Filho de emigrantes ex-soviéticos. Quem é Evan Gershkovich, jornalista norte-americano preso na Rússia?
Um fluente em língua russa, filho de ex-soviéticos emigrados e criado em Nova Jérsia, jornalista estava em reportagem na cidade industrial de Yekaterinburg, nos montes Urais, quando foi preso pelo Serviço Federal de Segurança da Rússia
Correspondente do Wall Street Journal preso na Rússia sob acusações de espionagem, Evan Gershkovich é um norte-americano de 31 anos que faz reportagens sobre a Rússia para vários media há seis anos. Filho de emigrantes da antiga União Soviética e fluente em russo, tem publicado vários trabalhos sobre as consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia.
Segundo relatos de amigos, surgidos esta quinta-feira após a sua detenção, Gershkovich considerava que o seu papel era contar a história de como a guerra estava a mudar a Rússia e sabia que poderia ser perigoso fazer o seu trabalho face às rígidas leis de censura implementadas pelo Kremlin nos primeiros dias da invasão da Ucrânia, escreve a agência Reuters.
"Evan não era ignorante ou ingénuo em relação aos riscos", publicou o jornalista nova-iorquino Joshua Yaffa, amigo de Gershkovich, no Twitter.
"Ele é um jornalista profissional corajoso e comprometido que viajou para a Rússia para relatar histórias de importância e interesse", acrescentou.
Um fluente em língua russa filho de ex-soviéticos emigrados e criado em Nova Jérsia, nos Estados Unidos, Gershkovich mudou-se para Moscovo no final de 2017 para ingressar no Moscow Times, publicação de língua inglesa e, posteriormente, trabalhou para a agência nacional de notícias francesa France-Presse (AFP).
Quando a Rússia anunciou o início daquela a que chamou de "operação militar especial", em fevereiro de 2022, com a invasão da Ucrânia, Gershkovich estava em Londres, prestes a retornar à Rússia para ingressar na redação do Wall Street Journal em Moscovo.
Na altura, escreve a Reuters, terá ficado decidido que o norte-americano moraria em Londres, mas viajaria com frequência até à Rússia para reportagens de viagens, como correspondente credenciado.
Foi numa dessas viagens, à cidade industrial de Yekaterinburg, nos montes Urais, que ele foi preso esta semana pelo Serviço Federal de Segurança da Rússia, o FSB, sucessor da KGB soviética.
No início da guerra, Gershkovich tinha estado na Bielorrússia, testemunhando a atividade de ambulâncias militares russas num hospital a 50 km da fronteira ucraniana, numa reportagem que mostrava como Minsk estava a apoiar a guerra da Rússia e indicava que as forças russas estavam a sofrer pesadas baixas.
Grupos de direitos humanos, ativistas e colegas do jornalista pediram esta quinta-feira a libertação imediata Evan Gershkovich, depois de um tribunal de Moscovo o ter sentenciado a prisão preventiva até pelo menos 29 de maio.