20 junho 2015 às 00h01

A Lampedusa dos Balcãs

Imigrantes ilegais vêm de países como a Síria, o Afeganistão, o Iraque ou o Mali. Arriscam atravessar os Balcãs, a pé, de bicicleta, pagando ou fugindo às máfias, tantas vezes quantas forem necessárias.

Patrícia Viegas

Walid Amoud olha para as várias bicicletas que se encontram alinhadas à porta de uma loja no centro de Demir Kapija, cidade da Antiga República Jugoslava da Macedónia na fronteira com a Grécia. Há novas e usadas. "Viajo com as minhas quatro filhas, o meu filho e um bebé de 5 meses", conta à equipa de reportagem da AFP o professor de Geografia sírio, que consegue negociar um veículo de duas rodas pelo valor de 125 euros. Isto porque na Macedónia, até há bem pouco tempo, os imigrantes estavam banidos dos transportes públicos e só podiam andar a pé ou deslocar-se de bicicleta. Na quinta-feira, o Parlamento macedónio aprovou uma mudança que permitirá aos ilegais andarem de transportes durante 72 horas. Tempo suficiente para chegarem provavelmente a países vizinhos.

Natural de Damasco, Amoud tem como destino a Alemanha, país onde acredita que poderá ter um futuro melhor. Mas antes é preciso lá chegar, e para isso há que atravessar vários países, conviver com as máfias que exploram o negócio da imigração ilegal nos Balcãs. Pagando-lhes ou fugindo-lhes. E conseguir passar todos os controlos alfandegários. Algo difícil, proeza para poucos. Amoud é apenas um dos milhares de imigrantes ilegais que tentam chegar aos mais prósperos Estados da União Europeia, não através do mar Mediterrâneo, mas da Turquia, da Grécia, da Bulgária, dos Balcãs em geral. As suas histórias não têm sido tão mediatizadas como as dos que tentam a sorte por mar, mas o fluxo é semelhante e já há quem fale numa Lampedusa dos Balcãs em referência à ilha italiana onde afluem às centenas imigrantes vindos do Norte de África.

Neste ano, segundo a Frontex, a agência que controla as fronteiras externas da União Europeia, chegaram cem mil imigrantes à Europa, 60 mil dos quais através de Itália. Um mapa colocado no seu site mostra que se pela rota central do Mediterrâneo tentaram chegar à UE, entre janeiro e maio, 47 008 imigrantes clandestinos, pela rota dos Balcãs Ocidentais movimentaram-se, no mesmo período, um total de 50 430 ilegais. As guerras no Iraque e na Síria são, claramente, os impulsionadores deste aumento de imigração rumo à Europa.

LEIA MAIS NA EDIÇÃO IMPRESSA OU NO E-PAPER DO DN: