31 OUT 2018
31 outubro 2018 às 06h29

Campolide. A freguesia de Lisboa com mais camas de hotel quer limites ao alojamento local

Preço do metro quadrado em Campolide aumentou 700 euros num ano. Presidente da junta teme que nova lei que limita alojamento local no centro histórico faça disparar ainda mais os preços.

Ana Sanlez

A "febre" do imobiliário apanhou a boleia do elétrico 24. A loucura dos preços que começou no Chiado já chega a Campolide. Naquela que foi a parente pobre das freguesias mais ricas da capital, os preços das casas ainda estão abaixo da média de Lisboa. Mas no segundo trimestre de 2018, a par das Avenidas Novas, foi em Campolide que o valor das casas mais subiu: 37%.

O metro quadrado na freguesia que faz fronteira com Campo de Ourique e Santo António, duas das mais caras do país, já custa 2633 euros, segundo os dados revelados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). No mesmo período de 2017 o metro quadrado em Campolide custava 1922 euros. A mediana do município aumentou 23% para 2753 euros.

O disparo dos preços não apanhou André Couto de surpresa. O presidente da junta de freguesia diz que "há muito que alertou a câmara para esta situação", que, apesar de ter lavado a cara da velha Campolide, está a levar muitos dos antigos moradores a sair da freguesia por não aguentarem os novos preços.

"A forte reabilitação do espaço público nos últimos anos tornou a freguesia mais atraente e ajuda a explicar a subida dos preços. Campolide está hoje mais bonita do que muitas freguesias à volta. Por outro lado, isto também tem que ver com a saturação do centro histórico. A coroa seguinte da cidade, onde nós estamos, passou a ser mais atrativa para os investidores. E acho que daqui para a frente ainda vai piorar", explica o autarca ao DN/Dinheiro Vivo.

Os receios de André Couto têm que ver com as medidas que a câmara tomou para responder à pressão do turismo na Madragoa, Castelo, Alfama, Mouraria e Bairro Alto. "Com o alojamento local a ser suspenso nesses bairros, Campolide vai sofrer ainda mais com o aumento dos preços. Somos a favor da limitação, mas achamos que não deve acontecer só no centro histórico, deve ser espalhada por toda a cidade e incluir a nossa freguesia. Até porque Campolide é a zona de Lisboa com mais camas de hotel. O que em termos de gestão do espaço público já torna a nossa tarefa muito difícil", acrescenta o autarca.

André Couto não acredita que haja uma "bolha" do imobiliário a pairar sobre Lisboa, nem quando se fala dos preços das casas que se estão a praticar na capital.

A freguesia de Santo António continua a ser mais cara do país. Ali, nas ruas que circulam a Avenida da Liberdade, cem metros quadrados não custam menos de 410 mil euros. Num ano o aumento foi de 80 000 euros, 800 por metro quadrado. Subindo a cidade para as Avenidas Novas, sobem também o preço das casas. A mediana está nos 3338 euros por metro quadrado, mais 905 euros do que no mesmo período de 2017. Na freguesia da Estrela os valores dispararam 34% para 3472 euros, mais 883 euros do que em meados de 2017.

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Porto bate recordes

Tal como o mar que se avista da Foz, também o aumento dos preços das casas no Porto parece não ter fim. No trimestre que acabou em junho, o valor do metro quadrado subiu 24,7% no conjunto do município. Mais do que em qualquer outra parte do país. Segundo o INE, a mediana de preços no Porto está nos 1460 euros por metro quadrado. Em meados de 2017 não passava dos 1100 euros.

Os números revelados ontem voltam a colocar a zona da baixa portuense, mais concretamente a União das Freguesias de Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória, no primeiro lugar do pódio nacional do aumento dos preços das casas. O valor do metro quadrado no centro histórico disparou 43,7%, chegando agora a 1777 euros. Já no primeiro trimestre os valores daquela zona tinham subido em flecha, mais de 45%. O que significa que no início de 2017 ainda era possível comprar uma casa de cem metros quadrados na baixa por menos de cem mil euros; hoje, o mesmo imóvel custa perto de 180 mil euros.

Ainda assim, a união de freguesias do centro histórico ainda está longe de ser a mais cara do Porto. A campeã em título continua a ser a União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde. Aqui, o aumento dos preços foi, pelo segundo trimestre consecutivo, da ordem dos 20%. A mediana de preços já ronda os 2142 euros por metro quadrado. Quem conhece a zona garante que a realidade vai muito além dos valores do INE.

"Esses preços até podem existir mas é em casas usadas. O preço atual do metro quadrado das casas novas na zona da Foz, pelo menos na primeira linha de mar, ronda os seis mil euros", conta ao DN/Dinheiro Vivo Maria Ramos Pinto, diretora comercial da imobiliária Pedro Ramos Pinto, que explora a área da Foz há duas décadas. Uma ronda no catálogo na imobiliária não deixa margem para dúvidas. Um apartamento de 51 metros quadrados na freguesia chega a custar perto de 300 mil euros.

Maria Ramos Pinto explica que, além do aumento da procura por estrangeiros, nomeadamente brasileiros, há um número considerável de edifícios novos a nascer naquela zona, ao contrário do que acontece no centro histórico, onde já só há margem para reabilitar. "Só na Rua de Gondarém há pelo menos seis empreendimentos a nascer. O que para a dimensão do Porto e da zona é muito."

A diretora comercial da Pedro Ramos Pinto admite que o preço máximo, de seis mil euros por metro quadrado, tem tendência para estagnar nos próximos meses. No entanto, haverá cada vez mais zonas da freguesia a registar esse nível de preços. "A linha de procura desta zona está a alastrar para a margem do rio e aí já se começam a ver valores de cinco mil euros por metro quadrado. Em Vila Nova de Gaia, um imóvel com as mesmas características custa metade."