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Sociedade
26 setembro 2022 às 22h12

A diplomacia e a crise. Da "batalha coletiva" para "Salvar Portugal" a Coimbra na "Champions da Medicina"

Luís de Almeida Sampaio, embaixador em Berlim no período da crise da dívida e da troika em Portugal, edita o seu relato. Passos faz prefácio de 36 páginas. Durão Barroso estará na apresentação.

Rui Miguel Godinho

A intenção é percorrer "os grandes momentos políticos e económicos da vida portuguesa, alemã e europeia" nos anos da crise de dívida pública na Zona Euro e, ao mesmo tempo, de troika em Portugal. O relato é de Luís de Almeida Sampaio, embaixador e chefe da representação portuguesa em Berlim durante o governo de Pedro Passos Coelho e autor do livro Diplomacia em Tempo de Troika.

O ex-primeiro ministro é, aliás, autor de um prefácio de 36 páginas, onde, entre outros episódios, revela que antes de reverter a demissão de Paulo Portas, em julho de 2013, tentou um acordo com o então líder da oposição, António José Seguro, que foi prontamente recusado pelo antecessor de António Costa à frente do PS.

Segundo Luís de Almeida Sampaio, ter Pedro Passos Coelho a prefaciar o livro que agora edita "era fundamental". "Estamos a falar do principal ator político daquele período, que liderou o país numa altura de resgate que afetou muito o país. Só podia ter o ex-primeiro ministro a prefaciar o livro, era fundamental ter a sua perspetiva", considera ao DN o embaixador atualmente chefe da representação diplomática na República Checa, cargo que ocupa desde 2019.

Sobre o livro editado esta terça-feira, Luís de Almeida Sampaio explica que, além de relatar os anos da troika da sua perspetiva, "queria dar a conhecer aquilo que a diplomacia portuguesa faz, sobretudo em períodos de crise europeia e nacional, como aquele em que o livro se foca".

O relato feito em Diplomacia em Tempo de Troika é, sobretudo, cronológico, dividindo-se em três partes: na primeira, chamada "Salvar Portugal", é feito um relato sobre o dia-a-dia "das etapas mais difíceis da batalha coletiva, desde o desencadear da crise das dívidas soberanas europeias no final de 2009 e princípio de 2010", ou, como explica, "os anos mais difíceis do ajustamento económico e financeiro" por que Portugal passou. Na parte seguinte ("A Diplomacia Económica"), o foco é mais teórico para dar a conhecer os meandros da ação externa do Estado, antes de retomar o relato cronológico na última parte ("Vitórias Perdidas") desde verão de 2013 até às legislativas de 2015.

A apresentação, que acontece na próxima terça-feira, dia 4 de outubro, na Universidade Católica, está a cargo de José Manuel Durão Barroso, ex-primeiro ministro e ex-presidente da Comissão Europeia (CE). E a expectativa está em alta até para o próprio autor, que confessa: "Tendo em conta o papel que desempenhava na altura [Barroso era presidente da CE aquando da crise de 2010], viu a crise a nível europeu e também a acontecer no país. Por isso, partilhar a sua perspetiva é imperativo, um contributo inestimável." Mas há mais episódios a assinalar deste período, revela o embaixador, alguns deles não disponíveis neste livro. Um deles, diz Luís de Almeida Sampaio, prende-se com a inclusão da Universidade de Coimbra, bem como o centro hospitalar da cidade e as faculdades de Medicina e Farmácia, na "liga dos campeões da medicina".

"É um episódio com algum impacto. Quando a M8 Alliance foi criada pela chanceler Angela Merkel, fiz muita pressão e um esforço muito grande para que todas estas instituições integrassem a aliança, e continuam a ser até hoje as únicas instituições portuguesas na aliança. Deu-me um especial prazer e gozo em estar envolvido nestas negociações, sobretudo pelo impacto da inclusão e do relevo que isto tem para o nosso Serviço Nacional de Saúde", revela Luís de Almeida Sampaio.

Depois de abandonar funções na diplomacia em solo alemão, Luís de Almeida Sampaio exerceu funções enquanto Representante Permanente de Portugal na NATO. E é precisamente esse o foco do próximo livro do diplomata, que ainda não tem publicação à vista. "Tenho em preparação um livro sobre esses anos, sobre a NATO e as relações transatlânticas, um contributo que espero ser robusto. Se tudo correr bem, estará disponível muito em breve, com um tema que se reveste de uma importância cada vez maior", conclui.

rui.godinho@dn.pt