Internacional
04 fevereiro 2023 às 20h08

EUA abatem balão chinês após "violação inaceitável de soberania"

Pentágono diz que outro aparelho espião, semelhante ao que levou Blinken a adiar a viagem a Pequim, estará a sobrevoar a América Latina.

As Forças Armadas norte-americanas abateram este sábado um balão espião chinês que há dias sobrevoava o país. A informação é confirmada pela Associated Press, que refere que o balão foi abatido ao largo da Carolina do Sul, na costa Atlântica, já depois de ter sobrevoado locais militares considerados sensíveis.

A operação aconteceu este sábado, com o balão a cair no Oceano Atlântico, possibilitando assim às forças norte-americanas recuperar os destroços. Isto já depois de, horas antes, a Administração Federal de Aviação e a Guarda Costeira terem proibido voos de e para três aeroportos nos estados da Carolina do Norte e do Sul, ao mesmo tempo que limpavam o espaço onde o balão - que voava a 60 mil pés e teria o tamanho de três autocarros - acabaria por cair.

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O presidente norte-americano já tinha dito publicamente que o país iria "tratar do assunto". Imagens de televisão mostram o balão a ser abatido, caindo depois em direção à água. Há também relatos de jatos a sobrevoar a zona e navios que foram postos na água para operar a recuperação.

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"A ação deliberada e legal de hoje demonstra que o presidente Biden e a sua equipa de segurança nacional colocarão sempre a segurança e proteção do povo americano em primeiro lugar, ao mesmo tempo que respondem à violação inaceitável da nossa soberania por parte da República Popular da China", disse, em comunicado, o secretário da Defesa, Lloyd Austin.

Já o presidente congratulou os militares que abateral o balão. "Eles derrubaram-no com sucesso. E quero cumprimentar os nossos aviadores que fizeram isso", afirmou aos jornalistas, em Maryland.

A presença nos céus norte-americanos do balão, que os chineses diziam ser meteorológico e ter saído da rota, levou o secretário de Estado, Antony Blinken, a adiar a visita oficial a Pequim, que ia começar este domingo.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês criticou o facto de "alguns políticos e media nos EUA usarem o incidente como um pretexto para atacar e difamar a China". Um segundo balão foi entretanto visto a sobrevoar a América Latina, mais precisamente a Costa Rica.

O caso põe um travão à aproximação entre Washington e Pequim, iniciada no encontro entre os presidentes Joe Biden e Xi Jinping na cimeira do G20 em Bali, em novembro. A relação entre os dois países deteriorou-se com a crise diplomática desencadeada pela visita da então líder da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, a Taiwan, em agosto. E o futuro não é risonho, especialmente tendo em conta o facto de o sucessor da democrata, o republicano Kevin McCarthy, estar alegadamente também ele a planear uma visita à ilha - que a China considera uma província rebelde e cuja soberania não descarta recuperar pela força

Os EUA consideram a China a principal ameaça a longo prazo à sua segurança nacional, mas querem manter o diálogo para evitar que a rivalidade (económica e militar) arraste os dois países e o mundo para um conflito. Segundo a Reuters, as expectativas para a viagem de Blinken, a primeira de um secretário de Estado norte-americano à China desde 2018, não eram muito elevadas. Mas ele esperava abordar o tema dos cidadãos norte-americanos que Washington considera estarem injustamente detidos na China e pressionar para travar o fluxo de fentanil, um opioide que representa uma crise de saúde pública nos EUA.

Blinken, que considera a passagem do balão chinês pelo território norte-americano "uma violação clara da soberania"e "um ato irresponsável", disse estar disponível para visitar Pequim quando as condições forem as certas. Mas depois da polémica com o balão, com os democratas pressionados pelos republicanos para terem uma postura de maior força contra a China, será difícil remarcar o encontro.

Num comunicado enviado já depois de Blinken anunciar o adiamento da visita, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês reiterou que Pequim "nunca violou o território ou espaço aéreo de um país soberano". As autoridades defenderam ainda a importância de manter os canais de comunicação abertos, "especialmente lidar com situação inesperadas de uma forma calma e confiável". O comunicado indicava ainda que Pequim "não vai aceitar qualquer conjuntura ou exagero infundado", acusando alguns políticos e media norte-americanos de aproveitarem para lançar uma campanha de difamação contra a China.

Este sábado, o balão continuava a sua viagem pelo espaço aéreo dos EUA, após ter sobrevoar o Montana - um dos locais onde existem silos de mísseis nucleares. Seguia em direção a sudoeste, tenso sido detetado sobre o Kansas, o Missouri e a Carolina do Norte até chegar ao Atlântico. Nessa altura, autoridades abateram o balão, esperando conseguir recuperar os destroços.

Com Rui Miguel Godinho

Tópicos: Internacional, EUA, China