Internacional
26 janeiro 2022 às 20h27

Boris sob fogo à espera do relatório do "partygate"

Starmer insiste para que o primeiro-ministro se demita, o que este rejeita fazer. Conclusão da investigação a qualquer momento.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, voltou esta quarta-feira a enumerar tudo aquilo que tem alcançado à frente do governo, perante a insistência do líder da oposição, Keir Starmer, de pedir a sua demissão. "A razão pela qual ele me quer fora do caminho é que ele sabe que este governo pode ser confiável para apresentar resultados, como temos feito", disse Johnson, citando entre outro o Brexit, a rápida vacinação contra a covid-19 ou a queda no crime. Os dois estiveram frente a frente em mais uma sessão semanal de perguntas e respostas no Parlamento, à espera do resultado da investigação ao "partygate" - que pode ser revelado a qualquer momento.

O relatório independente da experiente funcionária de carreira Sue Gray ainda não foi entregue, disse esta quarta-feira o governo. Entretanto, o facto de a polícia estar a investigar as inúmeras festas que terão ocorrido no número 10 de Downing Street quando as regras contra a pandemia o impediam, pode atrasar a sua divulgação. A oposição insiste em ter acesso na íntegra ao documento, e não apenas às suas conclusões. Johnson, no Parlamento, disse que não podia comentar o relatório porque as investigações ainda estão a decorrer.

A chefe da diplomacia, Liz Truss, disse que o relatório era "iminente" com o Labour a prever que Johnson pudesse fazer uma declaração aos deputados assim que o receber, acreditando que isso será o mais tardar esta quinta-feira à tarde - à sexta-feira os eleitos costumam regressar à sua circunscrição eleitoral. Independentemente das conclusões, Starmer defende que Johnson mostrou "nada mais do que desprezo pela decência, honestidade e respeito que definem" o Reino Unido, pedido reiteradamente a sua demissão. "Já que reconheceu que o código de conduta dos ministros se aplica a ele, irá demitir-se", questionou. "Não", respondeu Johnson, que noutra altura da discussão acrescentou: "Tomámos as decisões difíceis, acertámos nas grandes decisões, e nós, em particular eu, estamos a avançar com o trabalho."

O relatório de Sue Gray poderá ser a gota de água para os deputados do Partido Conservador avançarem com uma moção de censura ao líder - são precisas 54 cartas a pedi-lo. Segundo aqueles que já leram o documento, este é "franco" e será provavelmente "uma leitura muito desconfortável" para o primeiro-ministro, com Downing Street a querer apenas revelar um sumário das conclusões.

Além da polémica com as festas durante o confinamento, Boris Johnson ficou debaixo de fogo por causa do voo que retirou centenas de cães e gatos do Afeganistão, durante a caótica retirada ocidental após a chegada ao poder dos talibãs. O gabinete do primeiro-ministro tem insistido que ele não teve nada a ver com o processo, efetuado por uma organização de caridade britânica (a Nowzad), mas emails do Ministério de Relações Externas parecem comprometer essa versão dos factos. Num desses correios eletrónicos diz-se que Johnson "autorizou que a equipa e os animais [da Nowzad] fossem retirados" e falava-se noutra organização semelhante. No segundo email, também se dizia "tendo em conta a decisão de hoje do primeiro-ministro de retirar os funcionários da Nowzad", outra associação cujo nome está tapado "pede para a entrada dos seus funcionários, todos afegãos."

susana.f.salvador@dn.pt