Desporto
22 março 2023 às 00h04

Era Martínez começa com a dúvida dos três centrais

Portugal inicia o apuramento para o Euro 2024 com o Liechtenstein, na quinta-feira. Analista Pedro Bouças crê que a seleção vai jogar com uma linha de cinco defesas, mas Paulo Madeira não compra a ideia.

Jogar ou não com três defesas centrais, eis a questão do momento na seleção nacional e que o selecionador Roberto Martínez poderá esclarecer hoje na conferência de antevisão do jogo com o Liechtenstein, de apuramento para o Euro 2024.

Ontem, nos 15 minutos de treino abertos à imprensa, foi possível ver dispostos uns bonecos estáticos em metade do campo, posicionados de forma a simular uma linha de cinco defesas. À primeira vista poderia significar que o novo selecionador ia treinar com três defesas-centrais e dois laterais subidos, mas também pode ter significado que iria treinar movimentos ofensivos contra uma linha de cinco, uma vez que é assim que a seleção do Liechtenstein joga habitualmente.

"Os bonecos não significam nada, foi para treinar exercício de passe e não teve a ver com trabalho tático, pelo que vi nas imagens do treino. Quando a bola começou a rolar os jogadores estavam em posições aleatórias, por isso... Acho que Portugal vai jogar com três centrais, mas não é por esse exercício, mas porque só assim se percebe que o selecionador tenha chamado seis defesas centrais", disse o analista Pedro Bouças ao DN.

Com Pepe dispensado por lesão, o selecionador ficou com Rúben Dias, Danilo Pereira, António Silva, Gonçalo Inácio e o estreante Diogo Leite, sendo que estes dois últimos estão habituados a jogar predominantemente em 3-4-3 ou 3-5-2 nos respetivos clubes. E é bom lembrar que nos seis anos em que esteve à frente da Bélgica, Roberto Martínez privilegiou o 3-4-2-1.

Por isso, Pedro Bouças admite que em pelo menos um dos jogos (Liechtenstein ou Luxemburgo) o sistema de três centrais será utilizado. "Estamos no início de um ciclo, de um apuramento e com dois adversários que exigem respeito, mas permitem testar algumas coisas. Independentemente do sistema tudo depende da dinâmica que se imprime no jogo, mais pressionante, controladora e com bola", explica o analista, que vê a seleção a jogar com João Palhinha e Bruno Fernandes no meio campo e Bernardo Silva mais à frente com João Félix e Cristiano Ronaldo.

O antigo treinador lembrou ainda que a seleção nacional tem dos melhores laterais do mundo e que a jogar com três centrais, Nuno Mendes leva "muita vantagem" sobre Raphaël Guerreiro, até porque está habituado a jogar nesse sistema no PSG. E, também por isso, Danilo pode ser um dos três eleitos de Martínez, juntamente com Rúben Dias e António Silva ou Gonçalo Inácio.

Por sua vez, Paulo Madeira não compra a ideia de jogar com três centrais, pois "a maior parte dos atletas convocados joga nas suas equipas com quatro defesas". Para o antigo internacional português, "as rotinas têm de ser muito grandes para jogar com três centrais", embora reconheça, que ter "centrais de eleição como Portugal tem tido nos últimos anos" ajuda qualquer sistema e qualquer técnico.

A verdade é que, a confirmar-se o sistema de três centrais, será uma rotura com o passado da seleção, afinal nunca esse foi o sistema de jogo preferencial, tendo apenas sido utilizado de forma esporádica, nomeadamente na estreia de Luiz Felipe Scolari, frente à Itália, em fevereiro de 2003, um jogo particular que resultou em derrota (0-1).

João Félix revelou que só ontem o treinador explicou as dinâmicas que pretende para cada posição, mas não quis abordar a questão do momento. "Já temos uma ideia clara de como vamos jogar estes dois jogos. Se vamos ser mais ou menos ofensivos, não sei. Acho que vamos atacar com mais gente, vamos ser mais pressionantes e vamos controlar mais tempo o jogo", disse o jogador do Chelsea antes da sessão de trabalho realizada na Cidade do Futebol.

Foi o primeiro treino com todos os jogadores no relvado, depois de, na véspera, vários jogadores terem feito trabalho de recuperação. Roberto Martínez esteve mais observador e foi quase sempre com Anthony Barry, técnico que acumula funções no Chelsea e na equipa das quinas, a assumir as rédeas do treino, que privilegiou as transições rápidas a um ou dois toques - forma muito diferente de jogar, em relação à era de Fernando Santos.

Portugal recebe amanhã, às 19.45 no Estádio José Alvalade, o Liechtenstein na estreia do Grupo J de acesso ao Euro 2024. Três dias depois, a seleção desloca-se ao Estádio do Luxemburgo para defrontar a seleção local, também às 19.45. O grupo inclui também Bósnia-Herzegovina, Eslováquia e Islândia.

Para se apurar diretamente e marcar presença na prova, que decorrerá na Alemanha, a Campeã da Europa de 2016 precisa de ficar num dos dois primeiros lugares.

isaura.almeida@dn.pt