Tailândia. Uma massagem tailandesa ao som da poesia
Mala de viagem (175). Um retrato muito pessoal da Tailândia

Há coisas na vida em que ainda é melhor receber do que dar, a massagem é uma delas. Não direi que todas as mentes pensem assim, mas, quando se fala na Tailândia, talvez venha à ideia a massagem tailandesa. O que eu nunca imaginei é que ao mesmo tempo se podia ouvir um som calmante de fundo cruzando notas musicais com poesia. À entrada do centro terapêutico, uni ambas as mãos no meu peito, como um gesto de oração, inclinando levemente a cabeça para baixo, tocando o nariz com a ponta dos dedos. Depois deste ritual, seguiu-se o tradicional "wai", que é o "olá" tailandês. A rececionista perguntou-me se eu já tinha experimentado uma massagem ao som da poesia, embora também pudesse escolher apenas os sons da natureza ou uma música relaxante. Apostei na primeira. Podia escolher o idioma, até havia em português. No átrio, havia um Buda deitado a olhar para mim com um ligeiro sorriso, igual ao de Phra Pathom Chedi de Nakhon Patthom, mas numa escala mais pequena. O meu corpo passou ao tapete, vestido com roupas confortáveis para deixar os movimentos mais livres. A terapeuta premiu os polegares, apoiou as palmas das mãos, bem como os cotovelos e os joelhos. A energia vital começava a libertar-se e a experiência a ser inesquecível. Trata-se de uma massagem terapêutica sem qualquer outro tipo de conotação. Segundo a história escrita, a medicina através das mãos, conhecida como massagem tailandesa, é uma das quatro medicinas específicas da Tailândia: medicina com ervas, medicina nutricional, medicina manual e medicina espiritual. A massagem tailandesa, portanto, teve a sua origem na Índia, por volta do final do ano 200 a.C. Ela foi difundida verbalmente e por experiência direta através de mestres e discípulos desse tempo. O seu suposto criador, o médico Jivaka Kumar Bhaccha, era muito próximo do Buda e, segundo a lenda, ele mesmo prestava ao Grande Mestre três sessões diárias da massagem sagrada. Ele foi e é para muitos budistas uma importante fonte de inspiração e devoção. Certo é que a massagem chegou à Tailândia e tornou-se numa marca do país. Ela trata as pessoas através de movimentos suaves e longos, que desbloqueiam os nós energéticos, que são tidos como a principal causa de doenças adquiridas pelo corpo e pela alma. Durante muito tempo a prática desta massagem foi associada a atos libidinosos, o que a tornou impopular principalmente enquanto avançava pela Europa. A religião dos países ocidentais e os seus dogmas condenavam o toque, pois eram associados aos prazeres carnais considerados pecaminosos. Presentemente, a massagem vem sendo cada vez mais reconhecida e amplamente utilizada. Na Tailândia, com ou sem poesia a acompanhar, ela própria é uma inspiração, quando por vezes a coisa mais urgente e vital que se pode fazer é ter um descanso completo e repensar a vida, face àquilo em que se torna o nosso quotidiano, quando constantemente somos perpassados, manipulados, realinhados e manobrados pelas solicitações mediáticas do mundo, nem sempre positivas.
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Jorge Mangorrinha, professor universitário e pós-doutorado em turismo, faz um ensaio de memória através de fragmentos de viagem realizadas por ar, mar e terra e por olhares, leituras e conversas, entre o sonho que se fez realidade e a realidade que se fez sonho. Viagens fascinantes que são descritas pelo único português que até à data colocou em palavras imaginativas o que sente por todos os países do mundo. Uma série para ler aqui, na edição digital do DN.