29 outubro 2018 às 06h16

Hamilton campeão pela 5.ª vez. Segue-se ataque a Schumacher

Piloto britânico de Fórmula 1 iguala as cinco conquistas do argentino Juan Manuel Fangio e fica a dois do recorde estabelecido por Michael Schumacher, o piloto recordista de títulos, que o inglês vai agora perseguir.

David Pereira/Lusa

Mão-cheia para Lewis Hamilton. O piloto britânico da Mercedes assegurou neste domingo, no Grande Prémio do México, o quinto título mundial de Fórmula 1 na carreira, igualando as cinco conquistas do argentino Juan Manuel Fangio.

Neste domingo, no GP do México, Lewis Hamilton controlou uma corrida muito acidentada, com muitas desistências e domínio para Max Verstappen, da Red Bull, que venceu o antepenúltimo grande prémio da temporada no Autódromo Hermanos Rodríguez. Sebastien Vettel andou atrás do holandês, mas sem nunca conseguir chegar à liderança que ainda poderia adiar o título de Lewis Hamilton, que de forma ponderada foi gerindo o lugar entre os seis primeiros. Acabou em 4.º, apenas pela quarta vez fora do pódio em 2018, e carimbou o 5.º título da carreira. Kimi Räikkönen fechou o pódio no México.

Ainda com dois Grandes Prémios por disputar (Brasil e Abu Dhabi), Hamilton sagrou-se campeão pelo segundo ano consecutivo, depois de já o ter sido em 2008, 2014 e 2015.

Aos 33 anos, Hamilton fica a apenas dois títulos do recorde estabelecido por Michael Schumacher, o piloto mais vezes campeão mundial de Fórmula 1.

"Ainda tenho muito para dar", disse antes do GP do México, no qual selou o 5.º título mundial e igualou o mítico Juan Manuel Fangio. O que quer um piloto impaciente dizer com isto, depois de se ter esquivado a todas as curvas que lhe colocaram à frente os jornalistas quanto ao seu futuro? Simples, Fangio é bom, mas o ótimo é Michael Schumacher, que mantém o recorde de títulos mundiais - sete.

Com 11 anos de carreira, em que ganhou cinco campeonatos e perdeu seis, o inglês destapou a fome competitiva. "Sinto-me incrivelmente afortunado por estar na posição em que estou, mas sinto que tenho ainda muito por fazer", sugeriu o atleta que vai completar 34 anos a 7 de janeiro de 2019.

"Muito", na Fórmula 1, significa Michael Schumacher, o rolo compressor que conquistou sete títulos. O ex-piloto que entrou em coma após um acidente de esqui a 29 de dezembro de 2013 e tem estado confinado a discretíssimos tratamentos médicos (ao ponto de ainda hoje não se saber, verdadeiramente, se o alemão irá recuperar, sequer, parcialmente as capacidades motoras básicas).

Sentimento surreal

"É um sentimento muito estranho neste momento. Quero agradecer a todos os adeptos que estiveram aqui. Quero dizer um grande obrigado à minha equipa. [Este título] não foi ganho aqui, foi ganho com muito trabalho duro durante muitas corridas. Estou com a Mercedes desde os 13 anos. Para complementar isto, como o Fangio o conseguiu com a Mercedes é um sentimento incrível e surreal", disse pouco depois de cortar a meta o piloto inglês.

"Foi uma corrida horrível. Consegui uma boa partida e fui trabalhando para subir na classificação. Não sei o que aconteceu depois disso, estava apenas a tentar trazer o carro até ao final", comentou sobre uma fase em que não conseguia rodar a uma velocidade muito elevada.

Os pilotos com mais títulos

Michael Schumacher: 7 (1994, 1995, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004)
Juan Manuel Fangio: 5 (1951, 1954, 1955, 1956, 1957)
Lewis Hamilton: 5 (2008, 2014, 2015, 2017, 2018)
Alain Prost: 4 (1985, 1986, 1989, 1993)
Sebastian Vettel: 4 (2010, 2011, 2012, 2013)

Dos karts ao penta mundial

Natural de Stevenage, cidade inglesa onde nasceu a 7 de janeiro de 1985, 29 dias antes de Cristiano Ronaldo, Hamilton apenas correu com motores Mercedes na Fórmula 1 é um dos dez britânicos campeões mundiais da elite do automobilismo.

Antes de chegar aos Grandes Prémios de F1, Lewis Carl Davidson Hamilton iniciou-se nos karts, com apenas 8 anos, em 1993. Em 1995, apenas dois anos depois, já era campeão britânico e, por essa altura, cruzou-se com Ron Dennis, o patrão da McLaren, ao qual disse, aproveitando um pedido de autógrafo, que, "um dia", queria conduzir os seus carros. Ao lado do rabisco, Ron Dennis escreveu: "Telefona-me dentro de nove anos. Veremos algo então." Não seria preciso esperar tanto.

O talento de Hamilton continuou a revelar-se a toda a velocidade, tanto que, com 12 anos, uma casa de apostas oferecia já odds de 40/1 para a sua primeira vitória na Fórmula 1 antes dos 23 e de 150/1 para o seu primeiro título até aos 25.

A conversa telefónica com Ron Dennis aconteceu em 1998, seis anos antes do previsto, e foi o patrão da McLaren a ligar ao jovem piloto, que somava vitórias atrás de vitórias, para o contratar para o programa juvenil da McLaren-Mercedes.

Hamilton chegou em 2002 à Fórmula Renault, campeonato que ganhou em 2003, para rumar, em 2004, à Fórmula 3 Euroseries. Também ganhou no segundo ano. Seguiu-se a GP2 Series e, desta vez, o triunfo aconteceu logo na estreia, em 2006.

O que há muito parecia inevitável, o seu ingresso na Fórmula 1, aconteceu em 2007, para fazer equipa na McLaren com o então bicampeão em título, o espanhol Fernando Alonso.

O impacto de Hamilton foi imediato e foi por muito pouco que não se sagrou campeão mundial na estreia, culpa de um problema mecânico na última corrida, para a qual partiu na liderança - perdeu por um ponto, para o finlandês Kimi Räikkönen.

Ainda assim, continua a ser hoje o piloto que mais pontos somou em época de estreia (109) e o que mais vitórias alcançou (quatro), recorde que partilha com o canadiano Jacques Villeneuve, sendo ainda o mais jovem líder do Mundial, com 22 anos e 126 dias.

"Tenho estado em contacto com as corridas de automóveis nos últimos 60 anos e ele é, com toda a certeza, a melhor lufada de ar fresco que tivemos. Não é só o facto de conseguir conduzir, é óbvio que consegue conduzir, mas ele é um verdadeiro piloto de corridas, consegue ver um espaço e atira-se a ele", disse então Sir Stirling Moss, quatro vezes vice-campeão do mundo.

O título chegou no ano seguinte e de novo num final dramático, que, desta vez, lhe foi favorável, no Brasil. Venceu com mais um ponto do que o brasileiro Felipe Massa (Ferrari), após uma decisiva ultrapassagem a Timo Glock, para ser quinto.

Depois de dois anos na frente do pelotão, Hamilton não conseguiu dar sequência nos quatro seguintes. Fechou sempre fora do pódio final, duas vezes no quarto lugar e duas no quinto, com um total de 12 vitórias, à média de três por ano.

Em 2013, o britânico, farto de perder, mudou de vida, mas não de motor, ao rumar à Mercedes. O ano de estreia não foi fácil, com apenas um triunfo, na Hungria, e mais um quarto lugar, no campeonato em que Vettel (Red Bull) selou o tetra.

A mudança, em 2014, para motores V6 híbridos colocou a Mercedes na liderança da Fórmula 1 e Hamilton chegou, finalmente, ao bis, depois de uma luta com o seu companheiro de equipa, o alemão Nico Rosberg, do qual só se desembaraçou na última corrida.

O domínio total da Mercedes continuou nos anos seguintes, com Hamilton a voltar a impor-se a Rosberg em 2015 e o alemão a responder na época passada, por cinco pontos, para, de seguida, anunciar o abandono da Fórmula 1.

Ao lado do finlandês Valtteri Bottas, que nunca lhe fez sombra, Hamilton dominou a edição de 2017, apesar da maior réplica do Ferrari de Vettel, que chegou a ter 25 pontos de avanço. Neste ano, voltou a dominar, alcançando o quinto título mundial com três provas ainda por disputar.