Richard Nixon

Cartaz original de "Young Mr. Lincoln/A Grande Esperança": ler é também uma actividade política

João Lopes

Abraham Lincoln e o valor das palavras

No seu programa The Tonight Show (NBC), ao comentar algumas imagens da tomada de posse de Joe Biden, Jimmy Fallon referiu-se ao gesto tradicional do novo presidente, colocando a mão esquerda sobre a Bíblia, neste caso numa edição de dimensões francamente invulgares: "Biden fez o seu juramento com uma Bíblia gigante que pertence à sua família desde 1893." Depois de apresentar um plano aproximado do livro, seguro por Jill Biden, observou: "Aquilo não é uma Bíblia que se encontre num armário. Aquilo é um armário." Rematou mesmo dizendo que até o Papa terá considerado que "foi um bocadinho excessivo".

Opinião

Os Acordos de Abraão são como o "Glutão do detergente"

Quem já tem cabelos brancos, ou já não os tem, lembra-se certamente do anúncio dos glutões que iam comendo as nódoas da roupa, enquanto a máquina ia rodando, ou a sabonária fazia do fato-de-macaco bacalhau de molho. Os Acordos de Abraão, são um processo em andamento e os glutões Trump e Netanyahu, após terem comido primeiro os Emirados Árabes Unidos, comeram agora também o Bahrein (Dois Mares, na tradução literal), o que fez a notícia da semana, com assinatura em Washington a 15 do corrente. O próximo será certamente Marrocos e, para breve, apontem! Se bem que para estes últimos, os ganhos serão tão substanciais, que merecerão análise futura e exclusiva. A seu tempo o farei. Voltando a Abraão, ou melhor, aos glutões, a importância destes Acordos históricos deverão ser vistos e analisados abstraindo-nos das figuras de Trump e de Netanyahu e do que representam. Trump quer ser reeleito a todo o custo, o tempo escasseia e, Netanyahu quer escapar da prisão ou, pelo menos, que se prove em Tribunal que não corrompeu, nem foi corrompido e/ou, tendo-o feito, que foi a bem da Nação. A importância do momento é o da quebra de um ciclo baseado na violência e na vingança da honra, pilar do Código Social e Relacional em toda a Região MENA. A lógica e o historial de violência entre judeus e árabes, na Região, foi-me explicada numa imagem por conhecedor profundo das dinâmicas locais e que a resumiu da seguinte forma: "É como se fossem 2 cães a morderem a boca um do outro e acham que quem morder com mais força ganha!". Regularizar as relações num papel assinado, não vai impedir o conflito (e conflito não é guerra), mas esse existirá sempre, já que faz parte da condição humana. Agora, será certamente um passo importante para abrir os espíritos e atacar a origem da "zizania" permanente, que começa logo a ser cultivada nos manuais da Escola Primária, em ambos os lados, com a demonização permanente do Outro. Os dados estão lançados e o que quero mesmo dizer, é que acredito que daqui a uns 20 ou 30 anos, se Deus quiser, estarei ainda numa Universidade perto de si a cantar Hossanas à Política Externa de Trump para o Médio Oriente, da mesma maneira que hoje, as Escolas Realistas das Relações Internacionais a cantam à Política Externa de Richard Nixon, pelos ensinamentos que teve enquanto Vice-Presidente de Dwight Eisenhower (1953-1961) e que lhe deram o traquejo e a visão para visitar a "herética República Popular da China" enquanto Presidente, em 1972. Em 1971 já tinha aliás, enviado secretamente Henry Kissinger em missão importante, para "sentir a temperatura" de Zhou Enlai, o Primeiro-Ministro de Mao Zedong. Como é sabido, a regularização das relações entre americanos e a China comunista tudo mudou. A Coca-cola ganhou o maior mercado de sempre e Taiwan teve que ceder o seu lugar de Membro Permanente do Conselho de Segurança nas Nações Unidas ao "diabo com olhos em bico"!