A "febre" do imobiliário apanhou a boleia do elétrico 24. A loucura dos preços que começou no Chiado já chega a Campolide. Naquela que foi a parente pobre das freguesias mais ricas da capital, os preços das casas ainda estão abaixo da média de Lisboa. Mas no segundo trimestre de 2018, a par das Avenidas Novas, foi em Campolide que o valor das casas mais subiu: 37%.
O metro quadrado na freguesia que faz fronteira com Campo de Ourique e Santo António, duas das mais caras do país, já custa 2633 euros, segundo os dados revelados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). No mesmo período de 2017 o metro quadrado em Campolide custava 1922 euros. A mediana do município aumentou 23% para 2753 euros.
O disparo dos preços não apanhou André Couto de surpresa. O presidente da junta de freguesia diz que "há muito que alertou a câmara para esta situação", que, apesar de ter lavado a cara da velha Campolide, está a levar muitos dos antigos moradores a sair da freguesia por não aguentarem os novos preços.
"A forte reabilitação do espaço público nos últimos anos tornou a freguesia mais atraente e ajuda a explicar a subida dos preços. Campolide está hoje mais bonita do que muitas freguesias à volta. Por outro lado, isto também tem que ver com a saturação do centro histórico. A coroa seguinte da cidade, onde nós estamos, passou a ser mais atrativa para os investidores. E acho que daqui para a frente ainda vai piorar", explica o autarca ao DN/Dinheiro Vivo.
Os receios de André Couto têm que ver com as medidas que a câmara tomou para responder à pressão do turismo na Madragoa, Castelo, Alfama, Mouraria e Bairro Alto. "Com o alojamento local a ser suspenso nesses bairros, Campolide vai sofrer ainda mais com o aumento dos preços. Somos a favor da limitação, mas achamos que não deve acontecer só no centro histórico, deve ser espalhada por toda a cidade e incluir a nossa freguesia. Até porque Campolide é a zona de Lisboa com mais camas de hotel. O que em termos de gestão do espaço público já torna a nossa tarefa muito difícil", acrescenta o autarca.
André Couto não acredita que haja uma "bolha" do imobiliário a pairar sobre Lisboa, nem quando se fala dos preços das casas que se estão a praticar na capital.
A freguesia de Santo António continua a ser mais cara do país. Ali, nas ruas que circulam a Avenida da Liberdade, cem metros quadrados não custam menos de 410 mil euros. Num ano o aumento foi de 80 000 euros, 800 por metro quadrado. Subindo a cidade para as Avenidas Novas, sobem também o preço das casas. A mediana está nos 3338 euros por metro quadrado, mais 905 euros do que no mesmo período de 2017. Na freguesia da Estrela os valores dispararam 34% para 3472 euros, mais 883 euros do que em meados de 2017.
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Tal como o mar que se avista da Foz, também o aumento dos preços das casas no Porto parece não ter fim. No trimestre que acabou em junho, o valor do metro quadrado subiu 24,7% no conjunto do município. Mais do que em qualquer outra parte do país. Segundo o INE, a mediana de preços no Porto está nos 1460 euros por metro quadrado. Em meados de 2017 não passava dos 1100 euros.
Os números revelados ontem voltam a colocar a zona da baixa portuense, mais concretamente a União das Freguesias de Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória, no primeiro lugar do pódio nacional do aumento dos preços das casas. O valor do metro quadrado no centro histórico disparou 43,7%, chegando agora a 1777 euros. Já no primeiro trimestre os valores daquela zona tinham subido em flecha, mais de 45%. O que significa que no início de 2017 ainda era possível comprar uma casa de cem metros quadrados na baixa por menos de cem mil euros; hoje, o mesmo imóvel custa perto de 180 mil euros.
Ainda assim, a união de freguesias do centro histórico ainda está longe de ser a mais cara do Porto. A campeã em título continua a ser a União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde. Aqui, o aumento dos preços foi, pelo segundo trimestre consecutivo, da ordem dos 20%. A mediana de preços já ronda os 2142 euros por metro quadrado. Quem conhece a zona garante que a realidade vai muito além dos valores do INE.
"Esses preços até podem existir mas é em casas usadas. O preço atual do metro quadrado das casas novas na zona da Foz, pelo menos na primeira linha de mar, ronda os seis mil euros", conta ao DN/Dinheiro Vivo Maria Ramos Pinto, diretora comercial da imobiliária Pedro Ramos Pinto, que explora a área da Foz há duas décadas. Uma ronda no catálogo na imobiliária não deixa margem para dúvidas. Um apartamento de 51 metros quadrados na freguesia chega a custar perto de 300 mil euros.
Maria Ramos Pinto explica que, além do aumento da procura por estrangeiros, nomeadamente brasileiros, há um número considerável de edifícios novos a nascer naquela zona, ao contrário do que acontece no centro histórico, onde já só há margem para reabilitar. "Só na Rua de Gondarém há pelo menos seis empreendimentos a nascer. O que para a dimensão do Porto e da zona é muito."
A diretora comercial da Pedro Ramos Pinto admite que o preço máximo, de seis mil euros por metro quadrado, tem tendência para estagnar nos próximos meses. No entanto, haverá cada vez mais zonas da freguesia a registar esse nível de preços. "A linha de procura desta zona está a alastrar para a margem do rio e aí já se começam a ver valores de cinco mil euros por metro quadrado. Em Vila Nova de Gaia, um imóvel com as mesmas características custa metade."