
Reportagem
Alfundão ganha nova vida quando os imigrantes largam trabalhos na vinha
Vêm da Índia, do Nepal, do Bangladesh, da Tailândia e do Paquistão, entre muitos outros países. São a mão-de-obra que o Alentejo não tem. Trabalham nos campos e vivem em contentores, mas também enchem as ruas, os cafés e os mercados das aldeias.
Mariana Reis mudou o horário do supermercado. Fechava sempre aos sábados e domingos à tarde mas, de há seis anos para cá, o estabelecimento está aberto todo o fim de semana e, à semana, só fecha quando sai o último cliente - em regra um imigrante. Começou a colocar nas prateleiras produtos desconhecidos em Alfundão (Ferreira do Alentejo), como arroz basmati, limas, gengibre e picantes fortes. E reforçou as encomendas de manga, abacaxi, whiskey, cerveja e tabaco. É que a população da vila mudou. Um terço são estrangeiros que atravessaram continentes para ali chegar e chegam a ser metade dos habitantes nos picos das colheitas agrícolas, sobretudo a vindima. Quem lá vive, muitos idosos, "acha bem". "Se não fosse essa gente que vem de fora, quem é que apanhava as frutas?"
José Santos, 79 anos, toda a vida pastor, faz a pergunta aos amigos, sentados num banco de pedra, à espera de que o dia termine. António Francisco, 60 anos, motorista, encolhe os ombros perante a importância, ou não, dos estrangeiros que têm povoado a terra, na maioria naturais do subcontinente indiano e Sudeste Asiático: Nepal, Bangladesh, Paquistão, Índia e Tailândia. Da Europa, chegam os romenos.