28 FEV 2019
28 fevereiro 2019 às 06h17

Brasileiros são campeões das compras, mas são os chineses que gastam mais

Turistas angolanos reduzem compra média desde 2016. Diferenças cambiais e Brexit preocupam a Global Blue, a empresa de tax free que contabiliza as compras dos turistas estrangeiros.

Ana Margarida Pinheiro

Viajam para comprar e têm Portugal como destino de preferência. No ano passado, os brasileiros foram os estrangeiros que mais compras fizeram em Portugal, arrematando mais de um terço (34,2%) dos produtos adquiridos por estrangeiros de visita ao país. As elevadas taxas de importação impostas pelo Brasil - que correspondem a 60% do valor do produto importado - ajudam a explicar o aumento das compras no estrangeiro, que, segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), são pautadas pelo luxo e essenciais para afirmar o statu quo.

O crescimento destas aquisições acompanha o aumento de brasileiros de férias em Portugal - no ano passado, houve mais 74 500 turistas oriundos do Brasil, um aumento de 8,6% face a 2017. A par dos norte-americanos, os brasileiros foram fulcrais para compensar a perda de turistas britânicos, alemães, franceses ou holandeses.

O gasto médio de cada turista brasileiro foi de 230 euros. O valor é cinco euros acima do registado em 2017, mas insuficiente para colocar os brasileiros entre os maiores gastadores. O pódio volta a pertencer aos chineses.

Conhecidos pela sua preferência pela Avenida da Liberdade, em Lisboa, os turistas chineses gastaram, em média, 671 euros por compra, mais 4,5% do que em 2017, mas representam apenas 9% das compras. Os turistas dos EUA ainda têm pouco peso no mercado (4% das compras), mas estão em segundo na generosidade dos gastos: em média, desembolsaram 563 euros por compra. Bem lá atrás ficaram os turistas angolanos, que desembolsaram apenas 251 euros por compra, valor que continua em queda desde 2016. A redução da despesa média está diretamente ligada à economia angolana, que, apesar de uma ligeira melhoria em 2018, continua a marcar passo e é um dos fatores de alerta, diz Renato Leite, diretor-geral da Global Blue Portugal. Os turistas angolanos têm a segunda maior quota de compra - 15,6% do total.

"Aguardamos com grande expectativa aquilo que será o Plano Estratégico do Turismo de Compras, sobretudo tendo em consideração duas variáveis que nos parecem relevantes para a dinamização deste segmento no curto-médio prazo. O Brexit e as ligações aéreas diretas ao nosso país de mercados prioritários como a China, os EUA e o Médio Oriente. A instabilidade cambial global, nomeadamente nos EUA, na China, no Brasil e em Angola, a suspensão do voo direto que liga Portugal e a China e a atratividade de outros destinos poderão retirar protagonismo ao nosso país, apesar do reconhecimento internacional que nos foi dado recentemente pelos óscares do turismo."

Renato Leite lembra, por isso, que é preciso "concentrar esforços na manutenção desse bom desempenho e trabalhar no caminho da eficiência, como ferramenta para melhorar os resultados das vendas nos anos vindouros. Com tudo o que isso significa para melhorar a atratividade do nosso país como destino e como contributo para a balança de pagamentos, reforçando a nossa imagem diferenciadora assente na inovação".

O Banco de Portugal mostra que no ano passado os turistas gastaram 16 613 milhões de euros nas suas visitas a Portugal. Foram 45 milhões de euros a entrar nos cofres das empresas nacionais por dia, um novo recorde absoluto.