Internacional
07 julho 2022 às 08h15

Primeiro-ministro Boris Johnson a caminho da demissão

Desta vez o caminho será mesmo a saída do número 10 de Downing Street. BBC e a Sky News avançam que Boris Johnson apresenta hoje a demissão, mas permanece como primeiro-ministro até ao outono. Comunicação ao país nas próximas horas...

DN com Lusa

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, está cada vez mais isolado e é-lhe apontado o caminho para sair do número 10 de Downing Street. A BBC avança que vai apresentar hoje a demissão, mas que irá permanecer no cargo até ao outono, altura em que será eleito um novo líder do Partido Conservador. Está previsto que Boris Johnson faça esta quinta-feira uma declaração ao país.

A onda de demissões não para e agora foi a vez da recém-nomeada ministra da Educação a renunciar ao cargo. Também o novo ministro das Finanças pede a Boris Johnson para sair. É essa a solução provável para esta crise no governo britânico, com a BBC e a Sky News a indicar que Boris Johnson vai mesmo demitir-se esta quinta-feira.

Ainda não se sabe a que horas o primeiro-ministro vai dirigir-se aos britânicos para anunciar a demissão, mas, segundo a BBC, Boris Johnson deverá anunciar que vai renunciar ao cargo de líder do Partido Conservador, mantendo-se como chefe do governo até ser eleito o seu sucessor. Está previsto um congresso do partido para outubro.

Um porta-voz do número 10 de Downing Street refere que Boris Johnson "concordou" retirar-se até que seja escolhido um novo líder do Partido Conservador, o que está previsto acontecer só depois do verão, avança a estação de televisão britânica.

A demissão de Johnson é uma "boa notícia", considera o líder do principal partido da oposição (Partido Trabalhista). Keir Starmer defende, no entanto, que apenas mudar o líder do Partido Conservador não é suficiente. É preciso uma "mudança de governo", sublinha.

A chefe do governo da Escócia, Nicola Sturgeon, disse que o chefe do Executivo britânico "sempre foi incapaz de ser primeiro-ministro".

Através de uma mensagem na rede social Twitter, Sturgeon considerou, por outro lado, que o "'défice democrático' inerente a Westminster (parlamento do Reino Unido) não se soluciona com uma mudança de primeiro-ministro".

A responsável pelo governo escocês e líder do Partido Nacional Escocês referia-se às notícias difundidas hoje sobre a eventual demissão do primeiro-ministro e da realização de um congresso do Partido Conservador em outubro.

"Os problemas vão mais além de apenas um indivíduo. O 'sistema' de Westminster está danificado", acrescentou.

Os últimos desenvolvimentos têm reforçado a fragilidade da situação do primeiro-ministro, cada vez mais isolado. Apenas 36 horas depois de ter sido nomeada como a nova responsável pela pasta da Educação, Michelle Donelan decidiu apresentar a renúncia ao cargo. Já o novo ministro das Finanças, Nadhim Zahawi, apelou a Boris Johnson para sair.

O recém-nomeado ministro disse que aceitou substituir Rishi Sunak na pasta das Finanças por ​​"lealdade" ao país e não a um homem, mas aconselhou, na quarta-feira, Boris Johnson de que só havia um caminho: sair "agora". Apesar de ter tido a esperança que ele "ouvisse um velho amigo de 30 anos", o primeiro-ministro não seguiu a recomendação. "O país merece um governo que não seja apenas estável, mas que atue com integridade", referiu.

Na carta de demissão, Michelle Donelan, recém-nomeada ministra da Educação, relata que "implorou" a Boris Johnson para que "fizesse a coisa certa" e que renunciasse a bem do país e do partido. "Não vejo como pode continuar no cargo", lê-se na missiva, referindo que o chefe do governo deixou os ministros numa "situação impossível".

O ministro britânico para a Irlanda do Norte, Brandon Lewis, também faz parte da lista de demissões. Renunciou ao cargo esta quinta-feira em protesto contra a continuidade do primeiro-ministro, Boris Johnson, sendo que mais de 50 membros do executivo apresentaram a demissão desde quarta-feira.

Brandon Lewis disse que "lamenta profundamente" deixar o executivo, frisando que "de um governo se espera honestidade, integridade e respeito mútuo".

Leia também: Membro do Governo britânico demite-se após acusações de ter apalpado dois homens

São cada vez mais os membros do Governo que decidiram renunciar aos cargos em protesto pelos contínuos escândalos que envolvem Boris Johnson, na sequência do polémico caso "pinchergate", um escândalo sexual que envolveu Chris Pincher, que era o responsável pela disciplina parlamentar dos deputados conservadores.

Pouco depois de se conhecer a decisão de Brandon Lewis também apresentaram a demissão o secretário de Estado da Segurança, Damian Hinds, e a secretária de Estado do Tesouro, Helen Whateley.

Na carta de demissão, o ex-ministro para a Irlanda do Norte disse que defendeu o Governo "em público e em privado" mas que foi atingido "um ponto de não retorno".

"Não posso sacrificar a minha integridade pessoal para defender as coisas tal como elas estão. É evidente que o nosso partido [Conservador], os deputados e os apoiantes [do partido] e todo o país merecem melhor", disse Lewis na mensagem enviada ao chefe do Governo.

O ex-secretário de Estado da Segurança pediu mudança na liderança do Partido Conservador "pelo bem do país e pela confiança" na democracia.

Por outro lado, Helen Whatelt reconheceu que apoiou as políticas de Boris Johnson, mas que nesta altura "chegou-se ao limite", referindo-se aos pedidos de desculpas do primeiro-ministro.

Com estas novas demissões aumenta a pressão sobre Boris Johnson para que se demita sendo que o influente Comité 1922, que agrupa os deputados conservadores, prepara uma modificação das regras para que se possa levar a cabo uma nova moção de censura interna contra o chefe do governo.

Johnson argumenta que conta com um forte apoio do eleitorado, após vencer por maioria as eleições gerais de 2019.

Na terça-feira, recorde-se, dois nomes de peso decidiram bater com a porta. Os agora ex-ministros da Saúde britânico, Sajid Javid, e das Finanças, Rishi Sunak, apresentaram a demissão, dizendo já não poder confiar no primeiro-ministro, Boris Johnson.

Questionado na quarta-feira sobre se o Executivo iria sofrer com a falta de ministros e outros membros que se demitiram, Johnson respondeu que "há uma riqueza de talentos" na bancada parlamentar, de mais de 300 deputados.

Entre os que anunciaram a demissão na quarta-feira, um deles, Will Quince, conta que esteve reunido com Boris Johnson e que este lhe pediu desculpas.

"Obrigado por se encontrar comigo ontem à noite e pelas suas sinceras desculpas em relação aos briefings que recebi do nº 10 antes da conferência de imprensa de segunda-feira, que agora sabemos ser imprecisos", escreveu na carta de demissão que divulgou no Twitter.

Também nas redes sociais, a assessora do Ministério dos Transportes britânico anunciou a demissão e justificou igualmente a decisão por questões relacionadas com a perda de confiança.

"A confiança na política é - e deve ser sempre - da maior importância, mas, infelizmente, nos últimos meses, isso perdeu-se", escreveu Laura Trott numa mensagem publicada no Facebook.

Facebookfacebookhttps://www.facebook.com/lauratrottmp/posts/pfbid0hRcCK4pWSVAEV2kQsaiihuu6s6w2Kvc9XeBMvZ71UCs6U3xApuTEN48WNf2eMR5yl

As demissões sucediam-se, mas Boris Johnson parecia determinado em lutar pela sobrevivência e anunciou rapidamente uma remodelação, com o ministro da Educação, Nadhim Zahawi, a passar para a pasta das Finanças, e Steve Barclay, chefe de gabinete, para a Saúde.

Esta crise política no Reino Unido foi causada pela admissão de Johnson de que cometeu um "erro" ao nomear Chris Pincher para o Governo em fevereiro como responsável pela disciplina parlamentar.

Pincher demitiu-se na semana passada após ter sido acusado de ter apalpado dois homens.

Na terça-feira, depois de alegar o contrário, Downing Street reconheceu que o primeiro-ministro tinha sido informado já em 2019 de antigas acusações contra Pincher, mas que teria esquecido o assunto.

Horas depois, no final do dia, os ministros da Saúde, Sajid Javid, e das Finanças, Rishi Sunak, anunciaram a demissão com poucos minutos de intervalo, cansados dos repetidos escândalos que abalam o Governo há meses, seguidos por outros membros menos graduados da equipa governativa.

Consideravelmente enfraquecido pelo escândalo das "festas" em Downing Street durante a pandemia de covid-19 e uma série de escândalos sexuais no Partido Conservador, Boris Johnson sobreviveu a uma moção de censura interna no início de junho.

O contexto económico também é particularmente delicado, com a inflação no nível mais alto em 40 anos, 9,1% em maio, e uma crescente agitação social.