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16 JUL 2019
16 julho 2019 às 06h28

Ex-campeões falam de "geração fantástica" mas reclamam mais promoção do hóquei

Vítor Hugo e Filipe Santos foram campeões do mundo em 2003 e olham para o título recuperado neste domingo pela seleção nacional como uma oportunidade para uma "geração fantástica" de hoquistas portugueses. Ainda assim, olham com preocupação para o futuro da modalidade.

Carlos Nogueira

"Espero que seja o primeiro de muitos." Foi assim que Vítor Hugo, o anterior selecionador nacional a conduzir Portugal a um título mundial de hóquei em patins, em 2003, falou ao DN sobre a conquista da seleção nacional no domingo, em Barcelona, na final do Mundial, frente à Argentina. Aquele que foi um dos melhores hoquistas portugueses de sempre não esconde o entusiasmo por esta conquista, garantindo que o 16.º título mundial "assenta como uma luva" à equipa nacional, afinal "venceu os principais adversários, ainda por cima num torneio disputado em Espanha, com toda a dificuldade inerente".

O antigo defesa/médio Filipe Santos, um dos jogadores que tinha levado Portugal ao último título mundial, em 2003, acredita que estão criadas as condições para Portugal voltar a dominar a modalidade a nível mundial: "Vai depender muito do trabalho que for feito nos próximos anos, mas esta equipa é jovem e, com outros jogadores que começam agora a aparecer, podemos a aspirar a estar muito tempo no topo do hóquei mundial."

Vítor Hugo, de 56 anos, lembra que quando a seleção por si comandada, em 2003, conquistou o título em Oliveira de Azeméis, "já não era campeã do mundo há dez anos", ou seja, "foram 26 anos apenas com dois títulos" conquistados, algo que diz poder ser invertido, pois considera que existe atualmente "uma geração fantástica que vai permitir mais conquistas internacionais".

A verdade é que a Espanha conquistou seis dos últimos oito Campeonatos do Mundo, com a Argentina e agora Portugal a vencerem um cada. E é por isso que Filipe Santos considera que "é muito cedo para falar na recuperação do domínio" por parte da seleção nacional. "É certo que os espanhóis tiveram um grande ascendente nos últimos anos, mas acredito que agora existe um maior equilíbrio entre as quatro tradicionais candidatas - Portugal, Espanha, Itália e Argentina -, além de que a França já começa a ter um nível muito interessante", refere o antigo hoquista, de 43 anos, assumindo que no próximo Mundial, que se realizará em 2021, em San Juan, na Argentina, "Portugal vai participar com a vantagem de ser campeão do mundo, razão pela qual a pressão de revalidar o título será muito menor".

É preciso "promover a modalidade"

Os dois antigos hoquistas consideram que a modalidade está a passar por um bom momento no nosso país, mas essa saúde não tem tradução a nível internacional. "Quando em 1992 o hóquei não conseguiu ficar como modalidade olímpica, registou-se um enorme desinvestimento. E a prova disso é que não é normal num Portugal-Espanha, das meias-finais, o Palau Blaugrana, em Barcelona, ter estado com cadeiras vazias e havia até mais portugueses do que espanhóis nas bancadas", explica Vítor Hugo.

E, nesse sentido, diz que "o grande desafio é promover a modalidade". "Os portugueses têm esta geração de jogadores, mas a nível internacional as coisas não estão bem e é preciso refletir sobre isso... Por que razão há bons praticantes e bons espetáculos e há pouco interesse no hóquei?", questiona o antigo selecionador.

Filipe Santos considera, no entanto, que também a nível nacional é preciso "promover" a modalidade. "É verdade que atualmente até dão muitos jogos na televisão, mas é importante que se consiga fazer também um bom trabalho de marketing, para tornar a modalidade mais dinâmica e assim poder atrair grandes marcas e captar miúdos para o hóquei", defende o antigo defesa/médio. Atualmente, a Federação Portuguesa de Patinagem tem registados 7528 praticantes masculinos e femininos em todos os escalões.

No final da partida com a Argentina, que valeu o título mundial a Portugal, o guarda-redes Ângelo Girão, herói do jogo ao defender cinco bolas paradas e três grandes penalidades, reclamou mais protagonismo para a modalidade. "O futebol é um desporto de massas, mas em Portugal o desporto número dois é o hóquei. O hóquei está vivo", disparou, logo apoiado pelo selecionador Renato Garrido: "Há espaço para todos. Claro que o futebol é um mundo à parte, e nós também adoramos o futebol, mas queremos que a nossa modalidade também seja apoiada e que as nossas vitórias façam sentido. Representamos o país para elevar o nome de Portugal. Esta vitória é do hóquei, mas hoje recebi mensagens de pessoas do futebol, do basquetebol... amigos de todas as modalidades que vibram connosco como nós vibramos com eles."

2019, um ano dourado para Portugal

Além do título de campeão do mundo de seleções, Portugal teve esta época um ano brilhante no hóquei em patins, pois o Sporting sagrou-se campeão da Europa de clubes, após uma final four em que estiveram presentes FC Porto e Benfica, além do Barcelona. A acrescer a isto há o facto de o campeonato português ser considerado o melhor do mundo, algo que Filipe Santos considera ser muito importante: "A nossa seleção pode beneficiar pelo facto de Portugal ter a melhor liga do mundo. Grande parte dos atletas campeões do mundo estão nos principais clubes portugueses e atuam nas fases decisivas da Liga Europeia e isso é muito importante a nível técnico e tático, mas também competitivo."

Vítor Hugo jogou na década de 1980, altura em que "o campeonato italiano era o melhor" e "a seleção de Itália era campeã do mundo". "É importante para nós termos os melhores jogadores mundiais nas nossas equipas, isto tirando aqueles que estão no Barcelona, mas ao mesmo tempo isso reflete bem como está o hóquei a nível internacional... O nosso campeonato é muito bom e isso vai contribuir para melhorar o nosso nível, sobretudo se a formação continuar a produzir talentos", acrescentou o antigo internacional português que representou o FC Porto e o Novara.

Nesta terça-feira, às 16.00, os novos campeões do mundo vão ter mais uma cerimónia para celebrar a enorme conquista em Barcelona, pois vão ser recebidos pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém, em Lisboa.