha para a missão da ONU que investigará um alegado crime de guerra no conflito entre a Ucrânia e a Rússia.

Promovido a general de brigada em 25 de novembro de 2004, o militar brasileiro foi designado para comandar a 13ª. Brigada de Infantaria Motorizada, em Cuiabá.

Santos Cruz tornou-se comandante da missão de paz da ONU no Haiti (Minustah), entre setembro de 2006 e abril de 2009, tendo um total de 12 mil militares subordinados.

Entre os anos de 2013 e 2015 ele chefiou uma missão de paz na República Democrática do Congo (Monusco), comandou mais de 20 mil agentes da ONU, nesta que foi uma das raras missões em que os capacetes azuis tinham autorização para atacar rebeldes, tarefa que lhe rendeu prestígio internacional.

Na reserva, Santos Cruz foi assessor especial do ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, no Governo da ex-presidente Dilma Rousseff.

Em 2017 atuou como secretário de Segurança Pública do Ministério da Justiça, no Governo do ex-presidente Michel Temer, cargo que deixou para se tornar consultor da ONU, em 2018.

Em novembro de 2018, Santos Cruz foi anunciado como o futuro ministro chefe da Secretaria de Governo liderado pelo então recém-eleito Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, cargo que ocupou até junho de 2019, quando foi demitido devido a divergências com as estratégias da equipa de comunicação.

O general era apoiante e amigo pessoal de Bolsonaro, mas à época da sua demissão a comunicação social brasileira noticiou que ele deixou o Governo por influência direta de um dos filhos do Presidente, o vereador Carlos Bolsonaro, e do ideólogo de extrema-direita Olavo de Carvalho. Ao sair do Governo, Santos Cruz tornou-se um crítico público de Bolsonaro.

No ano passado, chegou a apoiar publicamente a pré-candidatura presidencial do ex-juiz da Operação Lava Jato Sérgio Moro, que trocou de partido e acabou fora da corrida pelo Governo brasileiro.

O próprio general chegou a ser apontado para disputar a Presidência com a saída de Moro da sigla Podemos. No início do mês, o seu nome circulou como possível candidato à vice-presidência na candidatura do União Brasil liderada pela senadora Soraya Thronicke.

Na missão da ONU, Santos Cruz investigará o incidente ocorrido na manhã de 29 de julho, quando mais de 50 prisioneiros de guerra ucranianos foram mortos num centro de detenção em Olenivka, na região de Donetsk. Rússia e Ucrânia trocam acusações em relação à responsabilidade do ataque.

A Ucrânia pediu à ONU e ao Comité Internacional da Cruz Vermelha que enviem uma missão a Donetsk para investigar o ataque.

A Presidência ucraniana anunciou, em comunicado, que Guterres e Zelensky discutiram, no encontro bilateral entre ambos, a missão de averiguação da ONU a Olenivka e que o Presidente ucraniano propôs incluir no mandato da missão a questão do cumprimento, pela Rússia, dos acordos sobre a retirada dos combatentes ucranianos da fábrica Azovstal, em Mariupol (sul).