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23 AGO 2019
23 agosto 2019 às 00h09

Jerónimo de partida para a campanha do tudo ou nada

Lista de candidatos a deputados da CDU pelo círculo de Lisboa, com Jerónimo de Sousa novamente à frente, foi ontem apresentada. Líder do PCP dramatizou resultado eleitoral.

João Pedro Henriques

Não escapou a ninguém o tom particularmente dramático que Jerónimo de Sousa deu, ontem, à importância para o PCP da próxima campanha eleitoral: "Estas eleições são da maior importância para o futuro da vida de cada um dos portugueses e, em grande medida, decisivas na evolução da nossa vida coletiva."

O líder do PCP falava na sessão de apresentação da lista de candidatos a deputados pelo círculo de Lisboa que a CDU levará a votos em 6 de outubro próximo - lista que ele próprio encabeça, como de costume.

Para Jerónimo, a opção é simples: trata-se da "escolha entre dois caminhos: avançar no que se conquistou e responder aos problemas do país dando mais força à CDU, ou andar para trás pelas mãos de PS, PSD e CDS".

"Estamos convictos de que o povo de Lisboa e o povo português reconhecerão quão importante e útil tem sido o trabalho dos deputados da CDU e o contributo que têm dado para a solução dos problemas do país e do povo, e quão importante e decisivo é garantir o reforço da CDU para avançar e impedir que tudo o que se conquistou volte para trás."

Jerónimo de Sousa parte para a estrada sabendo que o seu partido e a coligação que lidera se saíram mal das duas eleições que enfrentaram na atual legislatura - legislatura em que o PCP protagonizou com o PEV (partido parceiro na CDU) e o Bloco de Esquerda uma inédita solução política que permitiu a um governo minoritário do PS governar durante quatro anos.

Nas eleições autárquicas de 1 de outubro de 2017, o partido perdeu dez presidências de câmara, passando de 34 para 24. Foram perdas muitas vezes pela margem mínima, o que é revelado pelo facto de, no cômputo geral, a CDU nem ter perdido assim tantos votos (passou de 552 mil votos para 489 mil, ou seja, de 11% para 9,45% dos votos).

Nessas perdas da coligação liderada pelos comunistas contabilizaram-se no entanto bastiões de sempre, o mais importante dos quais Almada. Todas as dez câmaras que a CDU perdeu foram para o PS - e na altura o partido explicou o mau resultado com questões locais, tentando portanto assegurar que nada tinha que ver com o facto de ter alinhado com o PS na geringonça.

Mas, em maio deste ano, a CDU continuou em perda - e não foi pouco. Nas eleições europeias, a CDU perdeu quase metade dos votos (45%) que tinha, quando comparado o resultado com igual eleição em 2014. Ao todo, cerca de 188 mil votos foram ao ar, transferindo-se no essencial para o PS ou para o Bloco de Esquerda. A coligação passou de 416 mil votos (e três eurodeputados eleitos) para 188,5 mil (e dois eurodeputados eleitos).

O mais relevante neste resultado é que, nas europeias, a CDU era, de longe, a formação que menos perdia com a abstenção. O número de votos da coligação entre europeias e legislativas não variava muito. Mas desta vez não foi assim. E os votos perdidos não foram só para a abstenção - transferiram-se também para o PS e para o Bloco de Esquerda.

Estes (maus resultados) explicam o facto de, ontem, Jerónimo de Sousa ter falado na necessidade de um "um significativo impulso no reforço eleitoral da CDU". Os candidatos da coligação - disse - partem "para esta batalha animados e impulsionados" e "decididos a confirmar e alargar" a "influência e representação" do PCP e do PEV, afirmando esta formação como "uma força indispensável e necessária para fazer avançar o país".

Congresso da sucessão em 2020

O momento é assim particularmente dramático para o PCP - e para o seu secretário-geral. Jerónimo de Sousa conquistou a liderança do partido em novembro de 2004. Nas legislativas anteriores, com Carlos Carvalhas à frente do partido, o PCP tinha elegido 12 deputados (6,9%). Em 2005, já com Jerónimo à frente, a CDU cresceu dois deputados (passando para 14), aumentou a percentagem (7,4%) e tornou-se a terceira maior formação no Parlamento (depois do PS e do PSD) ao ultrapassar o CDS-PP.

Daí em diante, a CDU foi sempre crescendo no Parlamento: 15 deputados em 2009, 16 em 2011 e 17 em 2015. Só que, ao mesmo tempo, a coligação foi ultrapassada pelo Bloco de Esquerda (hoje com 19 deputados) e novamente pelo CDS (hoje com 18).

Depois de chegar a secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa chegou a dizer que só planeava manter-se na função durante uns dez anos. Mas esses dez anos passaram em 2014 e o antigo operário metalúrgico continuou na liderança. No próximo congresso do PCP, previsivelmente no final de 2020, Jerónimo de Sousa, então já com 73 anos, deverá dar o lugar a alguém.

Dito de outra forma: as próximas legislativas serão as últimas consigo como líder do partido. Falta saber se conseguirá manter o resultado da coligação estável ou sairá pela porta baixa. É o próprio lugar de Jerónimo na história do PCP que estará em causa.