Internacional
28 janeiro 2023 às 21h25

"Quando os soldados ucranianos chegarem tenho de me ajoelhar?"

Mais de 6500 russos já usaram a linha especial de rendição para fugirem à guerra. Conselheiros de Zelensky dizem esperar para breve a entrega de mísseis de longo alcance.

A linha telefónica especial "Eu quero viver" criada em setembro do ano passado já recebeu, até 20 de janeiro - a garantia é de Vitaly Matvienko, porta-voz do Departamento Ucraniano de Prisioneiros de Guerra -, mais de 6500 pedidos de rendição de russos que "muitas vezes estão na linha da frente".

Para garantir a veracidade deste serviço foram ontem divulgadas gravações das chamadas telefónicas. Numa delas, um homem, cuja voz foi distorcida, explica que lhe deram aquele número e disseram que podia ligar para se "render voluntariamente".

Quem atende a chamada, uma mulher, pergunta se já foi mobilizado ou se já está no Exército. A resposta é afirmativa: "Sim, fui mobilizado. Em breve vou ser enviado para Kherson". A seguir é-lhe pedido que vá ao Telegram, procure o chatbot "Eu quero viver" e responda ao que lhe é pedido.

Há um silêncio e o homem pergunta: "Quando os soldados ucranianos chegarem tenho de me ajoelhar? Como me rendo?". A pergunta é ignorada. A "telefonista" diz-lhe para ligar de novo "quando estiver na linha da frente". "Não estou sozinho", diz o homem. "Estou com um grupo de soldados que se querem render, mas dizem que podemos ser presos na Ucrânia por dez anos".

A explicação é simples e a mulher em momento algum altera o tom de voz: "Os que se renderem voluntariamente serão registados como tendo sido capturados no campo de batalha". O homem pede garantias de que "não serão filmados nem agredidos". A resposta aponta dois caminhos: "Asilo político na Ucrânia, Alemanha ou Países Baixos" ou dar "entrevistas" que sejam vistas na Rússia para que possam integrar as "trocas de prisioneiros" e assim regressar a casa.

Mykhailo Podolyak, conselheiro de Zelensky, citado pela AP, assegurou este sábado que Kiev e os "aliados ocidentais" estão envolvidos em negociações que classificou de "rápidas" sobre a possibilidade de fornecer à Ucrânia "mísseis de longo alcance" e "aeronaves militares" que garantem proteção aos veículos blindados prometidos por Estados Unidos e Alemanha, entre outros.

Yuriy Sak, conselheiro do Ministério da Defesa da Ucrânia, entrevistado pela Lusa, diz esperar que não se repita a demora no entendimento para o envio de tanques nem impedimentos burocráticos e refere que "esta é a maior guerra a que o mundo assistiu desde o fim da II Guerra Mundial, em que "todo o tipo de armamento é usado muito, muito intensamente".

É por isso que insiste no pedido de Kiev de "intensificar o apoio" e no envio de aviões de combate: "Vamos começar o treino de pilotos ucranianos em F-16 e outras versões de aeronaves de quarta geração. Isso garantirá que a guerra possa ser terminada mais cedo ou mais tarde".