exclusivo
16 MAR 2019
16 março 2019 às 17h35

Alfa Romeo. A equipa que fez Fangio campeão regressa ambiciosa ao Grande Circo

Passaram-se 35 anos desde a última vez que um Alfa Romeo chegou ao pódio de um Grande Prémio de Fórmula 1. Conseguirá a marca, que dominou a modalidade logo no seu início, repetir a façanha em 2019?

Ricardo Simões Ferreira

"Desde 1910", lê-se no logótipo da Alfa Romeo Racing, a scuderia que neste ano ocupa o lugar da Sauber no Campeonato do Mundo de Fórmula 1, que arranca neste domingo na Austrália. A inscrição da data da fundação da marca (a 24 de junho) visa sublinhar como as corridas de automóveis se encontram no ADN da Alfa. E apesar de a sua presença na disciplina máxima do desporto motorizado ter sido muito irregular, com mais momentos baixos do que altos, a história demonstra bem como o construtor milanês tem um merecido pedigree na modalidade, que faz aumentar as expectativas para este regresso em 2019.

Foi com o Alfetta 159 que o mítico piloto argentino Juan Manuel Fangio se tornou pela primeira vez campeão do mundo de Fórmula 1. Isto em 1951, o segundo ano em que se realizou o campeonato. Fangio viria a vencer o título mais quatro vezes, ao volante de Mercedes (1954 e 55), Ferrari (1956) e Maserati (57), mas foi ao volante de um Alfa que o argentino "das pernas tortas", como era conhecido, iniciou o percurso que lhe valeria a alcunha O Mestre.

Já na perspetiva da Alfa Romeo, a vitória na Fórmula 1 não era novidade. No ano anterior, o primeiro Campeonato do Mundo da história foi dominado pelos Alfetta 158 de Fangio e de Giuseppe Farina, tendo o italiano saído vencedor no fim da época, com apenas mais três pontos do que o argentino.

Do topo ao fundo. E para o meio

Este início auspicioso na Fórmula 1 não resultou, no entanto, numa fulgurante carreira. Logo após a última bandeira de xadrez do campeonato de 1952, as dificuldades financeiras da Alfa - que tinha entretanto sido nacionalizada - impossibilitaram o desenvolvimento de um novo carro e motor, pelo que a única solução foi o abandono da modalidade.

Seria preciso esperar mais de um quarto de século para voltar a ver um Fórmula 1 Alfa Romeo. Em 1979, o Alfa 177, desenvolvido pela Autodelta - o departamento de competição da marca - participou no Grande Prémio da Bélgica, com Bruno Giacomelli ao volante. Completou apenas 21 voltas e teve de desistir após colisão. Piloto e automóvel viriam nesse ano a participar só em mais três corridas (das 15 do calendário), tendo conseguido apenas terminar uma, em 17.º lugar.

Os anos seguintes, até 1985, viram alguma evolução, com Giacomelli a conseguir alguns pódios (três terceiros lugares e dois segundos), mas nada capaz de fazer a scuderia voltar aos tempos iniciais. A Alfa Romeo tornou-se uma equipa da "metade de baixo" do pelotão, com campeonatos marcados por muitos abandonos.

Na memória dos fãs ficam, no entanto, momentos marcantes. Um deles foi a contratação de Mario Andretti, em 1981, já então uma lenda viva do desporto automóvel - continua a ser um dos dois pilotos (o outro é Dan Gurney) que têm no currículo a vitória em provas dos campeonatos de IndyCar, WSC, NASCAR e Fórmula 1. Mas não com a Alfa.

Pelo menos fazer parecido

O último lampejo de sucesso neste período ocorre em 1984, quando Ricardo Patrese consegue levar o seu carro - então decorado com as míticas cores da Benetton - ao terceiro lugar do Grande Prémio de Itália, no circuito de Monza - perto da sede da marca, em Milão.

Passados 35 anos, a modalidade está muito diferente, a tecnologia avançou imenso (e os custos ainda mais), mas dois fatores para poder ter êxito continuam imutáveis: velocidade e fiabilidade.

A Alfa Romeo Racing nasce da Sauber, equipa suíça com historial na modalidade. Participou pela primeira vez num Grande Prémio em 1993, mas apesar de ter subido ao pódio 27 vezes, na primeira década do século com motores BMW e depois Ferrari, nunca deixou de ser uma formação da metade inferior do pelotão.

Em 2018, as coisas foram um pouco diferentes. Desde logo, a Sauber passou a ter a Alfa Romeo como patrocinador principal, no que indiciava uma maior ligação à Ferrari (Alfa e a marca do cavalinho têm os mesmos donos). Esta interação permitiu uma maior troca de know-how e engenharia, que resultou em veículos mais fiáveis e competitivos.

Outro fator chamou-se Charles Leclerc. O piloto monegasco de 20 anos, campeão de Fórmula 2, foi o rookie do ano, com prestações que lhe valeram a transferência para a Ferrari logo no ano seguinte. Foi uma troca direta de lugares com Kimi Räikönnen, que leva a sua enorme experiência (aos 39 anos, é o piloto mais velho em competição) para a nova Alfa Romeo, que deixa cair o nome Sauber.

imagem DN\2019\03\ng-7e5170f0-aaea-40d7-86ef-5aaa56ff481e.jpg

O seu companheiro de equipa é o jovem italiano Antonio Giovinazzi, que foi piloto de testes da Ferrari.

A Alfa Romeo de 2019 será assim uma espécie de "segunda equipa" da Ferrari. Com acesso a parte da tecnologia da "casa-mãe"; com dois pilotos que oferecem experiência e vontade de afirmação; mas também com o know-how da Sauber de "fazer mais com menos" (a gestão mantêm-se inalterada) reúnem-se os ingredientes para repetir, pelo menos, uma presença no pódio. Resta esperar pelos fins de semana de Grandes Prémios para ver se a receita funciona.