Sargento declara-se culpado da morte de 16 afegãos
O soldado norte-americano acusado de ter matado 16 aldeões afegãos em março de 2012 declarou-se hoje culpado, perante um tribunal marcial perto de Seattle, no Estado de Washington (noroeste), esperando assim escapar à pena de morte.
Acompanhado dos seus dois advogados, o sargento Bales, de 39 anos, declarou-se culpado de 16 acusações de homicídio, num massacre perpetrado no sul do Afeganistão, seis de tentativa de homicídio e sete de agressão.
Dezasseis das suas 22 vítimas eram mulheres e crianças e quase todas foram mortas com tiros na cabeça.
Um dos seus advogados tinha anunciado na semana passada que a declaração de culpa resultava de um acordo com a acusação para evitar a condenação à pena de morte.
Interrogado pelo juiz militar, o coronel Jeffery Nance, sobre se compreendia que a sua declaração de culpa era definitiva, o acusado respondeu afirmativamente.
"Tive a ideia de matar e depois matei mesmo, disparando a arma e queimando-a", disse o soldado, repetindo a mesma frase para cada uma das 16 acusações de homicídio que enfrenta.
Quando o juiz lhe perguntou porque é que tinha matado os aldeões, Bales disse: "Quanto à razão, fiz essa pergunta a mim mesmo um milhão de vezes, desde então. Não há nada no mundo que justifique as coisas horríveis que eu fiz".
O soldado será julgado por um júri de 12 elementos, composto em um terço por militares, e o julgamento foi marcado para 19 de agosto.
Os procuradores do Ministério Público não confirmaram hoje se já não pedirão a pena de morte.
O soldado é acusado de ter, a meio da noite de 11 de março de 2012, deixado a sua base, no distrito de Panjwayi, na província de Kandahar, e de ter disparado sobre civis, matando sobretudo mulheres e nove crianças.
Entre os crimes, Bales voltou por duas vezes à base, confidenciou a um colega o que tinha feito e depois entregou-se.
Numa audiência preliminar em novembro, a família do sargento tentou demonstrar a sua inocência, descrevendo-o como um homem "corajoso e respeitável" e o seu advogado argumentou com a influência do álcool, de medicamentos e do stress a que se encontrava submetido o seu cliente antes da tragédia.
A acusação classificou o crime como um ato "odioso e desprezível".
Este massacre veio somar-se a uma série de incidentes que tornaram mais tensas as relações entre Washington e o Presidente afegão, Hamid Karzai, como a incineração de exemplares do Corão na base de Bagram, ou ainda a divulgação de fotografias de fuzileiros urinando sobre cadáveres.
O último soldado norte-americano a ser executado foi John Bennet, em abril de 1961, depois de ter sido condenado por violação e tentativa de assassínio, segundo o Centro de Informação sobre a Pena de Morte.