Jornal turco publica caricaturas de Charlie Hebdo

O jornal turco, Cumhuriyet, é o único órgão da imprensa, num país muçulmano, a ousar publicar as caricaturas de Charlie Hebdo e já recebeu ameaças telefónicas.

Um jornal da oposição turca enfrentou hoje sozinho as pressões e ameaças que se multiplicam nos países muçulmanos, publicando caricaturas, incluindo de Maomé, da primeira edição do semanário Charlie Hebdo depois do atentado que dizimou a sua redação.

Depois de um controlo da polícia durante a noite, o diário Cumhuriyet, inimigo jurado do presidente islamo-conservador turco Recep Tayyip Erdogan, distribuiu na sua edição de hoje um encarte de quatro páginas em turco com o essencial do último número do Charlie Hebdo, incluindo da primeira página que suscitou novamente críticas do mundo islâmico.

Neste desenho de Luz, um Maomé de lágrima no olho segura uma folha com a frase 'Je suis Charlie', o 'slogan' de milhões de manifestantes que desfilaram em França e no estrangeiro para condenar os ataques 'jihadistas' que causaram 17 mortos em três dias em Paris.

O Cumhuriyet é, até agora, o único órgão da imprensa a ousar publicar aquelas caricaturas num país muçulmano.

"Publicámos este suplemento por solidariedade com o Charlie e por defender a liberdade de expressão", declarou à agência France Presse o chefe de redação do jornal, Utko Cakirozer.

O responsável adiantou que por respeito pela "sensibilidade religiosa da sociedade turca" o Cumhuriyet não reproduziu toda a primeira página do jornal satírico francês, onde a caricatura do profeta Maomé tinha por cima a frase "Tudo está perdoado".

"Repito-o mais uma vez, o terrorismo é um crime contra a Humanidade, seja qual for a sua origem. É por isso que ele (o profeta) tem na sua mão um cartaz 'Je suis Charlie'", escreveu Cakirozer na sua coluna, adiantando "esta caricatura não tem nada a ver com o profeta Maomé, é um símbolo de humanidade e justiça".

Fundado em 1924 por um próximo do fundador da Turquia moderna e laica Mustafa Kemal Ataturk, o Cumhuriyet (A República em turco) é resolutamente contra o regime do presidente Erdogan, tendo sido alvo de vários processos nos últimos anos, bem como de atentados. Vários dos seus jornalistas foram detidos.

Cakirozer disse à AFP que desde terça-feira tem recebido ameaças telefónicas.

Efetivos da polícia foram destacados para junto dos escritórios do jornal em Istambul e em Ancara.

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